Aprender Mandarim/Blog/brasileiras pelo mundo/Cenas da China real/China/Cultura Chinesa/Curiosidades/Palestras e Assessoria intercultural/viver na China

 8 motivos para não mudar para a China

Para começar, preciso esclarecer uma coisa: sou uma apaixonada pela China e o objetivo desse artigo não é desencorajar ninguém que pretende viver do outro lado do mundo, mas somente mostrar que a moeda tem dois lados, sempre.

Acredito que podemos (e devemos) aceitar os desafios que a vida nos impõe da maneira mais natural possível. Como diz um ditado popular: ‘se só temos limão, então vamos fazer uma limonada.’ Não adianta reclamar da nossa sorte e destino, pois o tempo gasto com isso, só vai nos impedir de ver o lado bom e de tentar fazer nossa vida melhor. Lembre-se que a felicidade está dentro de nós, não nas coisas que nos cercam.

Foto de Fabiana Mori.

Foto de Fabiana Mori.

Vir para a China, no caso da minha família, foi uma oportunidade de carreira para meu marido e não pestanejamos. Somos otimistas e aprendemos, juntos, a lidar com as dificuldades e adaptação a nova cultura. Mas muitas pessoas me escrevem perguntando sobre ir ou não para a China. Aceitar ou não o desafio. Enfrentar ou não as barreiras culturais?

Só posso responder que isso é um fator muito pessoal, e depende das condições e da realidade de cada um. Mas uma coisa é certa: é uma montanha russa de emoções!

Por isso, resolvi elencar alguns pontos que farão você colocar na balança se a China é ou não é uma boa opção de lugar para chamar de lar. Sabendo das coisas que pesam e das que agregam (que escrevi aqui), fica mais fácil decidir.

O que enfrentamos na China

A poluição – esse é o fator número um para ponderar. Ela existe, é fato. Os índices são altos (alarmantes, muitas vezes) e quem vive aqui tem que conviver com isso. Muitas pessoas usam purificadores de ar em casa para amenizar o problema. Quem tem problemas respiratórios vai sofrer mais por aqui. Então se informe, saiba como lidar com esse fator que afeta toda a população.

Foto by pixabay.

Foto by pixabay.

O idioma – a segunda grande dificuldade de quem vem morar na China – pode ser a primeira também, vai depender de cada um. Se a cidade escolhida for Shanghai (Xangai) ou Beijing (Pequim) ainda dá para afirmar que o inglês te ajudará, ao menos, a conhecer alguém que te auxilie nos locais onde ninguém fala outro idioma além do mandarim. Dentro da bolha que vivem os estrangeiros nessas cidades, é possível frequentar escolas, restaurantes e comércio onde o inglês é usado diariamente. Fora isso, esqueça! Se saiu desses locais, piora muito o acesso a serviços em inglês. E não se iluda com a história de que a China é o centro da economia mundial, que o país está voltado para o mundo. Apesar de isso ser um fato, não significa que 1 bilhão e 400 milhões de chineses dominam outro idioma além do materno. E para ser bem sincera, os chineses possuem problemas de comunicação entre eles, já que, além do mandarim, o governo reconhece outros 55 dialetos.

Outra coisa que vivo escutando é a exclamação: – mas como eles não falam inglês? Eles deveriam falar! – E aí eu pergunto: – porque ‘deveriam’? Por acaso no Brasil as pessoas falam inglês em lojas, restaurantes, serviços públicos? Só para pensar…

Foto de Louiseanne Lima

Foto de Louiseanne Lima

A cultura e educação – esses pontos são fundamentais conhecer e entender: as regras são outras, os códigos sociais são completamente diferentes, a linguagem corporal é deles e por aí vai. Cospem no chão, escarram, arrotam na mesa, falam alto. Dizer ‘ok’ para um chinês, não faz sentido, bem como sair abraçando e beijando todos que encontramos pela frente.

Aí vem (de novo) as exclamações: – que povo mal educado! – Não, não são mal educados. São educados com outros códigos que nós não entendemos. Para eles mal educados somos nós. E ponto. Então, insisto, esse é um ponto muito sério a ponderar. Ninguém, nenhum ocidental,  nem brasileiro (em especial) vai chegar aqui e ditar as regras de educação que acreditam ser as melhores. Quando se muda para a China, devemos lembrar que nós somos os hóspedes, os intrusos. Aprender sobre a cultura é fundamental. Fica mais uma dica!

A comida – pessoalmente, gosto muito da culinária chinesa. Mas não é todo mundo que gosta. E hoje em dia está muito mais simples encontrar comida internacional aqui. Mas é cara, afinal são todos produtos importados. Novamente, viver na tal ‘bolha internacional’ facilita muito. Mas saiu dela, na maioria esmagadora das cidades de interior, vai ficar bem mais complicado encontrar produtos iguais aos que se consumia em casa. Tenha isso em mente.

Foto by pixabay.com

Foto by pixabay.com

A numeração – encontrar roupas e sapatos aqui é um martírio, principalmente se você não possue o corpo e os pés dos chineses! O M (médio) do Brasil é facilmente o XXL (2 x extra largo), Não se acha roupas para pessoas obesas, só mandando fazer. Com os calçados é a mesma coisa: quem usa mais do que 38 (europa – feminino) e 42 (europa – masculino), que correspondem ao 36 e 40 no Brasil, vai ter muita dificuldade de encontrar sapatos.

