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Farewell Party – uma rotina na vida do estrangeiro na China.

Esse texto é um pouco longo, mas escrevi quando uma pessoa muito querida foi embora da China. Hoje, nesse domingo chuvoso, percebendo que o ano está acabando e chegando mais uma vez, a hora das despedidas, resolvi partilhar com vocês. Aqui vivemos muitas coisas interessantes, divertidas. Aprendemos muito, mas também tem o lado emocional que flutua entre os extremos da alegria e da tristeza.

Xié xié, péng yóu! Obrigada, meus amigos.

Nesses anos que vivo na China, em especial esse último ano em Shanghai, pude olhar com outros olhos para coisas que antes não faziam sentido, como os encontros e despedidas. Quantas vezes na vida nos separamos de amigos queridos? Talvez quando saímos do colégio ou da universidade, quando mudamos de emprego. Mas é uma separação de algumas quadras ou bairros dentro da nossa cidade. Com alguns deles continuamos cruzando nossa vida inteira. Outros nunca mais veremos, mas é a vida; depois da adolescência vem a época das escolhas e de cada um seguir o seu caminho. Mesmo assim ainda contamos com nossos pais, irmãos, tios etc. Não nos sentimos tão desamparados apesar de tristes.

Mas aqui é diferente. Todos nós chegamos já carentes de nossas raízes. Muitos, pela primeira vez, apesar de já terem família formada, nunca se distanciaram muito dos grandes amigos, da família, dos pais. Há alguns que também deixam os filhos, emprego de anos. Resumindo, toda a nossa estrutura, nossa zona de conforto desaparece da noite para o dia.

Pois, bem: chegamos. A proposta é começar de novo. Procuramos nossa comunidade, nos apresentamos para os vizinhos que, aqui na maioria, são muito amigáveis com os novatos, porque independente da nacionalidade, estamos todos no mesmo barco. Vamos conhecendo a cidade e quando damos conta já temos novos amigos, aprendemos um monte de coisas diferentes sobre cada cultura que vive nessa “Torre de Babel” que é Shanghai, nos adaptamos à nova casa, novos hábitos e aos poucos nossa zona de conforto volta a existir.

Quando realmente nos sentimos “em casa” recebemos a notícia de que aquela família, justo a que todo mundo se dá bem, desde as crianças até os cachorros, que temos a sensação que nos conhecemos há décadas, nos fala que estão voltando para seu país ou indo para outro lugar. Aí na outra semana mais um, mais outro e quando paramos para contar percebemos que muitas pessoas que se tornaram queridas e importantes para nossa vida estão indo embora (quando não é a gente mesmo… mas isso é um outro assunto que fica para a próxima vez).

Chegou a hora da partida: aí começa nosso ciclo outra vez, não tão penoso quanto a chegada a este país, mas dolorido o bastante para nos fazer lembrar que não existe zona de conforto por aqui. Temos que estar sempre nos movimentando, nos relacionando, conhecendo e ajudando uns aos outros, nos adaptando. É um “reconstruir” quase diário.

Tem o lado bom? Claro que tem, como tudo nessa vida. Nunca tive, e nem imaginei ter, tantos amigos de nacionalidades completamente diferentes. De conhecer brasileiros que possivelmente jamais encontraria no Brasil. E hoje são pessoas extremamente importantes e queridas das quais jamais irei me separar, mesmo que continue vivendo do outro lado do mundo!

O que precisamos é aprender a conviver com esse vai e vem de pessoas e sentimentos, nos refazer a cada dia para poder lidar melhor com nossas expectativas e sentimentos. E sempre lembrar o nosso poeta Milton Nascimento, que canta: “Tem gente que chega prá ficar / tem gente que vai prá nunca mais / tem gente que vem e quer voltar / tem gente que vai e quer ficar / tem gente que veio só olhar / tem gente a sorrir e a chorar / E assim chegar e partir! /…/ É a vida desse meu lugar…”

15 pensamentos sobre “Farewell Party – uma rotina na vida do estrangeiro na China.

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  6. Pois é, Christine… Seu texto me deixou com um nó apertado na garganta. Tenho a impressão de que foi escrito justamente por que está acabando de deixar o Brasil, mais uma vez. Isso, com certeza, mexeu com você, ainda que esteja adapatada à vida na China. E eu disse ADAPTADA… mas, certamente, ligada emocionalmente ao Brasil como sempre estará. Esse nosso país tem algo de especial, um não sei quê que encanta e nos faz cativos. Você é, acima de tudo, uma mulher corajosa, que vai à luta e muito sensível. Fique certa de que torço muito por você, aí nesse país que já é um pouco seu também, embora ainda cause espanto e estranheza.
    bjs e obrigada por tão belo texto
    regin@

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    • Regina, como falei par um leitor, esse post foi uma republicação. Mas sempre atual, porque essa é a vida na China: Encontros e despedidas…Tem o lado bom, e o nem tão bom….rs como tudo nessa vida!
      Beijo e obrigada pela visita.

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