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De volta para casa…

Pois é, um mês se passou e estou de volta ao oriente.

Parece estranho, mas quando percebemos que a nossa casa não é mais o local onde nascemos, onde temos nossas raízes e nossos amigos de infância e sim, um país distante, com hábitos completamente avessos aos nossos, pessoas diferentes e nada nos pertence senão nós mesmos, fica uma sensação no mínimo… esquisita. Sim, acho que essa é a palavra.

Da mesma forma que contei os dias para ir, os contei para voltar. E a tranqüilidade de estar de volta em casa, apesar de tudo é muito boa.

Já falei para algumas pessoas que ainda nem sabia se ia ou não escrever esse blog, mas já havia escolhido o nome: ‘China na minha vida’.

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Alguns me perguntaram por que não usei ‘minha vida na China’, mas explico que o sentido é totalmente diferente e percebi que o que a China fez com a minha vida, é muito mais importante do que relatar sobre minha vida na China. Deu para entender?

Mas voltando ao blog, a China promoveu tantas mudanças na minha vida (das mais simples e cotidianas até as que envolvem valores e crenças) que não poderia deixar de registrar isso. E de alguma forma o leitor mais atento (em especial os que me conhecem pessoalmente e há muito tempo) vai notar nos simples relatos do meu dia a dia.

Há 3 anos atrás ninguém me convenceria a ter um cachorro; tive que mudar para a China para me render às delicias de ter um animal no meu pé diariamente. E que alegria voltar para casa e encontrar com ela me esperando na porta!

Antes da China eu tinha 2 calças jeans (cada uma com pelo menos 10 anos de uso) e 15 calças sociais. Hoje a proporção está exatamente ao contrário. Parece besteira, mas vocês não têm noção do quanto isso me deixa impressionada com as mudanças que podem acontecer na nossa vida.

AC (para facilitar) eu achava que teria que me contentar com meu português e olhe lá. Falar outra língua para mim era algo muito distante. Hoje falo inglês e espanhol (razoavelmente) e ainda não desisti de ampliar meu parco vocabulário do Mandarim!

Além dessas coisas, até engraçadas, houve uma mudança de perspectiva, de importâncias, de noção de mundo. Não abri mão das minhas crenças, mas com certeza ponderei várias ‘certezas’ e defini outras prioridades. Aprendi na marra a ter mais paciência, viver com as diferenças, confiar em mim mesma e enfrentar os desafios de ser estrangeiro num país oriental. O sentido de urgência também mudou muito, de viver um dia por vez, sem perder o foco no futuro, mas flexível para as alterações de rota, para as decisões imediatas.

Mas acredito que o mais importante, o que mais me toca, é a capacidade que tenho hoje de definir o que eu não quero para minha vida. É a ordem dos valores. A importância dos pequenos gestos. A gente sofre muito enraizada em dilemas e compromissos sociais, que acabam nos escravizando. E hoje sei que podemos ser felizes em qualquer lugar, desde que tenhamos consciência de que o importante é SER. Se você é você mesmo, com seus defeitos e virtudes, com seus dias de luto e de glória, com as duvidas e as certezas, poderá estar no pólo norte ou sul, que nada será impossível nem intransponível. Basta querer e ser.

Bom, já que comecei a filosofar, fica minha homenagem ao amigo Daniel Gonzalez, que em muitos finais de tarde após as aulas, onde trabalhávamos alguns anos atrás, nos deliciávamos com essas questões cotidianas e corriqueiras, mas que podiam mudar o sentido da vida de quem as vivesse com entusiasmo e olhar poético. Agora ele passou para o lado de lá, onde nunca conseguimos chegar a um acordo do que realmente seria de nós após deixarmos a matéria. Ele foi conferir. Muito cedo, acredito. Mas tenho certeza que continuará suas indagações, seus questionamentos e quando nos encontrarmos de novo ainda irá me dizer: ‘veja bem… será que isso é a eternidade?’ Muita Luz para você, Daniel.

Zái Jián!

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