A ópera chinesa é famosa pelo mundo afora, mais pelo mito do que por ser realmente conhecida pelo publico. De fato ópera de qualquer lugar do mundo é algo que não é popular, apesar de todo mundo saber basicamente o que é esse espetáculo. Mas a chinesa, alem de todos os mitos e pré-conceitos da ópera, ainda é made in China. O que dá um ‘it’ a mais nessa nossa história! =]
A ópera chinesa é o tipo de drama dominante através da história da China de séculos e séculos. Acredita-se que há mais de 300 estilos de óperas, cada um com seus atributos particulares, mas sempre com alguma características e influências dos ancestrais.
Acredita-se que Qinqiang foi o antecessor da ópera chinesa, pois misturava danças e musicas folclóricas à pequenas performances. As primeiras informações palpáveis dessa prática vem de 2 séculos AC, in Shaanxi que fica ao lado do rio Amarelo. O amadurecimento e reconhecimento dessa prática como arte se deu durante a Dinastia Yuan (1279-1368 DC), com a inserção de outras performances como poesia, mímica e canto.
Mas na Dinastia Ming (1368-1944 DC) se desenvolveu um peculiar estilo chamado Kunqu, com movimentos e musica mais elegantes e puros, que se tornou a mais popular manifestação artistica na China por mais de 200 anos. Esse estilo influenciou vários outros que foram surgindo depois e foi nominado pela UNESCO em 2001 como “Obra-prima Oral e Intocável da História da Humanidade”.
Depois de 2 séculos, o Kunqu caiu na popularidade graças a nova modalidade Jingju, que tinha como patrono a côrte real, o Império, e ficou conhecida como Peking Ópera, ou Ópera de Pequim. Obvio que ela sofreu forte influencia das duas principais antecessoras, Qinqiang e Kunqu, mas com um estilo mais simplificado e a introdução de acrobacias. E apesar de ser jovem, para os padrões seculares chineses, hoje ela é conhecida como a Ópera Nacional da China.
Basicamente a Tradicional Ópera Chinesa é formada por 4 personagens, que não possuem idade ou profissão, e tem suas performances baseada na história que está sendo encenada. São eles: Sheng 生, o herói; Dan旦 , a mulher; Jing 净 , representante do mal e que pode ter 3 versões principais (vocal, atuação e acrobacia) de acordo com seu papel na história; e Chou 丑, o palhaço, que às vezes pode ser sombrio, outras espirituoso e ainda comico.
As 4 óperas mais famosas na China são: Romance for the West Chamber, The Peony Pavillon, onde a original tem 55 atos e dura mais de 20 horas, mas nos dias de hoje é sensivelmente abreviada (porque ninguém merece, né?); The Peach Blosson Fan, que levou 10 anos para ser escrita; e The Palace of Eternal Youth, que foi baseada em fatos reais de um Imperador que se apaixonou por uma concubina. Resumindo, todas são histórias de amores impossíveis no melhor estilo Romeu e Julieta, até onde consegui entender. =]
Como já era de se esperar, durante a Revolução Cultural, a ópera também foi desacreditada pelo sistema e hoje é dificil retomar a tradição com a juventude chinesa, dentro de um ambiente informatizado e sem paciência para as peculiaridades dessa manifestação artistica.
Hoje ela é apresentada em casas de óperas e no sétimo mes do calendário lunar, Chinese Ghost Festival, como forma de entretenimento aos espíritos e ao publico em geral. Uiii!
Quando são usadas as máscaras,ou a pintura diretamente na face, as cores colocadas a cada personagem, não são aleatórias. Elas tem o significado, baseado na cultura chinesa e retratam as características de personalidade e emocional dos seus personagens.
Branco é sinistro, diabólico, suspeito. Quem usa essa máscara geralmente é o vilão. E vejam que interessante, pois para nós ocidentais o branco é a cor celestial, de paz e harmonia. Só para completar, aqui se usa branco em enterros e luto.
Verde é impulsivo, violento e sem auto-controle (caracteristica importantíssima nos relacionamentos interpessoais aqui na China).
Vermelho é valente, nobre, virtuoso.
Preto é imparcial, feroz, rude.
Amarelo é ambicioso, cabeça fresca.
Azul é inabalável, firme e leal.
Como tudo que escrevo aqui, isso é somente uma pincelada na história da Ópera Chinesa, mas ao menos sabendo essa base a gente já pode entender muita coisa que se passa por aqui.
E parafraseando um professor que tenho no MBA, para se viver bem aqui você tem que aprender a língua, entender a história e a cultura. Os dois últimos são moleza… rs
Mas como Confúcio tentava ensinar a séculos e séculos atrás: ‘Conhece o passado e entenderás o futuro’, não sei se exatamente assim, porque é o que retive na memória, mas tá valendo…
Zài Jiàn!