Já faz um tempo, assisti uma palestra sobre as minorias chinesas. Acho que já falei algo sobre isso no blog, mas sempre é bom reavivar a memória.
Ouvi e vi muita coisa interessante, que não sabia ou só havia ouvido falar. E como o assunto me fascina, o palestrante poderia ter falado por horas a fio, que nem ia ligar, mas acabou depois de 2horas e meia. Realmente nem percebi o tempo passar.
De todas as informações que recebi a que mais me chamou a atenção foi a questão da nacionalidade. Isso é tão básico para nós, ocidentais, tão simples. Qual é a sua nacionalidade? Sou brasileira. Podemos até falar que somos descendentes de espanhóis, alemães, portugueses, árabes. Não importa, a nacionalidade é brasileira e ponto.
Uma população imensa
Isso não acontece na China. O que torna o conceito de nacionalidade muito estranho para os nossos padrões de lógica (só para variar). Como já escrevi a China é imensa em área e em população. Oficialmente são 1,3 bilhões de pessoas (dados paralelos indicam mais de 1,5 bilhões), que estão divididos em 56 etnias, sendo 55 consideradas ‘minorias étnicas’. Isso porque 88% dessa população pertence a etnia ‘Han’.
Se você faz contas rápidas, pode notar que praticamente 10% da população da China é minoria étnica, que dá um número em torno dos 130 milhões de pessoas (usando os dados oficiais). Para os números chineses isso é uma agulha no deserto, principalmente se levarmos em conta que esses 130 milhões estão divididos em 55 minorias. Mas se pensarmos em termos mundiais, essas minorias ainda representam muito mais do que a população do Reino Unido, por exemplo, que está em torno de 63 milhões de pessoas.
Qual a nacionalidade na China?
Mas e o que a nacionalidade tem haver com isso? Para a população da China, nacionalidade é a sua etnia. Então na China há 56 nacionalidades diferentes! E quando eu parei para pensar nisso, consegui entender um pouco essa coisa deles de segregação e preconceito com quem não é han, ou quem não é de Shanghai, que vem do interior, porque provavelmente são de minorias étnicas e não são considerados a raça pura chinesa, mais ou menos isso…

Me lembro que em Chang Chun, havia uma grande discriminação com as pessoas mais escuras e de feições mais rudes, que são minoria mongol ou manchú (Manchúria). E o sonho de consumo de todo o chinês é um ‘passe livre’ para Shanghai! Já explico…
Como é a documentação das pessoas
PASSAPORTE – por ser um documento internacional, todos são iguais e nesse caso a nacionalidade é ‘chinesa’.
ID CARD– que é o nosso RG – aí eles tem a verdadeira nacionalidade no conceito chinês: Han, Manchurian, Hui, Miao, Uygur e assim vai! Esse é o documento mais importante para o Chinês.


HUKOU – esse documento funciona como um ‘green card’ americano (a grosso modo), mas é para poder se fixar em outra província dentro da China mesmo. Por isso usei o termo ‘passe livre’ lá em cima. Essa é outra peculiaridade da administração chinesa. No Brasil, se resolvemos mudar para outra cidade, outro estado, simplesmente vamos, arrumamos emprego e moradia, contratamos o caminhão de mudanças e mandamos um cartão, email ou whatsapp para os amigos avisando o novo endereço e localização geográfica. Aqui não. Ninguém pode se transferir de cidade ou região simplesmente. Eles precisam ter autorização do governo, que emite esse documento. Sem isso o cidadão não conseguirá atendimento médico, escola, auxilio do governo (se for o caso), nada. Ele se torna um ‘imigrante ilegal’, como qualquer estrangeiro que está aqui sem Visto.
Na realidade o Hukou funciona como um passaporte interno, onde são registrados dados da família, as datas de nascimentos, casamentos, divórcios, óbitos. E esse documento não é invenção da nova China, não. Existe desde as mais remotas dinastias. Claro que os objetivos e a utilização desse documento foi sofrendo inúmeras transformações, mas sempre houve na China esse ‘registro de família’.
Há muitas polêmicas em relação a esse sistema, mas o governo ainda é muito reticente em aboli-lo, apesar de já haver relaxado muito suas regras. A maior preocupação seria a migração em massa das pessoas que vivem em áreas rurais e/ou em regiões menos desenvolvidas, para Shanghai, Beijing ou outra região que poderia oferecer melhor qualidade de vida.
Vale dar uma refrescada na memória: na China vivem 1.400.000.000, um bilhão e quatrocentos milhões pessoas. Imaginem uma migração em massa, que proporções podem alcançar! E no Sudeste e Sul do Brasil sabemos bem o que significa migração em massa, mas as proporções não chegam nem perto.
Zài Jiàn!
Nossa! Eu amei essa matéria. Gostaria de saber mais. É muito esclarecedor e nos faz refletir sobre vários aspectos da vida no ocidente e aí nesse país tão populoso, mas que eu sou completamente apaixonada.
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tem muita coisa interessante na cultura chinesa que poderíamos repensar no ocidente. abraço.
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