Como sempre esse é um livro que estava na estante há um bom tempo. E que grata surpresa.
O livro “A Imperatriz de Ferro”, é de autoria de Jung Chang, que também escreveu “Cisnes Selvagens” e “Mao”, best-sellers no mundo, apesar de proibidos na China, e já escrevi sobre eles aqui na página. No Brasil, é distribuído pela editora Companhia das Letras.
Como sempre Jung Chang causa polêmica nas suas descrições dos líderes chineses. Li algumas críticas que, apesar de ela mostrar um outro lado da Imperatriz Cixi, ela continuou ocultando ou amenizando os seus defeitos, que não eram poucos. Mas os seus feitos também foram grandes.
Para mim, foi um livro que fez repensar o conceito que tinha de Cixi. Pelos demais livros que havia lido sobre ela, só se mostrava um lado de prazeres, gastos desnecessários e falta de competência na administração. “A Imperatriz de Ferro” mostra uma Cixi capaz de lutar pelos seus ideais e mudar a história da China. Realmente uma mão de ferro, determinada a conseguir o poder e manter o império sob seu comando. Claro que ela cometeu atos insanos também, mas que líder que, no final das contas, não comete. Ainda mais numa época em que eram dados ao Imperador o ‘poder do céu’!
Não dá para deixar de lado o fato dela ter conseguido abrir a China para o mundo, aceitando os estrangeiros, recebendo autoridades ocidentais e dando alguns privilégios a eles. Se hoje estamos aqui, ela teve um papel nessa possibilidade de abertura. Um ‘chute inicial’, mas teve.
Entre seus maiores feitos estão a abolição das torturas medievais que se praticavam na China na entrada do século 20, como a morte por mil cortes, e para as mulheres, o fim da prática dos ‘pés de lótus’, onde se quebravam os pés das meninas, para que eles não crescessem. Essa prática era um ritual da etnia Han. Cixi era Manchu e nunca foi obrigada a ter seus pés reduzidos.
O Último imperador
Um outro fato que o livro esclarece, e que eu tinha isso muito confuso em minha mente, é quem é, de fato, o último imperador, Puyi, imortalizado no filme de Bertolucci “O Último Imperador”.
Na realidade Cixi teve dois filhos: o primeiro com o Imperador Xianfeng, que lhe garantiu a subida ao poder, e o segundo foi adotado, filho da sua irmã, quando o primeiro morreu. Mas a sua relação com o filho adotivo era bem conturbada. Ela tirou ele do trono, e conseguiu se manter como regente por anos a fio. Guangxu, seu filho adotivo, tinha uma saúde bem debilitada, mas lutava para viver. Quando Cixi percebeu que estava no final da vida, com medo de que Guangxu entregasse a China aos japoneses, mandou matá-lo (sim, ninguém é santo, mesmo tendo feito algumas coisas boas…) por envenenamento. Assim que ele morreu, Cixi nomeou seu Grão-Conselheiro Zaifeng como sendo o regente e seu filho Puyi, que seria seu sobrinho neto, como o Imperador, após sua própria morte, que estava claramente próxima. Cixi e o filho adotivo morreram quase no mesmo dia.
Assim, Puyi, aos 2 anos de idade, subiu ao trono como o último imperador, mas já com um império devastado e próximo do fim.
Suas últimas horas de vida
Cixi trabalhou até 3 horas antes de sua morte, deixando tudo extremamente organizado para a sucessão. Inclusive seu testamento que ‘(…)recordava seu envolvimento com a China por quase 50 anos e seus esforços para dar o que ela julgava ser o melhor de si. Reiterava sua determinação de transformar a China numa monarquia Constitucional, tarefa que, admitia com tristeza no testamento, não conseguiria levar até o fim. (…)’ – trecho transcrito do livro “A Imperatriz de Ferro”.
Além disso, deixou um decreto que, apesar do Regente Zaifeng ter poder de decisão, assuntos de maior gravidade deverão ter o aval da Imperatriz –Viúva Longyu, esposa do seu filho adotivo. Isso foi considerado um ato um tanto excêntrico, já que Longyu era uma ‘eminência parda’ no Império.
