Parece tão óbvio as pessoas andarem pelas ruas da sua cidade, de seu bairro, mas em alguns casos não é nada comum. O meu é um desses. Como tenho carro, faço tudo com ele, claro , e acabamos esquecendo de usufruir das coisas mais simples que é apreciar o que se tem a nossa volta.
Sim, porque além de andar de carro, eu nunca presto atenção em nada. E hoje sei quantas coisas deixei de perceber nos últimos tempos.
Por conta de uma cirurgia que fiz no ombro no mês passado, estou sem poder fazer nenhum tipo de atividade física, nem mesmo o RPG que é praticamente parado…rs. E aqui o inverno chegando, ficar parada não dá. A única coisa que posso fazer pelos próximos 4 meses (eram 6 no total), é andar.
Então comecei a deixar o carro em casa e sair por aí com minhas próprias pernas, desbravando meu bairro, em que vivo há 5 anos, diga-se de passagem.
E começaram as descobertas, claro.
Super perto daqui de casa tem uma escola para cegos. Gente, eu passo em frente praticamente todos os dias e nunca havia reparado.
As calçadas de uma das principais avenidas são todas arborizadas e, mesmo em dias de sol, você anda tranquilamente pela sombra.
Fora que descobri um monte de mercados, lojinhas, parques e jardins, que nunca havia notado antes.
Abriram um ponte nova aqui perto, e apesar de eu ter notado que ela existia, não sabia onde ia dar. E andando me deparei com uma construção bem chinesa, que parece ser um templo e uma igreja católica, assim, quase do lado de casa.
Hoje passando por essa ponte, presenciei um grupo de senhores pescando. Mas o interessante é que a pescaria não era com varas. Era com um armação de bambu, enorme e presa nas 4 pontas uma imensa rede, que eles mergulhavam na água e retiravam mais tarde com os peixes.
Apesar de eu saber que havia esse ‘canal’ aqui perto, jamais imaginei que poderiam se reunir para pescar ali. Coisas que só estou vendo agora por ter incluído esse hábito de andar na minha vida.
Outra coisa, é que consigo perceber mais as pessoas, as coisas que acontecem, algumas que até havia esquecido, mas que me fazem lembrar que estou na China, em outro país, numa cultura completamente diferente da minha. Outras que me mostram que as pessoas são iguais em todos os lugares, como um grupo de adolescentes saindo da escola, uma mãe andando com seu bebê no carrinho e assim vai.
Mas existem percalços…
Nada é perfeito, não é?
Andar pelas ruas de uma cidade chinesa, é algo muito semelhante a ‘viver perigosamente’.
E vocês vão me entender: as motos elétricas, bicicletas e até as motorizadas, usam a calçada sem a menor cerimônia, e ainda metem a mão na buzina desesperadamente para você sair da frente, porque eles não param. O pedestre que fique esperto.
Para atravessar a rua, mesmo com o sinal de pedestres aberto (um mero detalhe), você tem que continuar prestando atenção nas motos e bicicletas e lembrar que mesmo com o sinal vermelho para os carros, os que quiserem virar à direita, não precisam parar… e viram. E se as pessoas estão na faixa, que corram.
O negócio é não olhar. É sério. Se os motoristas percebem que se está olhando para o carro, eles não param, pois acham que você os viu e são maiores, então você tem que parar. Mas se você não está olhando, significa que não viu. Então eles param. Olha, isso é mais uma daquelas coisas que só entende quem passou por aqui. É a lógica chinesa que não faz sentido para os ocidentais e ponto!
Mas a minha aventura máxima desse período, foi na semana passada que resolvi descobrir outros caminhos… Ai, ai…
Me enfiei numa rua, que depois percebi que não era rua, e sim a marginal de uma auto estrada. Gente, a calçada acabou, vinha aquele monte de motos, carros e caminhões e eu não podia voltar, pois se fizesse isso estaria no mesmo fluxo que eles, o que poderia ser bem pior (além que meu ombro operado ficaria mais exposto). E realmente eu que não deveria estar ali… O pior é que já passei nesse local centenas de vezes, mas como escrevi no inicio, a gente acaba não prestando atenção e nunca reparei que não havia calçada.