Somos diferentes – um outro fator que deixa muitos estrangeiro estressados, principalmente os que vivem em cidades de interior, é o assédio. Somos diferentes e isso é mais um fato que ninguém vai mudar. Eles pedem para tirar foto, gostam de tocar, riem de nós. Mas o que dizer de pessoas que nunca viram um loiro, ruivo, negro ou olhos azuis? Todos somos alvos de olhares e da curiosidade chinesa, Já escrevi em outros artigos que nunca passaremos despercebidos vivendo na China.

A internet é bloqueada – para quem não sabe na China existe a grande ‘China Firewall’, que bloqueia e controla todo o acesso a internet. Claro que os estrangeiros (e alguns chineses) acessam Facebook, Google e outros websites, através de um VPN. O que vai te custar algum dinheiro extra por mês e tornará sua internet bem mais lenta – é isso ou nada!

O regime de governo é ditatorial – Não se esqueçam que, por mais capitalista que possa parecer, a China é uma ditadura, com novos moldes, mas o governo é quem dita as regras. Estar ilegal aqui é quase impossível e as penas são duras – prisão, multa e deportação. As regras são para serem seguidas, e ser estrangeiro não dá nenhuma vantagem ou imunidade à pessoa: não cumpriu é convidado a se retirar do país na hora. Não tem jeitinho brasileiro, principalmente com o visto de permanência.

Então é isso: se está pensando em vir, venha sabendo (quase) tudo que te espera. Com conhecimento, fazemos escolhas mais coerentes e seguras. A China não é país para ‘tentar a vida’ ou se aventurar – apesar de que viver aqui é uma aventura diária!

Zái Jiàn!

*Esse artigo foi publicado originalmente no blog Brasileiras Pelo Mundo.

12 pensamentos sobre “ 8 motivos para não mudar para a China

  1. Parabéns pela matéria… muito honesta.
    No que se refere a internet, sou totalmente favorável a fiscalização do governo… nós ocidentais é que gostamos da internet “livre” para fazer o que quiser…a pornografia violenta e muitas outras coisas estão nessa “liberdade”

    Nenhum jovem chinês deixa de usar redes sociais, sites de streaming e tudo mais…

    Ponderando tudo o que foi dito, a China é o único país do mundo que me faria sair do Brasil…pela tecnologia, pela cultura milenar, e pelo povo maravilhoso.
    Chengdu, Chongqing e Xi’an estão na minha lista.

    Curtido por 1 pessoa

    • Olá Fernando,
      O problema é que o bloqueio inclui websites essenciais para nós, como google (e todas as facilidades dele, incluindo mapas e email), bem como alguns sites de universidade e serviços, alem das redes sociais. A nossa dificuldade com os serviços similares locais (que realmente substituem todos os nosso) é o idioma. Nāo sei ler em mandarim, o que torna tudo bem complicado.
      Abraço.

      Curtir

  2. Pingback: Pontos fortes e fracos de viver na China | China na minha vida

    • Olá Rafael,
      As informações que escrevi nesse artigo, perguntei ao Consulado brasileiro. A explicação que recebi é que a deportação implica em que o país que deporta, no caso a China, pague todas as despesas do deportado. E isso a China não faz. Aqui a pessoa é expulsa. E expulsão não obriga o país a arcar com as despesas de repatriação. Isso fica por conta de cada um.
      No final, o ato é o mesmo, mas juridicamente o termo utilizado faz toda a diferença.
      Mas se você encontrar outra informação, por favor, entre em contato. A intenção é que se divulgue informações corretas!
      Abraço.

      Curtir

  3. oi!
    realmente ir para ai, para viver não é fácil! tem de se ter conhecimento
    dessa realidade toda, e vc tem se saido muito bem, seus relatos são
    fantásticos!
    faz tempo que vc não conta suas aventuras, suas visitas e descobertas!
    beijo grande para vc e familia!

    Curtir

  4. Ótimo texto, Christine! As pessoas tem uma tendência um tanto estranha de, quando “gostam” de alguma coisa, acabarem sendo cegas aos problemas daquilo. “Amo Nova Iorque, cidade linda, maravilhosa, perfeita, sem problemas” err…. Em que mundo você vive? Isso se repete com qualquer cidade que as pessoas tem vontade de conhecer. Acho que elas ficam muito focadas em ler coisa sobre turismo, curiosidades, coisas boas, e se esquecem de que tudo na vida tem um lado negativo também. Aí chega lá, vê que as coisas não são só flores e falam mal até os cotovelos do lugar, sendo que a única pessoa “errada” é ela, que não se informou o suficiente. Espero que com esse post as pessoas passem a se informar mais, uma dica que eu dou é acompanhar jornais. Mesmo que a pessoa não fale mandarim, há portais online em inglês e até português. Com as notícias diárias, a gente vai vendo um pouco mais da realidade da cidade/país e, embora não seja uma realidade completa, é melhor do que ficar só lendo site de turismo.

    Curtido por 1 pessoa

Deixe uma resposta