Shanghai é uma cidade cheia de história, fatos interessantes, um passado glamouroso. Só que também esconde várias passagens que nos surpreendem e mostram os caminhos tortuosos que envolvem todo processo de crescimento da Pérola d Oriente.
A vinda dos Judeus para Shanghai, colaborou, inicialmente, com a formação e consolidação da época de ouro da cidade, Old Shanghai, como é conhecida. Repleta de luxo, festas, construções no melhor estilo europeu, grandes bancos e muito dinheiro circulando.
Na época da segunda guerra, os judeus que chegaram a esse porto, mudaram esse perfil, vindo de um mundo em crise e vitimas da crueldade de uma guerra e um ditador.
Ha muito tempo atrás fui visitar esse museu, muito por acaso, mas esse mês voltei com uma visita guiada, o que muda completamente nossa visão dos fatos.
Por cem anos, de 1850 a 1950, os judeus tiveram um importante impacto cultural na economia e no desenvolvimento de Shanghai. Outros encontraram aqui um refúgio seguro para escapar da perseguição nazista.
A historia dos judeus e de Shanghai se misturam em determinadas fases do inicio do século 20. E conhecer a história nos mostra um outro lado, que nem sempre somos capazes de perceber.
Existem muito mais locais e historias para conhecer, mas hoje vou escrever um pouco somente sobre o Gueto e a principal Sinagoga que abriga o museu ao refugiados judeus.
Uma pincelada na história
O museu está situado no que antes era o Bairro Judeu de Shanghai, que já abrigava a comunidade judaica desde o final do século 19, no distrito de Hongkou. Na realidade houveram 4 fases da imigração judaica na China:
Fase 1 – Dinastia Han, eles entraram pelo deserto de Gobi.
Fase 2 – Após a Guerra do ópio (1840), vieram com a proteção dos ingleses e entraram pela Índia.
Fase 3 – depois da segunda Guerra do ópio, 1881, a imigração judia se deu através da Rússia.
Nessas duas fases, os imigrantes eram judeus ricos e se fixaram principalmente em Shanghai, na região do Bund.
Fase 4 – na época da segunda Guerra Mundial. Eles iniciaram a migrar em 1939 até 1942. Após o holocausto aconteceu a maior imigração, pois, sem documentos, não eram recebidos em outros países. Diferente das primeiras fases de judeus na China, esses vieram sem documentos e sem dinheiro.
Nos anos 1930, a Alemanha nazista encorajou os judeus alemães e austríacos a emigrar, mas a maioria dos países fechou suas fronteiras para eles, sendo Shanghai e a República Dominicana as únicas exceções. 20.000 judeus europeus buscaram refúgio em Shanghai.
Chegando em Shanghai, foram “acolhidos” pelos japoneses (apesar deles serem aliados da Alemanha) na Concessão Japonesa, conquistada em 1937, e os primeiros judeus que se fixaram em Shanghai, ajudaram sua comunidade a reiniciar a vida na cidade.
Logo após atacar Pearl Harbor em dezembro de 1941 e declarar guerra aos aliados, o Japão invadiu as concessões estrangeiras de Shanghai e ocupou toda a cidade. A guerra acabou com o fluxo de fundos americanos para os refugiados judeus empobrecidos.
Os japoneses impuseram restrições aos judeus, e em 1943 estabeleceram oficialmente o Setor Restrito para Refugiados, mais conhecido como o Gueto de Shanghai, em Hongkou, forçando a maioria dos judeus a morar lá.
Após a Segunda Guerra Mundial, a China logo caiu em uma guerra civil, que terminou com a vitória do Partido Comunista em 1949, e quase todos os judeus de Shanghai emigraram em 1956.
Sinagoga Ohel Moshe
A congregação de Ohel Moshe foi estabelecida por imigrantes judeus russos em Shanghai em 1907. A congregação Ashkenazi foi nomeada em homenagem a Moshe Greenberg, membro da comunidade judaica russa, e foi estabelecida em um espaço alugado. À medida que a congregação cresceu para 250 famílias na década de 1920, o rabino Meir Ashkenazi, rabino-chefe de Shanghai, apoiou a criação de um novo espaço para a congregação.
Em 1927, a estrutura atual foi criada pela reforma de um prédio de três andares existente no distrito de Hongkou, removendo o segundo andar e acrescentando um mezanino. A sinagoga está situada no que já foi a Ward Road (agora Changyang Road), perto da Ward Road Gaol (agora Prisão de Tilanqiao, onde estão os presos de ‘colarinho branco’ chineses).
A Sinagoga Ohel Moshe foi o principal local de culto para os refugiados judeus em Shanghai.
A sinagoga foi confiscada pelo governo após a instalação da Republica Popular da China em 1949 e convertida em hospital psiquiátrico. Também foi usado para escritórios. Reabriu nos anos 1990.
Ohel Moshe e Ohel Rachel são os dois únicos templos judaicos da velha Shanghai que ainda existem, dos seis originais. Em 2004, a Sinagoga Ohel Moshe foi inscrita na lista de tesouros do patrimônio arquitetônico de Shanghai.
Em 2007, o Governo do Distrito de Hongkou restaurou a sinagoga ao seu estilo arquitetônico original, baseado nos desenhos originais dos arquivos municipais, e a abriu como um museu em homenagem aos refugiados judeus.