Bom, mas quanto mais andava, mais em pânico ficava, pois a marginal estava indo em direção à rodovia. E mais carros entravam e não dava para dizer que estavam numa velocidade amigável. E eu só pensando no que fazer. De repente vi a entrada (ou saída) de um condomínio que me pareceu familiar. Pensei: vou entrar e ele deve ter uma saída naquela rua linda e arborizada lá de cima.

Essa foto não é na marginal (e eu lá tinha cabeça para foto?), mas essa rua também não tem calçada. Então dá para terem uma ideia do sufoco!
O problema era passar pela guarita, afinal se um chinês recebe a ordem que não pode deixar ninguém passar sem identificação, ele não vai deixar. Ponto. Coloquei o óculos escuro novamente, aumentei o som do fone, levantei a cabeça e fui, com a maior cara de paisagem…
Claro que ele veio atrás de mim, mas continuei e ele falava, apitava e eu sempre em frente. Quando chegou bem perto, falei para ele que não entendia e comecei a falar o que eu ia fazer em português (era questão de sobrevivência, porque para aquela marginal eu não voltava mais!)… ele fez uma cara de interrogação, depois balançou a cabeça, do tipo: ah, esses laowais…, e me deixou. Ahhh, nessas horas eu agradeço a Deus por ser ‘laowai’, estrangeiro, na China!
Para finalizar, achei a saída na avenida que era segura, e fui para casa, completamente feliz e aliviada. Andei léguas, porque outra característica chinesa é que as quadras tem um quilômetro cada uma (acho eu), são enormes. E uma desviada no caminho pode te levar para locais inimagináveis (se é que essa palavra existe!)
Mas no final, estou adorando essa experiência e cada dia procuro mudar um pouco o roteiro. No final tudo sempre dá certo e, depois que passa, a gente ri!
Zái Jiàn!
Estou a viver em Pequim neste momento, e obrigada pela dica para atravessar a rua. Para mim é uma aventura sempre que tenho que atravessar uma estrada em Pequim.
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hahaha Cátia, é sempre uma aventura mesmo… mas aqui em Shanghai isso funciona bem. Abraço.
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Gostei de andar com você por esses caminhos chineses! Lembre-se de que caminhar faz muito bem.
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Sim, Regina… e a gente descobre tanta coisa… agora se não ando ao menos por 30 min, me sinto mal, hahahah meio culpada, pq deixei de fazer uma coisa que me faz bem, para o corpo e para a mente.
Beijo.
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oi! desde já torcendo pela sua recuperação.
que o ombro fique bom!
vc é ótima narrando, descrevendo suas aventuras!
no mais vc já sabe todos os elogios!
beijo grande para vc e familia!
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Xie xie, Edson… Só não vou dizer que já estou pronta para outra, pq não pretendo ter que passar por uma cirurgia dessa de novo! hahahaha.
Beijo
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É característico das pessoas dos signos de fogo não prestarem o que se passa ao seu redor. Como são intuitivos, pairam numa realidade paralela e atemporal, portanto lidar com o espaço parece-lhes uma tarefa árdua.
Lembro do caso de uma pessoa superativa e workaholic. Seus sonhos vinham lhe dizendo para desacelerar um pouco. Como a pessoa não deu ouvidos ao que seu inconsciente queria lhe transmitir, ela certo dia escorregou e teve que ficar seis meses de repouso, pois quebrara a bacia.
Um lugar gostoso de se caminhar é a Jinxiu Rd, em Pudong. Essa rua é enorme e arborizada.
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hahahaha e eu sou leão e dragão nos respectivos horóscopos. Mais fogo impossível! hahaha
E só as limitações mesmo para fazer a gente parar… mas a maturidade (para ser condescendente comigo mesma) também leva a gente a desacelerar e prestar mais atenção nas coisas…
Estou adorando essa fase!
Abraço e o livro está te esperando!
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