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Precisamos falar sobre…     

Parece que em janeiro todas as coisas ganham uma aura especial. Tudo é recomeço, novas energias, novas chances, um raio de esperança paira sobre a terra e os homens.

Isso, de fato, é muito bom. O sopro de vida, aquela coisa que tira a gente do fundo do poço, como quando o mergulhador sobe à margem para encontrar o ar que tanto precisa. E assim começamos 2017.

Mas não podemos esquecer de falar sobre o que passou. Costumo fazer essas reflexões antes do ano terminar, mas 2016 foi um ano tão intenso, que preferi deixar ele acabar completamente, em todas as partes do mundo, ir de vez para ponderar.

E assim foi… a última notícia que recebi, quando ainda era 2016 no Brasil, foi a gota d’água para essa reflexão. Decidi, então, que precisava falar sobre muitas coisas que, espero, possam ajudar a todos a ponderar as atitudes para o que virá, independente das datas marcadas pelo calendário.

Precisamos falar sobre perdas

Mais do que falar sobre elas, precisamos entender (ou tentar) o que essas perdas nos sinalizam, nos mostram e podem nos ensinar para seguirmos nosso caminho. 2016, foi um ano de perdas, de lutas pela vida, de guerras vencidas apesar de toda a luta, de batalhas em que nem tivemos a chance de lutar, que nos mostrou o quanto a vida é efêmera, como não podemos nos colocar acima de tudo e de todos, que as coisas podem escorrer das nossas mãos por mais que tentemos fechar todos os mínimos vãos entre os nossos dedos. As perdas vieram a galope nesse ano que acabou: amigos diretos, pessoas importantes para meus amigos, minha cachorra. Cada perda me fez sofrer muito, me ensinou um pouco, me fez entender que tudo é passagem. Acima de tudo nos mostra claramente que não devemos gastar demasiado tempo em ‘problemas’ que nem sequer existem de verdade.

Precisamos falar sobre o amor

O que mais importa nessa vida do que o amor? E não estou falando da paixão, do arrebatamento louco. Falamos do amor de verdade, aquele que perdura, que pode ser pela família, pelos pais, companheiros, amigos. Como também, por aquela pessoa que nos deu um sorriso na rua, que nos estendeu a mão numa hora difícil, que mesmo sem saber fez a diferença na nossa vida, mesmo que só por um segundo. E ainda mais: pelos animais, pela natureza, pelas pequenas coisas da vida. O amor nos faz mais leves, nos dá mais esperança, nos afaga o coração duro e ajuda a superar as dificuldades que a vida nos impõe. Ele nos torna mais humanos.

Foto de Antonio Cardoso Ferreira.

Foto de Antonio Cardoso Ferreira.

Precisamos falar sobre a saudade

Como é dura essa palavra, que somente nossa língua define tão bem. Temos saudade de muitas coisas, de pessoas, de lugares. Temos saudades de uma época, das oportunidades que passaram, do tempo que não volta. Temos saudades dos que se foram, dos que não vemos há muito tempo, dos que acabamos de nos despedir. Temos saudades que nos aquecem o coração, e algumas que nos martirizam e nos fazem chorar. Mas tudo é uma questão de tempo, de querer transformar a saudade em um sentimento bom, consolador, carinhoso. Pensem nisso: se a saudade for terna, ela pode nos encher de amor e esperança também. A saudade pode nos aliviar, nos remeter a lugares que só nosso coração pode chegar. Ela traz consolo, lembranças, nos faz sorrir e nos faz chorar. O importante é que saibamos usar esse sentimento para nosso bem: se sentimos saudades de pessoas e/ou situações, é porque, de alguma forma, essas lembranças foram boas e bem vividas. Saudades é um sentimento de amor. Acho que assim, sempre fica mais fácil.

