Há 9 anos atrás, quando chegamos por aqui, em Chang Chun, norte da China, as opções de um bom vinho eram bem restritas. No supermercado só havia as garrafas de ‘Great Wall’, vinho (ao menos era o que estava escrito no rótulo) chinês. Importado havia dois rótulos somente. Entre eles o ‘Casillero del Diablo’, que acabei batizando de ‘vinho de Chang Chun’, afinal foram 4 anos de fidelidade imposta! rs. No hotel internacional, o único que havia na época, às vezes podíamos encontrar alguma variedade com mais 2 ou 3 rótulos. Mas isso se explica pelo baixo consumo de vinho entre os chineses, que não possuiam esse hábito.
Mas quando chegamos a Shanghai a realidade mudou bruscamente para melhor! =]
Em 2008/2009, havia dois supermercados de produtos internacionais e o Carrefour estava ampliando sua sessão de importados também, incluindo a área de vinhos. Chilenos, Espanhóis, Franceses, Australianos. Aqui se encontrava de tudo. Hoje tudo está expandido. Já perdi as contas de quantos novos mercados voltados aos produtos importados abriram em Shanghai e sei que Chang Chun já possui uma variedade maior de vinhos, hotéis internacionais e pequenos estabelecimentos onde há uma oferta de produtos ocidentais.
Claro que o Great Wall e seus companheiros chineses continuavam nas prateleiras. Sinceramente, temperar carne foi o máximo que consegui fazer com as garrafas que o Mário ganhava na empresa. Mas o chinês não tinha muito conhecimento nem paladar para o vinho.
Só que nesses últimos 5 anos a realidade aqui na China mudou muito (em vários aspectos, mas vamos nos ater ao consumo de vinhos). O chinês passou a se interessar por essa bebida que atrai tanto os laowais e ajudou o mercado vinícola mundial a ver a China com outros olhos.
A VINEXPO, uma mostra mundial de vinhos e organizadora de um estudo global sobre o consumo de vinhos realizado pela empresa Britânica de pesquisa IWSR, mostrou que os números mais interessantes em termos de crescimento de produção e consumo estão no mercado chinês.
A China ocupa hoje o sexto lugar como produtor mundial de vinhos, passando a frente da Austrália no ranking. Além disso, é o vigésimo país consumidor (per capita) de vinho no mundo. Um crescimento de 133% de 2007 até 2012. Outro dado é que 91% desse consumo é de vinho tinto.
Baseando-se no valor gasto com esse consumo, os números no mesmo período subiram 187%, levando a China para o quarto lugar nesse quesito. As previsões dessa pesquisa é que até 2016 a China passe ao segundo lugar, deixando para trás França e Reino Unido, só ficando atrás dos Estados Unidos.
Os números referentes à importação subiram em 367%, tornando-se o quarto maior importador de vinhos do mundo. Mas mesmo assim, por enquanto, o ‘Great Wall’ não perdeu a liderança massiva, já que todos esses números de importações no final representam somente 19% do total de vinhos disponíveis no mercado chinês.
Por outro lado, os chineses estão tentando importar a tecnologia e as uvas e produzir um vinho nacional de melhor qualidade e, segundo o texto abaixo de autoria de Fábio Carriço de Souza, sommelier brasileiro que vive em Shanghai, podemos notar que os esforços estão começando a surtir efeito. Quem diria: China produzindo vinhos de qualidade.
“Ningxia é uma província pequena e pobre, localizada aproximadamente 800 km a oeste de Pequim. Até recentemente, Ningxia era mais conhecido por suas montanhas inóspitas e desérticas, pelas criações de carneiros e bagas goji ou “goji berries”; mas o governo local convenceu-se de que o futuro de Ningxia reside em vinho.
No final de 1990, o Gabinete de Gestão Agrícola de Ningxia entrou em ação, transformando o deserto entre o Rio Amarelo ou “the Yellow River” e as encostas das montanhas Helan em uma região com potencial para produção de vinhos, através de uma aplicação adequada de irrigação, cultivo de cobertura e o uso de máquinas para terraplanagem.