Resenha
Aqui, segue, na íntegra, a resenha do website da Cia. Das Letras:
Não há dúvida de que a imperatriz viúva Cixi (1835-1908) é a mulher mais importante da história chinesa. Tendo governado o país por décadas, ela hoje é considerada a principal responsável por ter conduzido o império medieval à era moderna.
Aos dezesseis anos, numa seleção nacional para acompanhantes reais, Cixi foi escolhida para ser uma das concubinas do imperador. Quando ele morre, em 1861, é o filho de cinco anos de ambos que assume o trono. Mas a imperatriz organiza um golpe contra os regentes indicados pelo marido e passa a ser a verdadeira líder da China.
A biógrafa Jung Chang descreve com toda vivacidade a luta de Cixi contra os enormes obstáculos que precisaram ser derrubados para mudar o império chinês. Ela foi a responsável por implantar os atributos de um Estado moderno, como a indústria, ferrovias, eletricidade e novos armamentos, e mesmo por avanços como a abolição de torturas milenares e o reconhecimento dos direitos das mulheres. A autora desmonta, portanto, a visão tradicional de que a imperatriz viúva não passava de uma déspota sanguinária e conservadora.
Baseada em documentos fundamentais que só ficaram disponíveis recentemente, esta biografia veio para revolucionar o entendimento sobre um período crucial da história da China e do mundo. Narrado num ritmo rápido e envolvente, é tanto um panorama do nascimento de uma nação moderna como o retrato íntimo de uma grande mulher.
Também encontrei um artigo sobre o livro bem interessante, de Rodrigo Trespach, que você pode ler aqui.
“A história extraordinária de Cixi contém todos os elementos de um bom conto de fadas: o bizarro, o sinistro, o triunfante e o terrível.” – The Economist
É mais um livro que recomendo. Junto com os demais que li sobre sua história, dá para fazer um desenho sobre a personalidade forte e determinada dessa mulher que viveu além do seu tempo.
Zài Jián!
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Eu gostei muito da história
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Eu gosto muito da história dela, mesmo sendo uma figura polêmica por aqui.
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Eu acabei de terminar o livro, achei fascinante principalmente pela riqueza de detalhes sobre a imperatriz, é claro que é essencial saber que ninguém é perfeito, a imperatriz introduziu a china a modernidade, cometeu alguns erros e dividia opinião pública, mas até hoje qualquer líder sofre com o julgamento não é? Enfim, no geral é uma leitura excelente pois esclarece que a imperatriz viúva não é tudo isso de ruim que todos falam, vale ressaltar que trata-se de uma mulher no poder, o q torna mais fácil a “demonização” da pessoa, no final de tudo ela foi mesmo muito forte e “de ferro” para aguentar a pressão constante que vivia e os sacrifícios para conduzir 1/3 da população do planeta na época, e arrisco dizer que conseguiu com certa maestria, apesar de medidas violentas as vezes, mas como vc mesma disse, que pessoa não fica meio desorientada com tanto poder em mãos?
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Oi Giovanni,
Essa foi a mesma impressão que fiquei desse livro. Ela foi realmente uma dama de ferro, e enfrentar uma corte masculina naquela época não deve ter sido fácil.
Abraço!
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Esqueci de comentar outra coisa, rs. Há de se levar em conta também quem escreve a história e pra quem. Pra imperatriz caberia a frase “falem bem ou mal, mas falem de mim” porque ao menos os chineses não sumiram com ela da história. É muito recorrente que mulheres sejam esquecidas pelos historiadores, ou simplesmente ignoradas. As vezes, estranhamente, os grandes feitos dessas mulheres são atribuídos a homens próximos – como os maridos – que levam crédito pelo que não fizeram. É estranho pensar como a mulher, em qualquer sociedade ao longo da história, foi cortada, tratada como louca/tirana ou resumida a uma sombra. Eu falo isso porque durante os anos que estudei design fui apresentada a esse lado e, em determinado momento, foi chocante ver que alguns livros de história do design retratavam os famosos designers Charles & Ray Eames (onde Ray é uma mulher) como uma pessoa só: o Charles. Isso sem citar a história da arquitetura ou da arte, que segue a mesma linha de raciocínio. Ao menos existe um movimento de resgate dessas mulheres e, espero que cada vez mais as pessoas se questionem sobre esses pontos (ou falhas). Era só isso que queria acrescentar, rs. Abraços
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Mas a Cixi passou por isso também… afinal por muitos anos ela governou em nome do Imperador. E tudo que fez foi creditado a ele. Leia que vai entender… Abraço.