Precisamos falar sobre as escolhas

Podemos escolher ser feliz ou sofrer. Ficar no mesmo lugar para sempre ou ganhar o mundo. Viver um dia de cada vez ou se perder em ansiedade pelo que virá (e quem sabe o que virá?). A cada dia, a cada momento, sempre temos escolhas a fazer. E à partir delas é que traçamos o caminho que iremos seguir. Claro, esse caminho pode ser mudado a qualquer tempo, basta escolhermos isso. O importante aqui é entendermos que somos os responsáveis pelo nosso destino. Se escolhemos mudar de país, temos que ter entendimento que tudo vai mudar na nossa vida e assumirmos que fizemos essa escolha, ao invés de sofrer pensando: e se eu não tivesse vindo? Se a vida nos pregou uma peça e perdemos alguém, cabe a nós escolher em entender essa passagem, se fortificar, aprender com o que passou e continuar a vida ou sofrer para sempre, tornando a nossa existência mais dura, mais penosa. Entender que sempre temos a chance de escolher é um fato decisivo para a nossa felicidade.

Precisamos falar sobre gratidão

Ser grato é uma das atitudes mais sublimes que podemos cultivar. Não estou falando somente da gratidão pelo emprego que temos, pela família, pela saúde. É ser grato pelas pequenas bençãos do dia a dia, pelo fato de acordarmos, de encontrarmos com uma pessoa, pela natureza, pelo fato de vivermos em determinado lugar. E principalmente, sermos gratos pelas oportunidades, pelas experiências, nem sempre boas, mas que nos ensinarão a lidar com a vida, nos deixarão mais fortes, nos trarão aprendizado para a vida.

Precisamos falar sobre a felicidade

E assim, precisamos parar para pensar e agir daqui para frente usando, de fato,  tudo que a vida nos imprimiu na nossa bagagem de experiências. E juntando tudo isso que escrevi acima, é que poderemos entender o que é felicidade. Não, desculpa a quem não percebeu isso, mas felicidade não é uma coisa que possamos pegar com as mãos, guardamos no bolso e passarmos o resto da nossa existência com ela nas mãos. Não seremos felizes depois que comprarmos a casa, que fizermos a viagem dos sonho, que casarmos. Felicidade é poder estar lendo esse texto agora, é ter um dom, é saber apreciar um aperto de mão, um por de sol, o sorriso de uma criança.  Felicidade, em resumo, é um momento, que somados às nossas atitudes frente à vida, nos dão a sensação de ser plena ou não.

Para finalizar

E como vocês podem ter notado, tudo é um ciclo vicioso na nossa existência. A maneira como lidamos com nossa vida, com nossas perdas, escolhas, saudades. Como trabalhamos com o amor, a gratidão e a felicidade. A atitude que temos frente a cada situação nos marcará para sempre. E como uma bola de neve, o amor gera amor, o perdão gera perdão, a felicidade gera felicidade…

Só temos bons momentos na vida? Claro que não. Mas a maneira como encaramos isso é que nos garante a capacidade de viver plenamente, com força e coragem para lidar com os desafios, vencer nossos limites e brindar nossas vitórias (que pode ser até a superação de uma perda).

Assim, com esse balanço, com esse olhar para trás e o entendimento que tudo faz parte de nossas escolhas, da maneira como vamos lidar com os problemas e como brindaremos nossas conquistas, e qual será nossa energia nessa vida, desejo a todos um feliz ano novo! Não só 2017… mas todos os anos que ainda tiverem para viver!

Zái Jián!

 

11 pensamentos sobre “Precisamos falar sobre…     

  1. Olá Christiane,

    Sua reflexão é maravilhosa. Obrigado por compartilhar um texto tão doce e cheio de positividade e sensibilidade.

    Estou num momento especialmente feliz da minha vida. Cheguei na aposenradoria, após tantos anos “realizando”… Chegou a hora de desfrutar a satisfação de olhar para trás com orgulho e olhar para a frente com otimismo. Voei alto lendo e refletindo junto com você.

    Apesar de agora, aposentado, ser praticamente improvável eu ir trabalhar na China, tudo bem, continuarei viajando com você no blog. Ah, recebi o calendario! Obrigado.

    Feliz 2017, para você e sua familia.

    Muito obrigado Antonio Carlos Megda da Silveira

    Enviado do meu dispositivo Samsung

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    • Olá Antonio Carlos,
      Obrigada pelo comentário.
      Fico muito feliz que esse texto, meio desabafo, tenha te tocado.
      E mais feliz ainda que o calendário tenha chegado às suas mãos (sempre fico apreensiva com os correrios).
      Abraço e um novo ano de muita luz!

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