O que os chineses realmente desejam?

Na cultura chinesa, felicidade não é apenas um sentimento passageiro.
É um ideal de vida — construído ao longo do tempo, guiado por valores ancestrais e desejado em cada detalhe: da caligrafia nos murais aos votos de um feliz e próspero Ano Novo.

Entre os ensinamentos mais antigos do pensamento chinês estão dois conceitos que revelam o que se busca… e o que se evita:
As Cinco Felicidades (五福, wǔ fú) e
Os Seis Extremos (六极, liù jí).

Eles não são apenas expressões antigas. São o reflexo de uma visão de mundo que valoriza a harmonia, o equilíbrio e a virtude.
Vamos entender o que cada um significa?

As Cinco Felicidades – 五福 (wǔ fú)

Desde tempos remotos, o povo chinês deseja “wufu linmen” (五福临门) — que as cinco felicidades batam à porta. Elas são:

1. Longevidade (寿, shòu)

Mais do que viver muito, é viver com saúde e dignidade. O ideograma “shòu” aparece em talismãs, quadros e porcelanas como símbolo de bênção.

2. Riqueza (富, fù)

Não se trata apenas de acúmulo de dinheiro, mas de ter o suficiente para viver com estabilidade, prover a família e praticar a generosidade.

3. Paz e saúde (康宁, kāng níng)

Corpo saudável, mente tranquila, espírito em paz. Esse estado de bem-estar integral é altamente valorizado.

4. Virtude (修好德, xiū hǎo dé)

A prática constante de boas ações e ética. A pessoa virtuosa atrai respeito e sorte — não só para si, mas para as próximas gerações.

5. Morte natural (考终命, kǎo zhōng mìng)

Viver até a velhice e partir serenamente, no tempo certo. Na filosofia chinesa, é sinal de que a vida foi completa e em harmonia com o Tao.

Curiosidade: Muitas decorações de Ano Novo ou presentes tradicionais trazem ideogramas ou desenhos que representam essas felicidades, como o morcego (símbolo visual da palavra “fú”, felicidade) ou o pêssego da longevidade.

Os Seis Extremos – 六极 (liù jí)

Se as Cinco Felicidades representam o ideal de vida, os Seis Extremos representam os destinos a evitar. São vistos como sofrimentos indesejados:

1. Vida curta (短命, duǎn mìng)

Uma existência interrompida cedo demais, antes de se completar.

2. Doença (疾, jí)

A perda do equilíbrio físico ou emocional — sinal de que algo não está em harmonia.

3. Tristeza (忧, yōu)

Estados emocionais de melancolia e desespero, que minam a energia vital (qi).

4. Pobreza (贫, pín)

Mais do que ausência de recursos, representa instabilidade e preocupação constante com o amanhã.

5. Feiura (丑, chǒu)

Associada não apenas à aparência física, mas à desordem, à falta de harmonia e de bom comportamento.

6. Fraqueza (弱, ruò)

Não ter força — seja física, emocional ou espiritual — para lidar com os desafios da vida.

Muitos rituais, dietas, comportamentos sociais e até decisões familiares são orientados pelo desejo de atrair as felicidades e afastar os extremos.

Entre o desejo e o destino

Na visão tradicional chinesa, uma vida plena não se define por conquistas momentâneas, mas por um caminho trilhado com equilíbrio, virtude e conexão com a natureza.
Não basta ter riqueza — é preciso ter paz.
Não basta viver muito — é preciso viver bem.

A sabedoria ancestral nos convida a olhar para o cotidiano com mais profundidade, a cultivar bons hábitos e a respeitar os ciclos da vida.

Afinal, na China tradicional, felicidade não é um ponto de chegada. É uma forma de caminhar.

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