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China e o nosso sentido de urgência

Hoje conversando com uma amiga que vai embora da China, depois de 5 anos por aqui, estávamos falando sobre o quanto viver fora do Brasil ( ou seja qual for seu país), sair fora da zona de conforto, do nosso quadrado, como quiserem chamar, pode influenciar nossa visão de mundo, da vida, nossos valores, necessidades. Nos modificar como pessoas de uma forma, que jamais alcançaríamos ou imaginaríamos estando no nosso lugar de sempre. Já escrevi sobre isso algumas vezes, mas esse texto – A difícil vida fácil de ser estrangeiro – resume bem.

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Quando resolvemos (ou a vida resolve por nós) que esse lugar de se abrir para o novo é a China… aí gente, todos esses itens que citei no parágrafo anterior ganham proporções tão gigantescas como tudo que envolve a China.

Aprendemos:

  • a ser pacientes como nunca – caso contrário se enlouquece;
  • a ser mal educado (ou mais diretos) às vezes – ou corremos o risco de não sermos ouvidos. Lembrem-se que estamos num país de mais de um bilhão de habitantes; podemos nos sentir, literalmente, como uma agulha no palheiro;
  • a ver o mundo em outra dimensão – quem aqui nunca disse para alguém que queria ver bem longe: vou te mandar para a China? Pois é. Mas aí descobrimos que a China é logo alí. E não há lugar no mundo que não podemos pisar. Acreditem.
  • a entender o que é multidão – sim, não é qualquer amontoado de pessoas que dá para chamar de multidão. Vem para a China que você perceberá isso rapidinho.
  • a não julgar as aparências – aqui é um dos lugares mais democráticos no mundo para cada um ser o que quiser, se vestir como dá vontade, pentear os cabelos de um jeito todo seu, usar o sapato que é confortável (ou não). Enfim, sem se preocupar com o que as pessoas vão dizer, pensar, achar. Isso é libertador!

E aí segue a lista que, de alguma forma, em outros artigos, já escrevi aqui.

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E papo vai, papo vem, e apesar de sabermos que para certas pessoas viver na China tem prazo de validade, caímos naquela coisa do que as pessoas celebram quando mudam desse país e das coisas de que sentem falta.

Com certeza vão celebrar a vida sem poluição, a internet sem VPN e a alegria de falar qualquer coisa e ser entendido (desde que o próximo destino não seja a Arábia Saudita). De uma maneira bem rasa, sem buscar filosofar sobre a questão, estas são reações quase que instantâneas.

Mas sentirão falta da segurança nas ruas, daquele item lá de cima: não ter necessidade de se preocupar com os outros, com o julgamento alheio, da liberdade, apesar de estarmos num país ditatorial.

Só que, quando já estávamos saindo, lembramos de uma coisa que pode parecer besteira num primeiro olhar, mas que afeta muito a adaptação e o recomeço fora da China: o sentido de urgência no cotidiano.

Sentido de urgência chinês

A China nos deixa mal acostumados, principalmente no que diz respeito a serviços. E quando saímos daqui, achamos que o mundo é assim… mas não é!

Mesmo eu quando vou de férias ao Brasil e preciso de um conserto em alguma coisa urgente – essa urgência tem que esperar uma semana; uma entrega ‘rápida’ – a rápida das rápidas são 7 dias ÚTEIS e assim vai.

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Aqui, seja pela demanda, pelo excesso de mão de obra, pela vida pulsante desse país, tudo se resolve num piscar de olhos. Não tem dia útil, qualquer dia é dia, com exceção do ano novo chinês e da semana da pátria (Golden Week, como eles chamam). Ahhh, e da hora de comer! Isso é sagrado para o chinês.

Querem ver?

  • Seu smartphone caiu e quebrou a tela? Em 15 minutos o técnico troca tudo e você sai falando com seus contatos do mundo. Vamos combinar que é mais rápido do que recarregar a bateria.
  •  Você quer um terno novo para a viagem de segunda-feira? Mas hoje é sexta… não tem problema, Corre até o Mercado dos Tecidos (Fabric Market) e um alfaiate de entrega em 48 horas. Se você levar o seu de medida, melhor ainda.
  • Precisa imprimir seus cartões de visita? Vai na gráfica minúscula que tem no fina da rua e em 10 a 15 minutos sai com mil cartões impressos, coloridos e com foto.
  • Compra algo do taobao (loja online)? Faz o pedido, paga e em 24 horas, na grande maioria dos casos, vai estar na sua porta. Eu já tive experiência de receber mercadoria em menos de 12 horas e sem pedir urgência.
  •  Quer fazer unha, cabelo, massagem? É só chegar… na maioria dos locais tem tantos funcionários, que marcar hora é desnecessário.

