Continuando nossa aventura pelo Rio Yantzé (já estou no terceiro artigo e não será o último!), vou contar como foi nosso segundo dia à bordo.
Só para finalizar o dia anterior, que foi a chegada e a rápida visita a Chongqing, deixamos o pier por volta das 22:00 e a cidade, como toda cidade chinesa, estava super iluminada. Um visual completamente diferente do que vimos de dia. Sempre digo que quando se visita a China tem que visitar alguns locais duas vezes – de dia e de noite, pois em muitos casos a paisagem é completamente diferente!
E Chongqing não fugiu à regra. Era tanta luz, que até os guindastes da construção próxima ao pier possuem néon! Mas o espetáculo ficou a cargo desse Centro Cultural, na foto abaixo, que estava na frente do nosso barco, com a fachada formada por centenas de telas de plasma, que vão mudando de cores ininterruptamente. Um show!
Fengdu Guǐ Chéng
Na manhã seguinte, quando acordamos já estávamos atracados num outro pier onde iríamos descer para conhecer a tal cidade fantasma.
Fengdu Ghost City ou Cidade Fantasma (丰都 鬼城 – Fengdu Guǐ Chéng) é um grande complexo de santuários, templos e mosteiros dedicados à vida após a morte localizada na montanha Ming, em Fengdu County , município de Chongqing. Ela fica a cerca de 170 km da cidade, na margem norte do rio Yangtze.
A história
A história do local possui quase dois mil anos. Ele se concentra em vida após a morte e combina as crenças do confucionismo, taoísmo e do budismo. Ela é mencionada em várias obras da literatura clássica chinesa.
Segundo a lenda, Fengdu recebeu o nome de Cidade Fantasma durante a dinastia Han, quando dois funcionários imperiais, Yin Changsheng e Wang Fangping, vieram à montanha Ming para praticar Taoísmo e no processo tornaram-se imortais. A combinação de seus nomes, Yin + Wang, significa “Rei do inferno” e que foi o início de foco do local sobre o submundo. Muitos dos templos e santuários mostram pinturas e esculturas de pessoas sendo torturadas por seus pecados.
De acordo com as crenças chinesas, os mortos devem passar por três testes antes de entrar para a próxima vida. Primeiro, eles devem passar a Ponte de desamparo e é um teste para o Bem e o Mal. Ela tem três arcos e apenas o do meio é usado para testar as pessoas. Existem diferentes protocolos para atravessar a ponte dependendo do sexo, idade, estado civil. Na ponte, os demônios podem permitir ou proibir a passagem. As almas boas estão autorizados a passar, enquanto as do mal serão empurrados para a água abaixo. Hoje em dia isso é uma atração turística e artistas caracterizados como demônios tentam impedir a passagem das pessoas mas, depois da performance, as deixam seguir em frente.
O segundo teste faz com que os mortos passem pelo Fantasma Torturador, onde se apresentam para julgamento de Yama, o rei do inferno. Nesta área existem grandes esculturas de demônios.
O terceiro teste é feito na entrada do Palácio de Tianzi onde os mortos devem ficar em uma certa pedra, em um pé só, por três minutos. Segundo a lenda uma pessoa virtuosa será capaz de fazê-lo, enquanto uma pessoa má irá falhar e ser condenado ao inferno.
Também dizem que nesse local, na Torre da cidade, os mortos poderiam ter um último olhar para a sua casa e famílias.
Bom, a vida dos mortos nessa cidade não é fácil, né?
Bem legal a história, que o guia nos contou, mas infelizmente, não pudemos ir até o templo, que fica no alto da montanha. As fotos que vou colocar aqui sobre o local, foram cedidas pelo fotógrafo do cruzeiro. Fiquei super chateada de não poder visitar o Palácio, subir a montanha e ver de perto toda a alegoria e folclore que envolve essa lenda. Mas chovia gente… chovia muito. E com isso era muito perigoso subir pelas escadas de pedra e a rolante (sim, o chinês aprendeu a facilitar a vida dos turistas) estava inativa, pois é a céu aberto.
A construção da barragem das 3 Gargantas
Após a construção da Barragem das Três Gargantas e da elevação do nível da água do rio, a cidade , que possuía 60 mil habitantes, foi alagada e reconstruída num ponto mais alto da montanha no lado sul do rio.
Por conta disso, muitos dizem que o nome ‘Cidade Fantasma’ se refere à ‘morte’ da cidade. Mas não é… Fengdu já era uma cidade fantasma há séculos!
Hoje é uma atração turística, onde vários barcos como o que eu estava, fazem uma parada estratégica.
Sendo assim, o que nos restou foi visitar a nova cidade e dois tipos de residências comuns: a de relocação, das famílias que moravam nas áreas inundadas, e as que já viviam no alto da montanha, em pequenos sítios.