Com relação aos vinhos hoje, de um modo geral são balanceados, frescos, frutado e com boa acidez natural, um teor alcoólico por volta de 13%. Praticamente em toda a China, um dos cortes mais famosos e a composição das uvas Cabernet Sauvignon e Merlot, mas uma especialidade de Ningxia e a variedade de uva que eles chamam de Cabernet Gernischt ou, às vezes, apenas Cabernet G.”
E ainda cita algumas vinícolas da região:
”Vinícola He Lan Qing Xue, Jaibeilan Grand Reserve 2009. He Lan Qing Xue, propriedade administrada em conjunto com a associação local oficial de vinho e por aqueles que trabalham lá. Desde do inicio em 2005, vem sendo muito bem assessorada pelo respeitadissimo escritor, critico e juiz de vinhos, Professor De Mei Li da Universidade de Pequim “Beijing University of Agriculture”. Jia Bei Lan Grand Reserve 2009, 80% Cabernet Sauvignon, 15% Merlot, 5% Cabernet Gernischt, foi premiado pela revista Decanter em 2011, um vinho elegante e sofisticado, se mostra, acima de tudo, completo e suntuoso, com uma acidez vibrante e um final redondo e persistente, destacando a grande complexidade.
Vinicola Silver Heights, Emma’s Reserve 2009. Silver Heights e liderado por Emma Gao, que possui Diploma Nacional em Enologia de Bordeaux, França é uma das poucas enólogas chinesa na indústria. Emma aperfeiçoou suas habilidades durante estágios com renomados Chateus em Bordeaux – Chateau Calon-Segur e Chateau Lafon-Rochet. Emma’s Reserve 2009, 100% Cabernet Sauvignon (ao contrário da maioria de seus vinhos que utilizam a combinação das uvas Cabernet Sauvignon e Cabernet Gernischt). Muito rico e maduro, de textura aveludada, sabor de frutas vermelhas e especiarias picantes e doces dando um final interessante.”
Então está ai: mais um desafio aceito pela China – se tornar um consumidor e produtor de vinhos de qualidade, subindo no ranking mundial ano a ano.
No caso do consumo, acho bem provável que cheguem ao topo muito rápido. Mas produção… sei lá. Mas como aqui as coisas surpreendem e estarrecem qualquer cético dia após dia, vai saber o que nos aguarda, não é mesmo? Eu, por enquanto, prefiro continuar no importado. =]
Cheers!
Zái Jiàn!
Achei bem interessante saber desse gosto chinês pelo vinho 😀 Até pq, eu já li que os asiáticos não possuem a capacidade de quebrar as moléculas de álcool que consomem como os ocidentais e por isso, muitos deles ficam vermelhões e bêbados mais rápido rs. Depois que conheci um empresário de Taiwan que mora na China há anos, eu coloquei essa questão a prova pois, ele bebia vinho que nem louco e parecia bem melhor do que os ocidentais da mesa hehehe
Bjs!
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PS: Eu gosto do Casillero! Haha
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Também adoro, Tati… só fiquei meio traumatizada…hehehe
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Chris, acho que o hábito de tomar vinhos não é algo oriental e sim um hábito adquirido (como os queijos e chocolate). Aqui, em Manila, ainda temos dificuldade em ir a um restaurante e tomar um bom vinho (em geral, eles tem o gosto de vinagre – bom para temperar carne! Haha)! Nos mercados, no entanto, podemos encontrar sim alguns vinhos de qualidade razoável! Mas, pela temperatura, ou tomamos a garrafa em um ou dois dias (acho que não… Hehe!), ou temos que deixar o tinto na geladeira… (sim, pecado!)
Mas os números que você mostra são, de fato, impressionantes! O aumento das importações e, principalmente, o esforço em aumentar a qualidade dos vinhos. Mas uma coisa que sempre admirei dos chineses (que é o mesmo que os japoneses) é que se eles querem ser bons em alguma coisa, eles estarão entre os melhores! Mesmo com o “I’ll try to do my best”! Haha!
Um beijo!
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