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A história do casamento chinês – Parte 2

No último artigo, comecei a explicar a evolução dos tipos de casamento na China desde a antiguidade. Agora vamos continuar contando um pouco sobre os rituais e os costumes tradicionais do casamento chinês.

Como não poderia deixar de ser, os costumes do casamento tradicional, refletem a cultura tradicional chinesa, que variava de uma área para outra e até mesmo de uma dinastia para outra. Mas até hoje, pode-se dizer que seis rituais tradicionais dos casamentos chineses permanecessem ao longo do tempo, e são conhecidos como “Três cartas e seis Etiquetas (regras)”, que são passados de geração a geração.

As três cartas

As três cartas referem-se à carta de noivado, a carta de dote e a carta do casamento, cada uma das quais é  entregue em um ritual diferente.

E o que são essas cartas?

Carta de noivado, é um contrato oficial de casamento entre as duas famílias.

Carta do dote (ou do presente) é uma carta com uma lista definindo claramente os tipos e quantidades dos presentes que serão trocados.

Carta do casamento é uma carta oficial acolhendo a noiva para casa do noivo. Lembrem-se que aqui, até hoje, as noivas passam a pertencer a família do noivo.

Seis Etiquetas (regras)

As seis etiquetas foram adotadas desde a Dinastia Zhou (1046 aC-771 aC), o que mostra que os chineses atribuem grande importância ao casamento e são um pouco (muito) supersticiosos.

Propor a união: os pais do noivo contratavam um casamenteiro para propor à família da moça, com os atributos de noiva em potencial, o casamento.

Datas de nascimento de harmonização: se a proposta fosse bem aceita por ambos, o casamenteiro iria informar-se sobre os quatro pilares do nascimento de cada um dos noivos (ano, mês, dia e hora, conhecido como Bazi na astrologia chinesa), submetia a um vidente (ou sábio, ou monge, encontrei vários nomes diferentes para essa pessoa) para prever o seu futuro e se as datas de ambos eram compatíveis. Se ele disser que as datas são auspiciosas, se conectam, o ritual de casamento continuava.

Presentes (dotes): após o casamenteiro informar aos pais dos noivos que as datas dos nascimentos são auspiciosas, os pais do noivo enviavam os presentes de noivado, para a família da noiva. Entre os presentes enviados, um ganso selvagem migratório era considerado o mais importante na Dinastia Zhou (1046 aC-771 aC) e na Han (206 aC-220), pois representam o amor inabalável.

Presentes de casamento: Se os presentes de noivado foram aceitos, os pais do noivo apresentavam os presentes de casamento, prometidos e listados na segunda carta, para a família da noiva, que era o ritual mais importante das seis etiquetas. Os presentes de casamento normalmente incluíam dinheiro (prata), jóias e comidas.

Seleccionar uma data de casamento: os pais do noivo escolhiam uma data do casamento através do mesmo ‘sábio’ que fez o calculo das datas de nascimento dos noivos. Se ambas as partes concordassem com a data, os  pais da noiva iriam entregar o dote da noiva à casa do noivo, pelo menos, um dia antes da cerimônia de casamento. Lembram da segunda carta? Estava tudo listado lá!

O dote tradicional incluía: jóias, tesoura (que simbolizam que o casal nunca irá se separar), uma régua (simbolizando milhares de acres de terra para os noivos), um pedaço de açúcar (simbolizando a doçura de um casamento feliz), uma bolsa de prata ( abundância em dinheiro), um vaso (riqueza e honra), sapatos (que simbolizam que o casal ficaria feliz e casado até a idade madura), colchas, travesseiros, roupas e pétalas de lótus (para que o casal tivesse muitos filhos).

Cerimônia de casamento: era um costume o noivo  receber a noiva em sua casa e levá-la para casa dele (dos pais), onde seria realizada a cerimônia de casamento. E dali eles sairiam como marido e mulher. A noiva, coberta com um véu vermelho sobre sua cabeça, que simboliza a virgindade, pureza e juventude, que o noivo que remove da sua cabeça, e assim eles se tornaram marido e mulher formalmente.

traditional_chinese_wedding_ceremony

Os Tabus

Haviam muitos tabus antigos relativos ao casamento, alguns eram supersticiosos, alguns engraçados e alguns impressionantes. Vamos ver?

  • Um menino virgem deveria dormir com o noivo na cama conjugal, na noite antes da noite de núpcias, para trazer boa sorte para o casal no futuro.
  • As pessoas que nasceram no ano do tigre não eram apropriados para participar da cerimônia de casamento. Eu como sou dragão, seria sempre bem vinda! =P
  • As tias e as cunhadas da noiva não podiam ver a noiva no dia do casamento.
  • Quanto mais alto a noiva chorasse no dia do casamento, melhor, mais sorte ela teria. E esse costume se mantém até hoje na região de Chongning, a minoria étnica dos Tujia. As noivas choram por 15 dias seguidos antes do casamento. Elas choram pelos seus pais, suas irmãs, pela separação da família original. E também choram pelo futuro que elas não sabem como será. Haja lágrimas…
  • No dia do casamento, os convidados não podem sentar-se na cama conjugal.
  • O vestido da noiva não poderia ter bolsos, a fim de não tirar a sorte de seu próprio pai para a riqueza.
  • A noiva não deve mentir (!!) na cama no dia do casamento, ou ela ficaria confinada à cama por uma doença.
  • O espelho da noiva não podia ser emprestado a outros.
  • A noiva não deveria dormir fora de sua casa e nem participar de cerimônias fúnebres, nos quatro meses antes de seu casamento.

Bom, resumindo, haja costumes, regras, etiquetas e acordos para se casa na China…

Claro que isso está um pouco menos rígido hoje em dia, mas algumas das coisas ainda ouvimos como praxe nos casórios chineses.

Cada povo com seu costume e a gente se deliciando nessas descobertas, não é?

Já participou de algum casamento chinês? Conta para nós como foi a experiência.

Zài Jián!

5 pensamentos sobre “A história do casamento chinês – Parte 2

  1. Pingback: As superstições no casamento chinês (parte 2) | China na minha vida

  2. oi!
    tudo bem?
    muito complicado se casar na China!
    Mas como vc disse, costumes de um povo!
    Muito interessante isso tudo!
    beijo grande para vc e familia!

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