Embora a sinagoga ainda contenha uma arca da Torá, uma cobertura de Arca e uma plataforma de leitura, ela não possui um rolo de Torá ou livros de orações, impedindo seu uso para serviços de oração.
Alguns dos edifícios residenciais do período do gueto ainda estão ao redor da antiga sinagoga, embora a maioria tenha sido demolida. O museu em si e as estruturas históricas remanescentes são preservadas como parte da Área Histórica de Tilanqiao.
Monumento
Em 2014, o museu inaugurou um monumento aos refugiados, que inclui mais de 13.000 nomes
Em setembro de 2014, um memorial de 34 metros de comprimento foi inaugurado no local, gravado com os nomes de 13.732 Refugiados judeus abrigados na China durante a Segunda Guerra Mundial e painel esculpido representando as gerações de judeus que viveram no país. O memorial foi projetado pelo artista He Ning.
Museu
O Museu dos Refugiados Judaicos de Shanghai (Shanghai Jewish Refugees Museum) conta um pouco da história dos refugiados judeus que viveram em Shanghai durante a Segunda Guerra Mundial depois de fugir da Europa para escapar do Holocausto. Está localizado no local da antiga Sinagoga Ohel Moshe ou Moishe, na Área Histórica de Tilanqiao, no distrito de Hongkou.
O museu apresenta documentos, fotografias, filmes e itens pessoais que documentam a vida de alguns dos mais de 30.000 residentes judeus do ‘setor restrito para refugiados’, mais conhecido como o Gueto de Shanghai, durante a ocupação japonesa.
O Museu dos Refugiados Judaicos de Shanghai engloba o edifício da Sinagoga Ohel Moshe, dois pavilhões de exposições e um pátio.
A exposição da sinagoga descreve as vidas de refugiados judeus que encontraram abrigo em Xangai durante o Holocausto.
Uma exposição no segundo andar da sinagoga é dedicada à vida do Rabino Chefe de Shanghai, o rabino Meir Ashkenazi.
O Hall de Exposição 2, concluído em 2007, exibe mais de 140 fotografias históricas e outros artefatos, incluindo obras de arte, um passaporte de refugiado, cópias da Crônica Judaica de Shanghai e uma tábua de pedra gravada com as palavras do primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, durante sua visita a Xangai. Um documentário sobre os refugiados também é exibido no salão.
O Hall de exposição 3 foi concluído em maio de 2008, e é usado para exposições temporárias.
Diferentes opções em Shanghai
Esse é um local que poucos turistas (e moradores) conhecem na cidade. Um passeio que vale à pena e nos mostra um outro lado da história dos estrangeiros que viveram aqui. Nem só de festas, riqueza e glamour era a vida do estrangeiro na Shanghai do século 20.
E nesse verão, como estarei por aqui, pretendo visitar mais lugares/museus, escondidos nessa metrópole.
Zai Jian!
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Oi Chris! Adorei saber um pouco mais sobre Shanghai! Também estarei por aqui nesse verão… posso explorar Shanghai com você! 🙂 Beijos
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Tati…
Vamos fazer um summer camp das que ficaram em Shanghai nesse verão maluco! hahaha
Beijo
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Que interessante, Christine! Já vou colocar aqui na minha lista de lugares pra visitar antes de partir de Xangai. Valeu pelas dicas.
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Daisy,
E tem mais. Ainda vou escrever sobre o Peace Hotel, que também está completamente ligado com a história dos judeus em Shanghai.
Beijo
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Bem interessante! Nós cristãos, durante muito tempo achamos que os religiosos de diferente religiões, principalmente no tempo de Mao Tse Tung, eram muito perseguidos e obrigados a rejeitar a religião. Sào inúmeros mártires da igreja católica perseguidos na China. Até hoje, há os católicos oficiais ligados a igreja Católica da China. E há outros, que vivem fazendo celebraçoes nas casas, sem se manifestar como catollicos.
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Olá Arcelina,
Mas os judeus sairam da China na decada de 1950.
Abraço
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Olá Christine!Como sempre,post maravilhoso!Parabéns !Você nem imagina o quanto me ajudou a programar minha viagem à China pelos posts anteriores,acompanho sempre.Sai de SP em dezembro de 2017 e voltei em janeiro de 2018.Agradeço muito!Sou judia e estive no Museu dos Refugiados Judeus em Shangai.Tia do meu pai ,seus filhos e noras eram alemães,de Berlim.Muito ricos mas,para se salvarem,durante a guerra,fugiram com a roupa do corpo.Todas as fronteiras estavam fechadas e o único lugar para o qual conseguiram visto foi Shangai – través do consul chinês na Áustria,que salvou centenas de judeus (tem uma homenagem a ele no museu).Há um painel enorme com os nomes de todos os judeus que se refugiaram em Shangai.Chorei quando encontrei os nomes da minha tia-avó,seus filhos e noras.Foi muito emocionante.Muito obrigada por mais esta referencia!!!Bj
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OI CLAUDETE,
Quem se emocionou agora fui eu!
Linda (e triste) história!
Obrigada pelo comentário.
Grande abraço.
Christine
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