Sinceramente, acho que estas visitas a casa de locais, sejam em que lugar do mundo for, são um pouco teatrais. Passeio turístico e, claro, só vão mostrar o que temos de melhor.
A cidade é toda nova e planejada, mas a aparência é meio estranha: são prédios azulejados, todos quase que no mesmo padrão. Visitamos uma feira local, bem interessante, pois é onde realmente tudo acontece nas cidades de interior. Uma mistura de secos e molhados, carnes, frutas e verduras, lojas de chá, sapatos, artigos de casa. Tudo junto e misturado. Mas, como já disse, chovia tanto, que nem pudemos nos esticar muito entre as curiosidades locais.
A primeira casa que visitamos era de relocação, e o dono dela, um senhor de 80 anos, nos explicou como foi o processo. O governo construiu as casas baseado no número de integrantes da família – lembrando que na China, as famílias moram juntas, mesmo depois do casamento dos filhos. Nas cidades grandes como Shanghai, isso já não é tão comum. Mas no interior, onde a cultura sofre menor intervenção, ainda é bem comum.
Pudemos visitar a casa, mas nesse horário, não havia ninguém nela, além do senhor que nos atendeu. O interessante é que, mesmo a casa sendo toda de alvenaria, enorme, com 4 andares, cheia de quartos e salas, o modo de viver da família é o mesmo de quem vivia no seu sítio na beira do rio. E realmente, limpeza não é um ponto forte por aqui!
A segunda casa, já era original, pois a área não foi afetada pelo alagamento. Sabe aquelas casinhas de sapé, que vemos muito no interior do Brasil, nos sitiozinhos afastados? Igual. Fogão a lenha, a simplicidade nos detalhes, poético até.
Mas… no final a guia nos chamou atenção de como a condição de vida das famílias relocadas era melhor do que as das locais, que se mantiveram na mesma casa. Isso é importante para o governo divulgar, pois toda a grande obra, como foi as 3 Gargantas e mesmo Itaipú, no Brasil, recebem milhões de opositores. E não dá para negar que tudo foi relocado e colocado em seus devidos lugares. As questões ambientais, são um outro tópico, que não vou discutir aqui.
Mais um dia navegando…
Ainda debaixo de chuva, voltamos para o barco e navegamos por toda tarde e noite todas até entrar na primeira Garganta… mas essa parte, fica para o próximo post!
Espero que estejam gostando de viajar comigo.
Zài Jián!
A viajem está uma maravilha, mas confesso que é de fato tudo muito estranho ao que estamos acostumados e sempre que vejo algo sobre, me parece que na China só vive chovendo. Chove tanto ai ou apenas coincidência?
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hahaha, estamo na estação das chuvas! Mas o que pega aqui é que o céu está sempre cinza… com chuva ou com sol. É a poluição! Abraço.
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Tá explicado então, rssss. Abraços! 🙂
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Pingback: Fengdu – a Cidade Fantasma (por China Na Minha Vida Blog) | Youlan Tours, especializados en China
Bom dia!!Estou morando em Chengdu,Você saberia me falar,se tem escolas para adultos para apreender Inglês direcionada para estrangeiros.Obrigada.
Celeste Alencar
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Olá Celeste,
Vc deveria buscar algum diretório para estrangeiros aí. Sei que há uma revista (em inglês) na sua cidade, que é voltada para o publico expat. Geralmente nessas revistas, há muitas dicas locais. Tipo escolas de idiomas, médicos, academias. Além disso tem algumas redes de escolas de inglês, como a English Town e uma outra que não lembro o nome, que atendem chineses e estrangeiros.
Talvez vc pudesse procurar por um professor particular nativo. Minha experiência é que só realmente aprendi o inglês quando tive uma professora que não falava uma só palavra em português…rs Aí tinhamos que nos comunicar e os resultados foram excelentes.
Abraço.
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oi!
bom dia!
frioooooooooooooooo! delicia de post, e as fotos
são sensacionais! o moinho de pedra, é demais!
não sei se vc gosta de polenta, mas se tiver oportunidade por ai de comprar fuba
de moinho de pedra, faça a polenta e depois me conta!
talvez vc encontre numa das suas viajens, ou talves tenha por ai!
parece que existem a venda pequenos moinhos de pedra para vc ter em casa!
vi certa vez no ALIBABA!
faltando palavras para te dizer o quanto gosto do teu trabalho!
beijo grande para vc e familia! paz!
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Olá Edson.
Foi a primeira vez que vi essa pedra de moer aqui. Fiz um vídeo, que depois público.
Obrigada pelo carinho.
Abraço
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