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China na NOSSA vida – A experiência de um casamento chinês

Vocês sabem que a vida na China é cheia de emoção, surpresas, aprendizado. Aqui no blog tento escrever e descrever sobre todas as experiências que vivo, mas não estou sozinha nessa caminhada. Tem muita gente aqui, cheio de coisas para contar.
Por isso, já faz algum tempo, que criei a tag China na NOSSA vida​ , convidando pessoas que queiram dividir com os leitores do blog suas experiências fascinantes, diferentes, ás vezes divertidas e outras que se encaixam no famoso: depois que passa a gente ri.
Seja como for, adoro dividir esse espaço com meus convidados, com pessoas que se propõe a escrever para deixar o ​​​China na minha vida um espaço sempre atual e interessante.
Hoje temos a participação da Egle Bocanella, que vive em Shanghai e participou de uma experiência única, que é ser convidada de honra para um casamento chinês. Espero que se divirtam e conheçam um pouco mais da tão intrigante cultura chinesa.
Com a palavra, Egle:
A Chris já escreveu diversos posts sobre casamento chinês, mas quando compartilhei com ela minha experiência pessoal, ela logo me convidou para deixá-la registrada aqui no blog. E eu, é claro, fiquei muito feliz com o convite! 
Não que eu tenha me casado na China ou tenha um marido chinês! Muito pelo contrário. Me casei em Dezembro de 2016, no Brasil, do jeito que sempre sonhei – vestida de noiva, grinalda, rodeada de amigos e amor! Aconteceu que no mês seguinte começamos uma nova vida na China, algo que jamais imaginei – deixando tudo para trás e cheios de planos!
A adaptação em Xangai foi mais fácil do que eu esperava e rapidamente fizemos novos amigos. Já em maio de 2017, tivemos a grata surpresa de sermos convidados para o casamento de um colega de trabalho do meu marido, uma experiência única que poucos estrangeiros têm o privilégio de presenciar por completo. Como não somos de recusar festa e temos rodinhas nos pés, lá fomos nós para Ürümqi, na província de Xinjiang, terra natal do noivo e que fica na antiga rota da seda, quase divisa com o Cazaquistão. 
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É importante lembrar que o que vivi nesta viagem é uma experiência particular e não reflete necessariamente o padrão matrimonial na China. Foi uma honra poder participar de tudo e somos muito gratos ao Matt, à Laura – sim, os chineses adotam nomes ocidentais para ajudar os gringos! – e a todos os seus familiares por terem nos recebido neste momento tão especial.
Encontro de famílias
Foram 3 dias de festa, regados a muita comida e báijiù – a cachaça da China! No primeiro deles, rolou um almoço para as famílias se conhecerem. Perguntei ao Matt: “e aí, você tá tenso?” – ele só me respondeu: “não tô não, está todo mundo feliz aqui”. Simples assim! O almoço foi tipicamente chinês. Sala de hotel reservada, uma única mesa redonda giratória, convidado de honra sentado de frente para a porta – neste caso, o chefe do Matt, também brasileiro. No menu, bolinho cozido de vegetais, carne assada apimentada, melancia e um prato típico da região que nos lembrou uma esfiha de carne – uma delícia, por sinal. Para beber, chá, vinho, cerveja morna – como sempre, e claro… báijiù.
Diversão e tradição 
O segundo dia era o principal. Como a noiva não é de Xinjiang, ela e sua família ficaram hospedadas em um hotel, onde tudo começou cedo, as 10h da manhã. Nessa hora participam apenas as pessoas mais próximas da família e os padrinhos, que na verdade são apenas dois: o melhor amigo do noivo e a melhor amiga da noiva. Tivemos a alegria de sermos convidados para esse momento especial e, depois da saga para conseguirmos um táxi, lá estávamos nós no quarto dela, todo decorado de vermelho e dourado. Ela vestia uma linda roupa típica, toda colorida. 
São preparadas várias brincadeiras para o noivo: se ele acerta, passam para a próxima, se erra, ele têm que dar dinheiro para as amigas da noiva! Eu mesma ganhei 5 RMB, o equivalente a R$2,50! 
Antes de qualquer coisa, ele tem que acertar a senha para entrar no quarto, acompanhado de seu padrinho e de sua família. É um tal de passar dinheiro por debaixo da porta, gritaria em chinês e um empurra-empurra que até deixou uns arranhões em minha amiga! Em seguida, começa a maratona do noivo: 
1. Descobrir qual era a boca da noiva em um papel cheio de beijinhos de batom – há! não era nenhuma das opções;
2. Achar o par de sapatos dela escondido pelo quarto – só acharam 1 pé;
3. Dar comida na boca da noiva;
4. Ter a boca pintada de batom pelo padrinho – detalhe, o padrinho tem que segurar o batom também com a boca e não pode usar as mãos;  
5. Fazer uma declaração de amor – pelo que eu entendi do contexto né, afinal era tudo em chinês! 

