Quem gosta de chá realmente vai se encontrar na China. A variedade de aromas, sabores e até texturas é incrível. Além do detalhe que tudo que envolve o chá, tem um charme todo especial: os bules, as xícaras e os acessórios usados, com materiais que vão do ferro, madeira, cerâmica até a mais fina porcelana. É de enlouquecer até aqueles que não apreciam muito a bebida, mas duvido que não se renda a beleza da tradição com todas suas nuances.

caractere antigo para a palavra chá.
Só que, nesses quase 12 anos que a China está na minha vida, nunca havia participado de uma cerimônia de chá. Sim, já tomei muito chá por aqui… mas não numa casa de chá chinesa, com todos os apetrechos e ritos que envolvem essa prática. Uma frustração, claro.
Quando fizemos o passeio a Fengjing, semana passada, a Yolanda, pessoa que organizou tudo, me disse que ela também organizava grupos para a cerimônia do chá! Opa… na hora já me empolguei e, aproveitando que tinha muita gente junta, já acabamos o dia com outra atividade sobre a cultura chinesa agendada para breve. E um grupo que era de 6 pessoas, se tornou de 14. Afinal, todo mundo tinha mais uma amiga que não estava presente naquele momento.
Nos divertimos bastante e juro que nunca tomei tanto chá num período tão curto. Não consegui nem almoçar!
A cerimônia
O local onde a Yolanda nos levou, é uma casa antiga, em Jing’an, com bastante influência europeia na fachada. Mas termina aí. O interior da casa é completamente chinês, com peças maravilhosas vindas de várias partes da China, um misto de museu e antiquário que me deixou fascinada.
Nossa primeira atividade foi conhecer todos os espaços.
Depois fomos para um grande salão, onde tinham vários pratos com água morna e toalhas ao lado, para lavarmos as mãos.
Só então fomos para a sala onde seria realizada a cerimônia.
Já na sala, sentamos em volta da mesa, e havia uma moça que cuidava de preparar o chá e explicar os detalhes de cada um. Outras duas ficavam atrás dela e assim que o chá ficava pronto, elas serviam cada uma de nós.
Também serviram algumas ‘comidinhas’ que acompanham o chá.
O que foi servido
No total nos serviram 6 tipos de chá e 4 acompanhamentos.
Os chás foram:
Amarelo – de Mengding, Sichuan, que tem propriedades para ajudar na digestão e acelerar o metabolismo. O que bebemos é o Meng Ding Huang Ya -蒙頂黃芽, uma das variações do chá amarelo. Na dinastia Tang era só consumido pelo Imperador.
Branco – de Fujin, Fujian. As propriedades são medicinais, quente e frio, ajuda a reduzir o calor corporal, detox. Tomamos o Fu Ding Bai Cha – 福鼎白茶.
Preto (ou escuro) – de Ya An, Sichuan. Melhor se consumido no verão, ajuda a baixar a glicose, controla o gordura e pressão corporal. Wen Cheng Zang Jin (não encontrei os caracteres).
Vermelho – esse é o ‘nosso’ chá preto – de Pu’er, Yunnan. Ele é quente, melhora o metabolismo. Dian Hong – 滇紅茶
Oolong com osmanthus – de Nantou, Taiwan. O osmanthus é um pouco amargo, ajuda na expectoração. Junto com o Oolong, é bom para melhorar fadiga, refrescar e… perder peso! Gui Hua Wu Long – 桂花乌龙茶
E os acompanhamentos:
São tipo de bolinhos, uma que parecia uma massa folhada rechada de rosas (sinceramente não gostei, pois o sabor me lembra perfume); um outro que tinha aparecência de uma pamonha dura e branca (não era ruim); mais um com o nome de钱塘 酥, QIANTANG, feito com feijão branco (apesar dele ser amarelo!); o ultimo é 宫廷 酥, Gōngtíng sū, bolo de palácio, feito com alga e porco desfiado (apesar de terem nos dito que era vegetariano). Por incrível que possa parecer, esse último foi o que mais gostei.
