Amar! Essa é a resposta básica de qualquer ocidental para completar a frase do titulo.
Mas claro que na China a coisa não é tão simples e obvia assim. Na realidade o amor, o sentimento, a paixão é o que menos importa nesse novo ‘negócio para garantir o futuro’, que todos têm a obrigação cultural de participar. Mas casamento é um negócio? Sim, aqui na China é quase como um ‘investimento no futuro’. Ok, vocês podem estar pensando: mas aqui no Brasil, muitas vezes os casamentos giram em torno de interesses financeiros, políticos, religiosos. Sim, claro que sim, mas geralmente isso não é publico. Não é condição. As intenções ainda são veladas pela nuvem brilhante do ‘felizes para sempre’.
Aqui não, casamento é negócio e, antes de retribuir o primeiro olhar as moçoilas perguntam quanto ganha, se tem carro, se tem apartamento, se vai ter que morar com os sogros e se ela terá que trabalhar para ajudar nas despesas. Dadas as respostas, ela pensa rapidamente se retribui ou não o olhar do pretendente. E muito depois vai ver se ele é simpático, se tem bom caráter e/ou se ela nutre ao menos um pouco de simpatia pelo rapaz.

Bicicleta: um dos quatro principais bens para garantir o casamento na década de 1970. (foto Liliane Carvalho)
Uma conhecida chino-americana, estava em duvida sobre seu relacionamento com um chinês (ela foi para os EUA com 4 anos e voltou à China com 29 anos, ou seja, tem uma concepção de amor quase ocidental), e foi desabafar com uma amiga chinesa, que achava que ia acabar com o namoro, porque não estava se sentindo feliz. Bom, ela contou que a amiga ficou indignada e disse que ela era muito sonhadora, que o namorado era um bom moço, a tratava bem e tinha um bom emprego. Além do mais poderia pagar suas contas. Então o melhor era ela parar com essa bobeira de ‘amor’, não ‘sentir’ nada pelo outro etc etc etc.
Em poucas palavras e de uma maneira muito resumida é assim que funciona a cabeça do chinês. Tanto o homem como a mulher. Sim, porque a moça que não vê as coisas assim, também é criticada pelos pais e amigos e até pretendentes. Se uma moça rejeita um pretendente (dentro dos padrões exigidos) simplesmente porque não o ama, é apontada como louca, sem juízo, que está jogando seu futuro pela janela.
Em Shanghai as coisas são um pouco menos intensas nesse sentido, mas ainda assim é forte a cultura dos casamentos arranjados, das promessas de família e dos dotes das noivas e noivos. Sim, porque além de tudo o noivo tem que ‘pagar’ à família da noiva porque levará sua filha para sempre. Aqui o costume é que as mulheres passam a fazer parte da família dos maridos, muitas nunca mais se encontram com os pais depois do dia do casamento, principalmente no interior do país. Ou melhor, acho que a exceção é Shanghai. O resto do país ainda preserva a cultura e a tradição milenar da sociedade chinesa. Agora, mesmo as familias não se envolvendo tanto quanto no restante do pais, as mulheres mais exigentes em questão de luxo e status social para o casamento são as shanghainesas. Mas aí, deixa de ser tradição cultural e podemos chamar delicadamente de interesse pessoal de TER e PODER (materialmente falando).
E como tudo é relativo nessa vida, li um depoimento de um senhor de 80 anos numa revista local, onde ele falava que nos anos 60, auge da revolução cultural eram abonados os pretendentes que possuíam um teto para dormir e o suficiente para se alimentar. Já nos anos 70, o padrão mudou, mas ainda dentro do sistema estritamente rigoroso, as moças corriam atrás dos rapazes que tinham uma bicicleta, um relógio, uma máquina de costura e um rádio. Verdadeiros abonados na época em que tudo era racionado e ainda o sistema monetário funcionava através de cupons que eram trocados pelas mercadorias. Nessa época um trabalhador ganhava 20 remembies por mês e uma bicicleta custava de 100 a 200.
Já nos anos 80 os quatro bens mais cobiçados para conquistar um bom casamento eram a televisão, a geladeira, máquina de lavar roupas e o ventilador elétrico. E da mesma forma que na década anterior, esses bens mostravam o potencial financeiro do pretendente. Os salários já haviam chegado na faixa de 130 remembies por mês, mas uma geladeira custava entre 2000 a 3000 remembies. Mas ainda assim esses ‘bens’ são extremamente singelos para as exigências das moças que buscam um marido hoje em dia. O standart agora é no mínimo um apartamento mobiliado e um carro novo, claro. Sem esse pré requisito básico não há casamento e ponto.
Ah, mas as festas e cerimônias promovidas pelas famílias são todas cheias de ritos, anéis de diamante no dedo (dentro da melhor tradição americana da noiva usar o anel de compromisso), envoltas em glamour e clima romântico para os ‘pombinhos’ apaixonadamente interesseiros! =]
Zái Jián.
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Minha namorada é chinesa, e a desanimador saber disso sem falar que a família e amigos fazem muita pressão pra ela terminar comigo, principalmente por eu ser estrangeiro, mas mesmo assim ainda continuamos juntos, o problema é esse casamento chinês que é ridiculamente caro, Deus do Céu. hahahahhha
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Sim, é verdade Endrio. Mas talvez ela mude de ideia em relação a isso, não é? Afinal, vc não é chinês, e num relacionamento assim, as duas partes tem que ceder um pouco e chegar num acordo. Abraço
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