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Saindo de lá, ele leva ela nos braços até um carro decorado e seguem em direção ao hotel onde acontecerá a festa. Logo na entrada o presente é entregue em dinheiro vivo dentro de um envelope vermelho – o famoso hóngbao – e os próprios parentes ficam na função de contabilizar e anotar quem deu quanto. Tudo bem organizado e um tanto constrangedor para os nossos padrões. O casamento tinha por volta de 150 pessoas. O salão do hotel tinha um palco no meio, desses de desfile de moda, e por volta das 14h30 ela entrou vestida de branco, acompanhada do pai. Na China o branco é cor da morte, mas muitas mulheres acabam vestindo por ser moda ocidental. A cor real das noivas por aqui é o vermelho, que a Laura vestiu mais ao final da festa. 
Quem comandou a celebração, que não teve nada de religiosa, foi um mestre de cerimônias. Infelizmente meu chinês era – e ainda é! – pobre demais para entender qualquer coisa que estava sendo dita pelos noivos, pelo pai da noiva, pelo amigo importante da família e até pelo chefe brasileiro do Matt, que teve que discursar em chinês. A noiva serve chá para os pais e sogros e todos assistem a um vídeo muito bem produzido que eles gravaram em um ensaio – música ao fundo e imagens deles em meio à natureza e em um outro lugar bem diferente que tinha uns containers abandonados.  
Enquanto isso, a comida rola solta nas mesas: ostra gratinada, sashimis, cogumelos, frango assado e muita bebida! A diversão é justamente essa: comer muito, colocar a conversa em dia, brindar com os parentes e beber até cair – o que inclui todo mundo, até aquelas tias que você achava que eram as mais recatadas e do lar. Na China não se dança em casamento, mas naquele momento em que a galera já estava “chamando urubu de meu louro” rolou até uma mini aula de samba!
Churrasco pra finalizar
No terceiro dia fomos convidados a participar de um churrasco com a família e os amigos mais próximos. Muito diferente de qualquer noção de churrasco que tenha passado pela minha cabeça, fomos para uma região montanhosa a 1 hora da cidade, onde cazaquistaneses alugam seus abrigos para as pessoas passarem o dia. 
Chamo de abrigo porque, apesar de ser a casa de muitos cazaquistaneses, o local não tem nada a ver com a nossa ideia de casa: trata-se de um único ambiente coberto por uma lona, com um fogão a lenha dentro e um tablado que ocupa metade do espaço, servindo de cama coletiva a noite ou de sala de visitas durante o dia. Diferente sim, mas quentinho e muito aconchegante, visto que estava frio e chovendo lá fora. Para comer foi abatida uma ovelha, cena que podia ser acompanhada por quem quisesse ver. Como eu sou bem hipócrita, não quis ver nada e só mandei ver nos espetinhos. Era carne que não acabava mais.
Eu já sabia que casamento na China é algo extremamente importante, que existe uma forte pressão social para isso, que muitos acontecem de forma arranjada e mais por dinheiro ou convenção do que por qualquer outra coisa. Sabia também que aquele não era o caso deles. A união da Laura e do Matt visivelmente foi e é cheia de amor. O que talvez eu não esperava, ou melhor, não tinha me dado conta, é que a alegria dos familiares e amigos é a mesma do outro lado do mundo. Mesmo sem bem-casado, sem padre ou pastor, sem dança dos noivos, este é um marco na vida dos dois tão especial quanto na nossa cultura e que com certeza ficará marcado para sempre não só na mente e no coração deles, mas também nos meus. 
 
Egle Bocanella é Relações Públicas pela Faculdade Cásper Líbero. Após trabalhar por 10 anos nas áreas de comunicação e marketing, veio para Xangai em Fevereiro de 2016, acompanhando o marido em seu novo desafio profissional. Atualmente é correspondente do Fórum Brasil China, um site dedicado a compartilhar notícias sobre a China que interessem ao mercado brasileiro.
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Para participar
Você tem alguma história, experiência que gostaria de dividir com a gente, ver publicada aqui no blog? Entre em contato e vamos conversar. Muita gente vai gostar de conhecer a vivência de outros brasileiros que vivem na terra do Dragão!
Conto com sua participação!
Zài Jián!

7 pensamentos sobre “China na NOSSA vida – A experiência de um casamento chinês

  1. Pingback: As superstições no casamento chinês (parte 2) | China na minha vida

  2. Chris,

    Que bom ter vc no Brasil!
    Amei esse post; um dia quero participar de um casamento assim!

    Um beijo grande e uma ótima estadia em terras verde-amarela

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  3. Christine… paz, bem, aleluia, feliz tempo de Páscoa!!! Saudades também. Fico feliz em saber de mais uma brasileira, entrando em ação na China. Fui a sua página e gostei. Parabéns para você e para ela, formada na Casper Líbero, onde eu estudei, no tempo que esta era a ünica faculdade de Jornalismo no estado de São Paulo ( na época nào falávamos em Comunicação…. era só jornalismo) . Continuem firme, e no caso de uma passagem pelo Brasil, ficaria feliz de receber vocês e suas famílias
    nesta nossa cidade de Goiás, Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
    beijos
    arcelina

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