Chá secreto
Song Tang – chá da dinastia Song. Não nos disseram de onde é o chá, mas que ele é feito na casa, com uma receita secreta! Na realidade um ‘master’ de chá, há alguns anos (40 ou 50 pelo que entendi) começou a fazer experiências com as ervas com intuito de curar o cancêr de sua mãe. Reza a lenda que ela viveu muitos e muitos anos.
Para fazer esse chá especial e caríssimo, eles abrem a tampa de um pomelo e limpar toda a polpa da fruta. Depois colocam as ervas bem prensadas dentros, fecham e amarram com barbantes. Ferve e seca 9 vezes e no final ele fica semelhante a uma abóbora.
Curiosidades sobre a cerimônia do chá
- A água é o ingrediente mais importante do chá. Não adianta ter ervas especiais e caras, se a água não for boa o suficiente para fazer a infusão correta.
Por isso a água é chamada de ‘mãe do chá’ e o bule é o ‘pai’. Ambos são essenciais para que o chá fique perfeito.
- A ‘Spring water’, ou água das montanhas é a melhor água para chá.
Há um bule grande, à direita de quem prepara o chá, que serve somente para se esquentar a água. Ele pode ser de louça, vidro ou ferro.
- Essa água quente é jogada dentro do bule (o melhor é o de argila) onde será feita a infusão. Descarta-se essa água e coloca a erva dentro do bule quente. Tampa o bule e, segurando com as duas mãos, sacode o mesmo para o aroma da erva se espalhar dentro do recipiente. Só depois se coloca a água quente junto com a erva para a infusão acontecer.
O bule mais correto para se preparar o chá é o紫砂壶 zisha, de argila (clay em inglês).
- Sempre ouvi dizer que se devia ‘lavar’ a erva, ou seja, jogar a água quente por cima dela e descartar essa água. Então colocar uma segunda água e aí sim esperar o tempo correto de infusão. Mas as moças nos disseram que isso só se faz com chás menos nobres, que não tem a pureza daqueles que estávamos tomando. Chic, né?
Segurar o bule também tem toda uma técnica: homem segura a tampa com o polegar e a mulher com o indicador.
- Para as mulheres o chá não pode ser muito forte, então o tempo de infusão antes de servir é menor.
Para homens o chá tem que ser mais forte, porque os chineses bebem e fumam muito e um chá fraco não teria sabor para eles. O tempo de infusão, nesse caso, é maior.
- Quando se recebe o chá, na sua pequena xícara, bate- se com os dois dedos (indicador e médio) duas vezes na mesa: quer dizer – obrigada!
Se coloca num bule cerca de 8 gramas de erva para um chá para 6 a 8 pessoas. Pôde-se colocar água 10 vezes na mesma erva, mas a terceira água é a mais saborosa.
- A postura é essencial, não se deve ficar largado na cadeira, por exemplo, e os assuntos durante a cerimônia devem ser sobre arte, flores ou caligrafia. Somente coisas que enobreçam.
A bebida dever ser consumida sempre em pequenos goles. Com as pontas dos dedos de uma das mãos, segurar a xícara e a outra mão servindo como apoio.
E foi assim…
Foi uma experiência maravilhosa e, eu pelo menos, quero participar novamente. Talvez em outro local, pois acho que cada um deve ter suas características próprias. No final, conhecer mais um pouco dessa intrigante arte. Sim, porque mais que tradição, o chá também envolve arte, reflexão e beleza.
Mais uma experiência chinesa para dividir com vocês!
Zái Jián!
Gostei…quero q entrar em contato com a Yolanda, qdo for ai….bjs
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pode deixar!
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Olá, e qual é o endereço ou nome desse local?
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Oi Brenda,
Eu não sei o endereço, e também o local não era uma casa de chá aberta. No texto tem o contato da Yolanda, que nos levou lá.
Abraço.
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mas, mas… e qual o tempo de infusão ?? kkkk
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Oi Aristóteles…esqueci de colocar. Geralmente de 3 a 5 minutos. Depende se quer o chá mais forte ou fraco. A primeira infusão é mais rápida. As demais, usando a mesma erva, precisa de um pouco mais de tempo.
Abraço.
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