Na China, as pessoas comem com os famosos ‘pauzinhos’, conhecidos como chopsticks ou hashi. Mas o nome em mandarim é Kuàizi 筷子.
Eu não encontrei um nome em português para os palitos orientais, e chamar de ‘pauzinhos’ é bem estranho. Pelo que vi, o termo em japonês – hashi – ainda é o mais comum para descrever esse utensílio no Brasil. Como estou na China, prefiro adotar os nomes em inglês (mais usado entre os estrangeiros) e chinês, claro.
Kuàizi são um par de varas longas e finas do mesmo tamanho, feitos de bambu, plástico, madeira ou aço inoxidável. Mas também existem os de ouro, prata, porcelana (lindos, mas super difíceis de manusear), marfim e jade. Alguns são artesanais, com pinturas chinesas ou caligrafias nas pontas superiores ou mesmo entalhados por artesãos habilidosos (ou máquinas modernas, nos dias atuais).
História
Sua origem na China vem da dinastia Shang (1570-1045 aC). Os primeiros ‘kuàzi’ foram usados para cozinhar, ajudando a mergulhar pedaços de carne ou legumes em grandes panelas de água fervente, mas ainda não era tidos como utensílios de cozinha. O povo chinês começou a usá-los com esse fim durante a Dinastia Han.
Em tempos antigos, os kuàzi de prata eram comuns para testar se a comida estava envenenada, porque substâncias tóxicas fariam a prata ficar preta.
Como a cultura chinesa se espalhou por toda a Ásia, os kuàizi foram introduzidos nos países vizinhos através de influência cultural de imigrantes chineses, e se tornaram os ‘talheres’ oficiais dos asiáticos (apesar de cada país ou região ter suas variantes de formato material e nome para o utensílio).
A influência de Confúcio
Confúcio, o grande filósofo chinês e professor, que viveu 551-479 aC teve uma grande influência sobre o desenvolvimento e uso do kuàizi. Confúcio era um vegetariano e, como todos sabem, pregava a paz e a não-violência, acreditava que o uso de instrumentos cortantes para comer, como as facas, remetia as pessoas a situação de guerra, violência e matadouros.
Essa é a explicação que encontrei para o uso da faca ser banido da mesa asiática. Em alguns restaurantes aqui, quando a gente pede uma faca, os funcionários nos olham de um jeito meio estranho. É até engraçado de ver a reação de alguns, em especial em restaurantes bem locais onde o acesso a estrangeiros é restrito. E já presenciei casos do restaurante não ter os talheres ocidentais para oferecer aos clientes. Bom, mas estamos na China, não é?
Etiqueta e tabus
Sim, aqui também existem regras. Já escrevi sobre elas aqui no blog, mas não custa relembrar:
- Para comer arroz, leve a tigela de arroz até a boca e use os pauzinhos juntos, como uma pá. Tem que ser rápido e o movimento meio contínuo (rs), mas dá certo, acreditem!
- Usar os kuàizi para passar comida para as pessoas mais velhas demonstra respeito e amor. Bem como para as pessoas da família: filhos, esposa.
- Normalmente usamos nossos próprios kuàzi para pegar a comida das travessas e levar diretamente ao prato ou à boca. Hoje em dia, em alguns restaurantes são oferecidos colheres para fazer isso.
- Não coloque os kuàizi verticalmente em uma tigela de arroz, porque simboliza como queimar incenso, e isso é feito para cultuar os mortos.
- Não usar os kuàizi para bater ao lado de sua tigela ou prato (fazer barulho para chamar o garçom, por exemplo). É uma falta de educação extrema.
- Não chupar a extremidade e nem ‘brincar’ com os kuàzi, remexendo os alimentos que não vai comer ou tocando em outras pessoas. Também é visto como falta de educação.
Presente de casamento
Os kuàizi sempre são boas opções de presentes, até porque existem estojos lindos e extremamente requintados para esse fim.
Mas eles são especialmente dados como presente de casamento entre os chineses, pois em mandarim ‘Kuai’ 筷 significa rápido ou logo e ‘Zi’ 子 significa filho.
Literalmente quer dizer – ter filhos em breve. Por isso são bem vindos em casamentos, visto como um desejo de fertilidade.
Mas também existe a história de que com um palito você não come nada. É preciso os dois juntos para se comer. Trazendo isso para o campo das metáforas, é um bom presente de casamento pois significa a força, o poder da união do casal. Interessante, não é?
Os chineses e suas histórias.
Sempre me surpreendo com elas! E você?
Zái Jiàn!
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Olá, Cristine! Tudo bem?
Estou estudando o idioma e a cultura chinesa, cheguei no seu blog por meio de pesquisas para complementar o meu conhecimento.
Ficarei por aqui acompanhando seus textos, dicas e sugestões. Gostei da sua forma de se comunicar com o leitor, sendo transparente e sem articulações.
Grande abraço!
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Oi Willian!
Obrigada.
Sucesso no aprendizado desse idioma intrigante e lindo.
abraço
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Ótimo texto, parabéns 🎊 e sucesso
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Oi, adorei o seu post, meu marido está vendo a possibilidade de ir pra china pra Guangzhou, mas estou meio receosa.Gostaria de trocar informações com você.bjs
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Olá Cristiane, me envie mensagem através de contato, assim vai direto para meu e-mail. Abraço.
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Caramba, arroz e feijão no pauzinho é pra jedi… Rsrs… Texto bacana corroborado e complementado por esse outro da Super Interessante:
http://mundoestranho.abril.com.br/materia/como-surgiu-o-habito-oriental-de-comer-com-pauzinhos?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_mundoestranho
Abs!
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Hahaha… anos de China, dá nisso!
Valeu pela dica!
Abraço.
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oi! bom dia por aqui!
céu azul, sol a todo vapor e a temperatura menos fria!
gostei muito do post, e preciso aprender a comer com os palitos, e
mesmo para eventuais frituras, são mais práticos, se forem longos!
beijo grande para vc e familia!
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Vai treinando então… aqui os meninos comem até arroz com feijão…hahaha Beijo
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