Voltando aos livros, e como prometi, esse é o primeiro livro de Jung Chang que também escreveu a biografia de Mao.
‘Cisnes Selvagens – Três filhas da China’ é uma autobiografia, apesar dela só entrar na terceira parte da história, já que antes conta a história de sua avó e de sua mãe. Uma história da família, diremos assim, que retrata a vida da China do século 20 através da vivência de três gerações de mulheres que passaram por situações de luxo e de extrema pobreza, de alegrias e tristezas profundas, de dor e de luta. Ela começa o livro contando a vida de sua avó, que nasceu em 1909, no final do Império Manchu, que ainda teve os pés deformados pelos costumes da época e aos 15 anos foi entregue como concubina de um influente político/militar. No meio da confusão política e administrativa por que passava a China, com a derrubada do Império e instituição da Republica (que já nasceu completamente desestruturada e logo foi derrubada), nasceu sua filha (mãe de Jung Chang).
Sua mãe, aos 15 anos entrou para o Partido Comunista e lutou avidamente pela libertação da China. No auge da revolução ela conheceu o pai de Jung e casaram-se em meio às rígidas regras impostas pelo regime. Quando a Revolução Cultural começou, Jung era adolescente e chegou a participar do Exercito Vermelho. Os pais foram considerados ‘seguidores do capitalismo’, perseguidos e torturados. Foi quando ela começou a questionar as ações do governo e a real intenção da revolução.
Esse livro foi publicado em 1991, e logo se tornou um ‘Best seller’ premiado. Foi traduzido em 30 idiomas e vendeu mais de 10 milhões de cópias. Hoje está na 18° edição, se não me engano, fora as edições de bolso, que entram numa outra contagem. Ele é proibido na China também, mas há algumas versões não oficiais vindas de Taiwan e Hong Kong circulando por aqui! =]
Li Cisnes Selvagens depois de ler a Biografia de Mao, o que de certo modo, achei que facilitou minha vida. Como não conhecia quase nada da história recente (e nem da antiga…uiiii) da China, ficou mais fácil de entender os relatos e as épocas que viveram cada uma das mulheres. Quando era citado algum fato histórico, eu já sabia do que se tratava, pois nesse livro ela cita vários fatos, mas nunca se aprofunda em explicações históricas. O foco é contar a vida de três gerações de mulheres chinesas. Claro que é a história da vida dela e da família. Ela conta como quer, mas por histórias pessoais que li em outros livros, essa não me pareceu nada absurda, como alguns críticos dizem hoje, após a biografia de Mao, que foi editada em 2005. Já citei no outro post que a biografia é muito questionada, apesar de constar uma vasta bibliografia e a autora ter demorado 12 anos para terminar o livro.
Sinceramente gostei muito do livro, independente da política, da revolução, da história estar muito ‘floreada’ ou ‘exagerada’, ele relata bem a luta de mulheres para sobreviver no século 20, como tantas outras em tempos históricos diferentes e situações diversas. É um relato apaixonado. Fico imaginando como deve ser difícil você ter que parar e organizar toda a trajetória de sua família, lembrar-se de fatos que talvez fosse melhor esquecer e ainda colocar tudo isso no papel. Esse é um exercício de auto conhecimento e aceitação pessoal sem tamanho.
Sobre a China, o livro ajuda muito a entender a relação da mulher com a sociedade chinesa. A falta de valor, o uso como moeda de troca para obter bons negócios ou parceiros (isso vamos ver em outros livros, de outros autores também), e o quanto deve ter sido difícil essas mulheres chegarem à situação social que tem hoje, pelo menos aqui em Shanghai. Sei que no interior do país, na parte mais pobre e que ainda quase não há recursos básicos como água e esgoto (sabe o sertão do nordeste brasileiro? Mais ou menos isso) ainda existe muita discriminação e condições precárias de vida. Mas o que a mídia mostra hoje é a mulher chinesa se impondo, ganhando seu espaço e mostrando que aqui, quem trabalha mesmo, para valer é a mulher! Haja visto que é uma mulher que detém a maior fortuna da China.
E também, após esse livro, mais alguma coisa sobre meu olhar para o povo chinês se modificou, se humanizou. Menos julgamento e mais entendimento. Mas isso é algo que todos os livros que li me deram um pouco, me trouxeram informações e pontos de vista diferentes, de épocas diferentes e que fez toda diferença para a minha adaptação e aceitação dessa cultura.
Zái Jiàn!
“Cisnes selvagens não e’ um livro de ressentimento e sim de sentimentos.”
Bernardo Kucinski
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Olá, Christine! Estava eu buscando na internet alguma coisa sobre este livro, que estou devorando no momento, e encontrei por acaso o seu blog.
que felicidade! acabamos de passar 1 mês de imersão chinesa em família (marido + filha de 4 anos) e o livro está me ajudando TANTO a entender vários comportamento que eu havia percebido, mas não tinha a causa. a minha percepção também é de que as mulheres chinesas são apresentadas ao mundo de uma forma – mas na verdade há um paradoxo aí, entre a mulher independente e a submissa.
Estamos em período sabático, e no momento a família está em Hoi An, partindo amanhã para Ho Chi Minh: já são 2 meses na estrada. Vou lhe dizer que gostamos imensamente da China, apesar do desafio que é viajar por aí. Só imagino morar!
Um dos lugares que mais amamos foi Jiuzhaigou e Huanlong (os parques, porque das cidades não gostamos), e Guilin e Xinping – neste último caso, amamos tudo! Eu iria adorar se você desse uma lida nos nossos posts sobre a China, para veer se concorda com as nossas observações 🙂
Talvez um dos mais especiais sobre os chineses foi este aqui: https://cuorecurioso.wordpress.com/2015/09/23/como-amar-os-chineses-indo-a-um-templo-budista/
Nos vemos no mundo! 🙂
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Olá Cristina,
Obrigada pela visita e pelo depoimento.
Se você está gostando de Cisnes Selvagens, vai amar o último livro dela sobre a vida de Cixi. Ainda estou na metade, mas mudou completamente minha visão sobre a última Imperatriz. Quando acabar vou fazer um post sobre ele aqui também.
E vou lá conferir seu blog!
ABraço e até! =]
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ah, procurarei este livro também! estou amando seu blog, a China como ela é – sempre penso que sabemos muito pouco sobre a Ásia no Brasil e pessoas como você ajudam a reduzir este gap.
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