Vejam só: isso é o que podemos chamar de ironia do destino, não é?

A taxa de natalidade no País do Meio vem caindo há vários anos e em 2021 foi a mais baixa desde 1949!

Os chineses que sempre lutaram pela derrubada da política do filho único, não aderem ao que seria a nova explosão demográfica como todos esperavam. O movimento de relaxamento começou por volta de 2010 aos casais que eram filhos únicos e tinham um filho com mais de 5 anos, depois em 2016 quando foi modificada dando a possibilidade de terem 2 filhos independente da condição e em 2020 aumentou para 3. Escrevi sobre isso nesse link.

E a ironia é que no início dos anos 2000, com um poder aquisitivo maior da população, havia uma corrida as clinicas de inseminação artificial, já que as chances de engravidar de gemeos é grande com esse procedimento e assim poderiam ter mais filhos de uma única gestação. Hoje eles podem ter 3 gestações e não querem.

Sabemos que essa é uma onda crescente entre os jovens mundo afora, mas na China surpreendeu a todos, até porque casar jovem e ter filhos, continuar a família, para que o ciclo da vida em que os adultos cuidam dos pais, que cuidam do netos, não se rompa é muito forte, uma tradição de séculos que ainda está muito enraizada (ao menos nos mais velhos…) na sociedade chinesa.

Qual a grande consequência?

Como no ocidente, vai chegar uma hora que a conta de idosos saindo do mercado de trabalho, mas ainda com uma expectativa de vida respeitável, e o numero de jovens entrando nesse mesmo mercado não vai fechar.

Esse fato é uma dor de cabeça para vários governos, mas num país que tem uma população gigantesca, que hoje está produtiva, não terá substitutos para fazer a engrenagem da economia rodar e dar condições para a aposentadoria dos trabalhadores de hoje.

E esse lance da idade de aposentadoria na China, também está sendo revisto, pois hoje os chineses encerram o “ciclo de vida produtiva” aos 60 anos, tanto que quando meu marido passou dessa idade foi muito difícil continuar trabalhando na China.

O que o governo está planejando?

Entre várias ações, duas estão sendo executadas com afinco:

1. O aumento da idade para aposentadoria (a última notícia que li em 2021 era que estavam estudando a extensão para 63 anos).
2. Oferecer incentivos às famílias com filhos pequenos e em idade escolar, com mais incentivos ao ensino infantil e também a regulamentação (e até proibição) de aulas particulares com fins lucrativos, já que isso estava encarecendo muito as despesas com educação das crianças.

Vale lembrar que os asiáticos (leia-se chineses, japoneses e coreanos) tem uma maneira competitiva de lidar com a educação dos filhos: não basta ser bom aluno – tem que ser o melhor. E nessa luta insana por fazer de seu filho (único, no caso) o melhor dos melhores, acabavam gastando quantias vultuosas em cursos extra classe desde artes, esportes, idiomas, reforço escolar e tudo mais que você pode imaginar para aquela criança se destacar das demais do seu circulo.

Dentro dessa onda competitividade insana, esses “clubs” de atividade extra classe viraram uma mina de ouro na China e um dos grandes “sinais vermelhos” para os casais terem mais de um filho.

E agora?

Bom, isso só o tempo e as ações do governo chinês irão nos mostrar, mas foram divulgados dados que a China está entrando numa grande (enorme, imensa, do tamanho da sua população) crise demográfica (quem diria…) e que 2021 será o ultimo ano em que o país teve crescimento populacional.

Agora é esperar para ver… quem sabe no próximo ano do Dragão o povo se anima (será em 2024)!

Zái Jián!