Escrever um blog proporciona uma coisa muito interessante: conhecer mais gente. A maioria acaba ficando no virtual, mas mesmo assim os ‘blogueiros’ acabam se identificando com alguma particularidade do que escrevemos e vice-versa.
Num desses meus encontros, conheci a Gabriela Brito, uma brasileira que escolheu trabalhar na China (segundo sua própria definição, clique para acessar o blog). A diferença é que ela veio com data para voltar, 6 meses. Por conta disso seu blog também teve começo, meio e fim. Durou o tempo da sua estada na China.
Das muitas coisas interessantes que li nas páginas da Gabi, foi o ‘gráfico da adaptação cultural’ o que mais me chamou a atenção. E resolvi postar aqui, praticamente na integra o que ela escreveu. Na realidade, não tive outra opção, porque ela foi muito direta e realista. A definição perfeita dos nossos sentimentos de ser estrangeiro: vivemos uma montanha russa de emoções.
Então vai assim. Tirei alguns comentários pessoais dela, mas se vocês forem ao endereço acima, podem conferir. O que não tirei, é porque fala muito sobre os meus sentimentos e da minha família também. Obrigada Gabriela, você não tem noção de como esse seu post foi importante para nós.
Desculpem por esse post estar um pouco longo, mas achei que valeria à pena!
Com a palavra, Gabriela:
“Minhas vontades variam (contraditoriamente) assim:
1- Quero voltar pro Brasil e quero ficar na China.
2- Quero voltar pro Brasil e não quero ficar na China.
3- Não quero voltar pro Brasil e quero ficar na China.
4- Não quero voltar pro Brasil e não quero ficar na China.
Uma bagunça total. Aí resolvi procurar sobre o tal gráfico que tanto ouvi falar: o gráfico da adaptação cultural.
Kalervo Oberg (1960) estudou sobre as reações humanas quando confrontadas a costumes e a um ambiente diferente do seu de origem e ele descobriu que a maioria dos seres humanos se comporta da mesma maneira, passando por fases de altos e baixos. Depois dele muitos outros pesquisadores estudaram sobre o assunto também. Esse é um processo individual e natural em um intercâmbio.
E o resumo é que geralmente as pessoas passam por 4 fases.
1- Lua-de-mel
2- Hostilidade/Choque cultural
3- Restabelecimento
4- Ajuste
E vai seguir as seguintes características (claro que cada pessoa pode ter uma experiência diferente, mas no geral, é isso ai que acontece):
1.
No começo tudo é muito emocionante, exótico e fascinante! Nessa fase todo mundo é bom para você e qualquer tipo de erro está permitido, já que você é um estrangeiro. A fase de euforia inicial pode ser mais ou menos longa de acordo com a diferença entre a realidade que você encontra e o que você esperava encontrar.
2.
Depois de algum tempo você vai descobrir que existe rotina em sua vida diária.
Você se acostuma com as cenas da rua em torno de você e você sabe com quem vai cruzar no trabalho ou em seu tempo livre.
Seus colegas também não são tão compreensivos quanto antes.
Você já conhece o lugar, mas não o suficiente para ter amigos ou se sentir em casa.
Você vê uma série de comportamentos que são inaceitáveis, ou no mínimo estranhos para você.
Você sente necessidade de explicar e defender-se muitas vezes (o que é muito cansativo) e você se sente confusos pela maneira como as pessoas se comunicam e agem em torno de você.
A experiência desta fase depende de muitos fatores, tais como o quanto a cultura diferente da sua, a sua capacidade de se expressar na língua da região e o quanto as pessoas que está convivendo sabem sobre a sua própria cultura.
Você vai perceber que você está em “choque cultural” quando começa a se sentir facilmente frustrado, você irá reagir e se comportar de uma maneira defensiva.
Você facilmente vai ter a impressão de que todos os seus problemas estão ligados ao fato de que você está no exterior. O processo de adaptação a uma cultura estrangeira exige uma grande quantidade de energia a partir de você.
3 e 4.
Após a fase de choque cultural você vai entrar numa fase de aculturação e de estabilidade. Você vai conhecer e compreender mais os mecanismos subjacentes que influenciam o comportamento das pessoas ao seu redor, você vai começar a ser capaz de ver as coisas através de seus olhos.
Isso não significa necessariamente que você concorde com tudo o que fazem ou que você mude o seu estilo próprio de fazer as coisas completamente.
Você vai aceitar alguns costumes novos que você experimentou nessa nova cultura, e vai manter outros de sua própria cultura.
Você vai discordar com algumas maneiras de viver essa experiência, mas vai procurar entender por que eles desenvolveram aquela forma de fazer.”
“Alguns autores sugerem um outro tipo de gráfico, ao invés da curva em U, o gráfico é em formato de um W.
E nesse gráfico eles consideram a volta para casa. Dizem que é outro choque: primeiro a pessoa se sente feliz por ter voltado pra casa, depois se sente frustrada, e sozinha porque os amigos e familiares não entendem todas as mudanças que aconteceram, mas gradualmente a pessoa vai se readaptando a nova rotina novamente, e por fim a pessoa incorpora a nova vida o que aprendeu durante o intercâmbio.”
Achei interessante colocar isso aqui, pois muitas vezes as pessoas não entendem a confusão que passa na cabeça da gente. Diferente da Gabriela, nós viemos para cá em família, o que aparentemente torna as coisas mais fáceis. Mas não é bem assim…Também deixamos nossos pais, amigos, nossa zona de conforto. E ainda tivemos que lidar com as frustrações dos filhos, com o peso da responsabilidade de ter imposto uma mudança tão radical na vida de todos etc etc etc…
Se estamos felizes aqui? Claro que sim! Adoro a China e nos adaptamos muito bem. Mas de vez em quando bate uma tristeza, assim do nada… uma saudade sem tamanho. mesmo com todo o tempo que a China está na nossa vida! 🙂
Outras uma raiva enorme e uma vontade, no meu caso, de cometer um ‘chinocídio’(acho que acabei de inventar uma palavra!). No dia seguinte, tudo é motivo de gargalhadas e bom humor…
E assim vamos vivendo na ‘montanha russa’ do gráfico da adaptação cultural.
Zái Tián!