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China na NOSSA vida – Dominando o Mandarim

Nossa história na China começou em 2004 e, naquela época, deixamos muitos boquiabertos, sem entender com que “coragem” encaramos o País do Meio. Mesmo em 2009, quando viemos viver em Shanghai, vimos muitos olhos arregalados e exclamações do tipo: perderam o juízo!

Agora imaginem como foi a mudança de uma família (com crianças pequenas) para cá em 1997. Pode parecer impossível, mas essa é a história da família da Karina, que chegou a China com 2 anos.

Eles realmente vieram desbravar esse país, conheceram a China que ainda está no imaginário popular de muita gente no ocidente e, se alguém reclama das dificuldades que existem hoje para se adaptar, olhem para a perspectiva dos que chegaram aqui no século passado e sobreviveram.

Claro que ela é fluente no mandarim, pois viveu na China até os 18 anos. E, mesmo sem planejar, essa experiência única de vida acabou traçando sua vida profissional. Hoje, em paralelo ao seu trabalho como tradutora, tem um canal no Youtube, o Dominando o Mandarim, que além de ensinar mandarim, conta muito da sua experiência e dos hábitos culturais chineses.

Convido vocês para lerem o relato dessa moça que conheceu a China que poucos ocidentais conhecem, viveu e presenciou (mesmo sendo uma criança) toda a transformação social, econômica e tecnológica que se deu desse lado do mundo.

Minha história na China por Karina Cunha

Cheguei na China em 1997, com apenas 2 anos. Meus pais foram a trabalho, eu e minhas irmãs os acompanhamos. Tenho certeza que nem eles, nem ninguém, imaginaria todas as aventuras que viveríamos lá durante os 15 anos seguintes. Não posso dizer que achei a China diferente, muito menos bizarra, afinal, quais referências uma criança de 2 anos tem?

Em 1997, nossa primeira parada foi Macau, a adaptação foi mais fácil, a cidade era colônia de Portugal na época e isso nos poupou de enfrentarmos a China continental de primeira.

Naquela época, a China, pelo menos o sul dela, que visitamos algumas vezes, era exatamente como as pessoas imaginavam: pescadores andando com chapéus de palha, feiras e mercados que atraíam o caos, aquele cheiro no ar que só quem sentiu vai entender – uma mistura de temperos, chão de terra, animais, verduras amassadas. Quando conto minhas experiências, alguns me chamam de louca, de sensacionalista, mas mal sabem o que enfrentamos naquele início.

A China havia se aberto comercialmente há pouco mais de 15 anos. Não encontrávamos fraldas, desodorante, dentre muitos outros produtos essenciais nas lojas. Feijão preto? Nem pensar! Na época que o Taobao não existia nem na imaginação, até para encontrar um chocolate descente era difícil.

Aprendemos que adaptar era necessário. Descobrimos que guaraná, goiabada e pão de queijo ficariam apenas na lembrança, até voltarmos para o Brasil, o que acontecia a cada 4 anos.

Minha mãe sempre quis que eu e minhas irmãs nos enturmássemos, que vivêssemos como as outras crianças locais. Isso significou estudar em escolas chinesas e confesso que, para mim, essa sempre foi a parte mais difícil.

Por conta do trabalho dos meus pais, nos mudamos muito, e em cada cidade era uma nova escola, as despedidas não me entristeciam mais. Para falar a verdade, eu até gostava, pois representava um novo começo.

Passei grande parte da minha infância e adolescência estudando em escolas chinesas, em questão de 1 ano, eu já era fluente e falava como os nativos. Aos 7 anos de idade, eu já ajudava os brasileiros da cidade com tradução. Sempre quando alguém estava doente e precisava ir ao médico, ou quando precisavam resolver alguma questão na imobiliária, eu estava lá. Eu via a dificuldade que era para os adultos brasileiros aprenderem chinês, e aos poucos fui percebendo que na verdade foi um presente, um privilégio, aprender chinês tão nova.

Após me formar em administração de empresas em uma universidade chinesa (Yunnan University of Nationalities) em 2012, com apenas 18 anos, voltei para o Brasil. Essa seria a primeira vez que voltaria para minha terra sem data marcada para retornar à China.

O choque foi muito grande, me senti uma estrangeira no Brasil, ou melhor, uma chinesa.

Por que os correios demoram tanto tempo para entregar minhas compras online? Por que o mesmo produto que eu comprava na China custava 3 vezes mais no Brasil? Por que as coisas eram tão burocráticas? Na China tudo era para ontem. Confesso que demorei alguns anos para aceitar e me adaptar.

Nem tudo foi ruim de início. Foi no Brasil que minha jornada profissional começou. Tive algumas oportunidades e quando parei para perceber, eu já estava trabalhando com tradução de chinês. Não foi uma profissão escolhida a dedo, simplesmente aconteceu, mas posso dizer que me encontrei na área, através da tradução, me desafio a cada dia.

Em 2017, resolvi começar um canal no Youtube com intuito de ensinar chinês para brasileiros. Na época, eu era a única brasileira que havia morado tanto tempo na China exercendo esse tipo de trabalho na internet. Com o tempo, fui percebendo que muitas pessoas também se interessavam pela cultura chinesa, por curiosidades e dicas sobre a China.

Acredito que pelo conteúdo ser passado através do ponto de vista de uma brasileira com uma história um tanto quanto peculiar, aguça a curiosidade do público. Sei que por eu ser brasileira acabo trazendo, de certa forma, esperança para aqueles que estão aprendendo mandarim e tentando entender a cultura chinesa, que por muitas vezes parece tão controversa. Não sei se isso será um consolo ou se deixará você mais desesperado, mas nós nunca conseguiremos compreender a cultura chinesa em sua totalidade.

Após alguns anos trabalhando na área de tradução e dando aulas pela internet, resolvi criar o Curso de Pronúncia Chinesa para Brasileiros, um curso totalmente online para ajudar brasileiros com a pronúncia na hora de falar chinês, tanto para iniciantes, quanto para aqueles que já falam. Essa era uma lacuna que eu vi no aprendizado dos alunos. Havia cada vez mais brasileiros estudando chinês, muitos até por conta própria, e a pronúncia acabava ficando em segundo plano.

Aprender chinês não é apenas memorizar algumas palavras e juntá-las numa frase. Para se comunicar bem com os chineses, é importante entender a cultura milenar da terra vermelha, é preciso mergulhar nesse mundo onde o antigo se choca com o moderno e ao mesmo tempo tudo se abraça em enorme harmonia.

Sobre o canal

Deixo aqui um dos vídeos da Karina e o link do canal no YouTube.

E clicando nesse link, você acessa o Curso de Pronúncia em mandarim oferecido pela Karina e no Instagram pode seguir o @dominandoomandarim

A experiência de cada época, de cada um

Espero que tenham gostado dessa história, o relato de uma vida na China que quem chega hoje por aqui, não consegue nem imaginar,

Não conheci quase nada do que ela viveu, apesar de que em 2004, e mesmo em 2009, as opções eram bem mais restritas. Trazíamos na mala desodorante, fio dental e muitos quilos de comida. Mesmo assim me considero uma testemunha das mudanças e avanços desse país.

Muitas coisas relativas a cultura e aos hábitos dos chineses, mudaram muito nesses 20 anos, principalmente nos grandes centros, mas uma grande parte ainda está ai, latente, lutando entre a tradição milenar e a nova era que a China está vivendo.

Definitivamente é um país que nos surpreende, nos intriga e nos faz repensar nossas certeza.

Como sempre escrevo: Ninguém vem para a China e sai ileso!

Zái Jiàn!

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