Hoje me deparei olhando o calendário e percebi que estamos quase entrando no sexto mês de 2020, sim metade do ano praticamente já se foi.
No primeiro momento pensei na conta básica de que, na realidade, só tínhamos vivido 22 dias desse ano, já que entramos em quarentena em 23 de janeiro. Depois, o meu lado chinês me lembrou que, do ano do Rato, que se iniciou em 25 de janeiro, não vivemos nada do que havíamos planejado até agora. As viagens canceladas, os cursos postergados, o consumo repensado, só listando o superficial.
Refletindo mais um pouco, cheguei a conclusão que seria injusto e talvez errado, dizer que “não vivemos”. Na realidade estamos vivendo sim, mas de um outro modo, com outras emoções, outras duvidas, outros questionamentos e, principalmente, outras prioridades.
De uma forma estranha e por uma causa abstrata (sim, porque ninguém vê esse vírus, até que ele se instale e mostre suas consequências), acabamos puxando o freio de mão de nossas vidas em alta velocidade. E o impacto está sendo devastador.
Não me interpretem mal nesse termo devastador. Quantas vezes precisamos destruir tudo e recomeçar? Quantas vezes tivemos que buscar forças, nem sabemos onde, e seguir o novo caminho?
E, o mais importante a se ponderar, nem sempre essas mudanças foram opções conscientes. Muitas foram pela força do acaso, por situações incontroláveis, decisões individuais em dado momento de nossas vidas, mas mesmo assim, sobrevivemos, nos reinventamos, buscamos outros caminhos.
Quem nunca teve que começar do zero? Reconstruir uma relação, uma situação da vida, mudar sua forma de pensar?
A diferença brutal, e que no final esta impactando todos nós, é que essa devastação está sendo coletiva. De norte a sul do planeta Terra, não há uma pessoa sequer que não esteja sofrendo de alguma maneira o impacto desse vírus.
Somente quem viveu uma situação de guerra pode dizer que passou por algo semelhante, acredito eu. E mesmo assim, uma guerra armada (as que tivemos até hoje) nunca colocaram praticamente toda a população do planeta em casa ao mesmo tempo. Não esvaziou as ruas das cidades, sem nenhum traço de violência.
Temos uma guerra diferente, que não usa armas, que não destrói casas, prédios, nem carros com bombardeios. Não vemos corpos dilacerados nas ruas.
Uma guerra que não manda soldados escolhidos entre os jovens alistados nas Forças Armadas, nada disso: os soldados somos todos nós, eu e você, nossos pais e filhos. E seu combate parte da consciência individual e coletiva de cada ser que habita essa terra, que exige de nós humildade, caridade com o próximo e resiliência.

E toda guerra tem um fim
Apesar do nosso inimigo não ter rosto e nem forma, de ser invisível aos olhos, temos certeza que ele será derrotado. Muito se pesquisa para que a cura venha, que a vacina imunize, e nos dê um momento de trégua, que possamos nos abraçar novamente e ver o mundo com outros olhos.
E de tudo isso temos, ou melhor, precisamos trazer alguns aprendizados básicos para nossa vida diária, senão não conseguiremos levantar os alicerces invisíveis que nos sustentam, consolar os que mais sofreram, ajudar os mais atingidos pela crise econômica a se reerguer, rever os valores que realmente podem fazer diferença na vida de toda a sociedade.
Precisamos, acima de tudo, levantar a bandeira da esperança, do amor e da solidariedade. Precisamos pensar no novo mundo, na forma com que nos relacionamos com a natureza, com as pessoas, com o consumo.
Precisamos de mais humanidade, mais resiliência, pensar mais no coletivo.
Precisamos sim, de harmonia.
Pode ser que nem todos sejam atingidos de forma direta, que nem todos concordem com o que escrevi, mas uma coisa é certa: de alguma forma, mesmo sem perceber, todos vamos mudar algo em nossas vidas a partir de agora.
Seremos os mesmos, mas muito diferentes do que fomos.
E, a principal reflexão que nos cabe fazer nesse momento é sobre nossos valores. Os valores que são impostos na nossa sociedade, o dar mais importância ao ser do que ao ter (e essa relação está completamente deturpada nos dias de hoje) e conseguir perceber qual seu papel por aqui. Que somos que nem uma pedra, mesmo que pequena, jogada no meio de um lago: emitimos ondas que acabarão refletindo na vida de alguém e mais outro alguém, e mais outro, infinitamente. Não dá mais para fazer de conta que não sabemos disso.
Aí sim, acredito que ao menos poderemos sair dessa mais fortes, conscientes que somos mais um nesse planeta, mas não somos sozinhos.
Enfim, sem me estender nos reflexos econômicos e até psicológicos de tudo isso, somente refletindo que nada nesse mundo acontece sem uma razão, e que nenhuma ação existe sem a reação correspondente, afirmo que esse ano marcará de forma indelével a todos.
2020 é o primeiro ano do resto de nossas vidas!

Zái Jiàn!
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Texto maravilhoso e verdadeiro. Amei!
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❤ ❤ ❤
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Costumo dizer que nosso inimigo parte de nossas próprias atitudes. O vírus nada mais é que uma “ferramenta”, “um curto com direito a choque”, “um beliscão daqueles que além doer muito, ficam roxo”. De certa forma creio eu, está servindo para nós unir como humanidade e isso deve ser assimilado e repassado daqui por diante como educação. Vai passar, assim como tudo passa.😉👍
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Perfeita sua colocação! Obrigada, e seguimos..
Grande abraço.
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