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Esse livro está na minha lista de livros pra ler. O que muitas pessoas não entendem é que é sempre preciso entender o contexto porque julgar é muito fácil, mas entender as razões requer análises. Eu já ouvi de um professor que estuda história chinesa que os chineses realmente não gostam dela. Mas eu fico me perguntando se ela realmente foi tão terrível assim (mais do que outros homens no poder) ou se as pessoas torcem tanto o nariz porque era uma mulher e havia toda uma cultura que era contra. No Brasil mesmo, em 2016, as pessoas quando querem criticar a presidenta pelos seus erros, sempre a julgam pelo gênero. Porque ela é mulher, ela erra. Porque ela é mulher, ela é péssima. Bom, só lendo mesmo pra tentar entender o que a imperatriz representou pra China e pros chineses da época, e como ela é pintada no imaginário do povo chinês atualmente. Dos livros que já leu sobre ela, por qual seria interessante começar? Abraços
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Olá Bianca,
Ela foi uma mulher forte, e teve seus erros também, suas injustiças, como qualquer pessoa no poder teria. Os chineses não gostam muito dela, pois por muito tempo foi colocada nela a responsabilidade pelo fim do Império. E claro, por ser mulher, teve um peso enoooorme. Ela mesmo, com todo o direito como governante, Imperatriz, nunca entrou na Cidade Proibida pelo portão principal, pois não queria ferir os preceitos do império e ali era o caminho do Imperador e ela era mulher. Nesse livro, esse fato é citado várias vezes. Mas vamos combinar que no final do século 19, a situação da mulher era a mesma no mundo todo!
Sobre livros, coloque na busca a palavra ‘livros’ que vão aparecer todos os que li, sobre a China. Tem mais dois sobre ela.
Abraço.
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Obrigada, Christine. Dos livros que já leu sobre a imperatriz, qual você indica pra começar a entender a história dela? A obra de Anchee Min, Pearl Buck ou Jung Chang? Abraços
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Cada um tem seu estilo Bianca, e passa a história, relata da sua maneira. Eu amei o livro da Pearl Buck, A Última Imperatriz, mas tem uma visão completamente diferente da Jung Chang, até porque os livros foram escritos em épocas diferentes. E Pearl viveu na China na época da Imperatriz. É difícil definir se esse ou aquele é melhor… Acho que se complementam no final. Abraço.
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Interessante o post,tentarei ler,obrigada pela indicação!
Estou conhecendo o blog agora,existe algum post falando sobre as universidades chinesas e o acesso de estrangeiros??
Beijos!
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Olá Vitoria,
Tem sim:
https://chinanaminhavida.com/2015/11/13/china-graduacao-do-outro-lado-do-mundo/
Obrigada pela visita. Abraço.
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A Imperatriz Cixi foi demonizada por escritores ingleses, tendo em vista que a mesma foi acusada de patrocinar a Revolta dos Boxes. Na Era Vitoriana era comum está tática de demonizar os inimigos da Rainha.
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Olá João,
Mas ela incentivou mesmo os boxers, só não imaginava o quão grave e incontrolável ficaria a situação. E os chineses mesmo tem um pé atrás com a história dela, pois acreditam que foi ela quem acabou com o Império. Hoje mesmo, uma amiga que é casada com um chinês, disse que o marido não simpatiza com a figura de Cixi. Mas toda a pessoa pública é assim. Li diversos artigos e livros à respeito dela, e todos são unânimes: há quem a amasse e que a odiasse. Vai saber! =]
Obrigada pelo comentário!
Abraço.
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oi!
bom dia por aqui! dia de sol pleno e a temperatura começando a subir!
bem verão!
delicia de post!
beijo grande para vc e familia!
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Ai ai… ja já estarei nesse forno…hahaha
Beijo
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