E aqui poderíamos listar uma infinidade de coisas do dia a dia que nos deixam muito mal acostumados. E, sim, a gente sofre quando sai daqui. Acho que não há lugar no mundo onde se tenha essa rapidez na prestação de serviços.

Engraçado como um país que tinha a fama de ser ‘zen’ no ocidente, seja por Buda, Confúcio, Tai Chi e tantas outras teorias, pode ser tão intenso, frenético, acelerado. De zen aqui eles não tem nada… ou tem, mas parece que deixaram meio de lado. Apesar de ainda vermos as pessoas praticando Taichi nas praças da cidade.

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E, apesar de nosso sentido de urgência para a vida ficar mais baixo quando percebemos o mundo ‘fora de casa’, o sentido de urgência no dia a dia que, muitas vezes, nem percebemos que temos vivendo aqui, grita assustadoramente por um bom tempo quando deixamos a China.

Mas, como tudo na vida, passa – assim acredito. E aprendemos novamente a se adaptar em outro local, vamos nos apaziguando, nos desacelerando. E esse sentido de urgência passará a ser  mais uma lembrança de como a China é peculiar, incomparável e incompreensível para quem não a conhece ao vivo.

Ainda bem que somos seres adaptáveis, não é mesmo?

O que achou disso? Já passou por experiências assim? Deixe seu relato aqui nos comentários. Faça uma pessoa feliz: adoro ter a interação dos meus leitores! =]

Zái Jián!

 

22 pensamentos sobre “China e o nosso sentido de urgência

  1. Pingback: Pontos fortes e fracos de viver na China | China na minha vida

  2. Perfeito Christine . Que saudades da minha quetida Shanghai. Meus melhores 5 anos de vida . Vivenciei tudo isto que voce descreve
    As vezes aprendemos ser vamos dizer mal educados ou melhor defender nosso espaco tambem. Uma vez fui fazer acunpuntura no hospital recem inaugurado no 9o ou 10o andar e descendo o elevador parou num andar e como eu estava bem na porta eu sai para os detras descerem e deixar os outros entrarem .resultado: nao consegui mais entrar no elevador . O povo que entrou e me deixou de fora . Demorei 10 minutos para conseguir entrar devido a minha gentileza 😂😂😂 . Depois fiz como eles . Na base do empurrão . Beijos

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    • Oi Mirtes,
      Não pude deixar de morrer de rir da sua situação e a cena se materializou na minha cabeça. Só quem vivencia isso vai entender…hehehe.
      Mas, como sempre escrevo, depois que passa a gente ri, e ainda divide a experiência com os amigos!
      Grande abraço.

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  3. Oieee…deve ser complicado mesmo vc ir p qquer lugar, pq não vai encontrar nd q se assemelhe ao “p ontem” q vc consegue na China.
    E tudo q é bom, vicia…vc não encontrar mais esse “imediato” é dificil de digerir.
    Bjs

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  4. Oi Christine! Eu até já sabia de certas coisas que escreveu e você só veio de fato dar confirmação sobre esse “bate pronto” dos chineses. Também entendia essa de tudo pra ontem pelo motivo do numero de pessoas que querem o seu lugar em qualquer coisa. A imagem ou impressão que eu tenho sobre a China é que se você faz corpo mole em qualquer coisa ou te mandam no ato embora já que tem uma fila de mil querendo o seu lugar. Há também toda essa facilidade exatamente por culpa do resto do mundo que usava a necessidade chinesa de suprir sua subsistência pagando mão de obra barata para fabricar quase tudo que temos no mundo, desde partes de maquinários, eletrônicos até embalar alimentos. Nesse caso quando os chineses tornaram-se especializados foi simples, para que construir para os estrangeiros se já sabemos como se faz? Façamos nós em maior quantidade e vamos tomar o mercado deles, foi simples assim. Hoje tudo que compramos pode perceber é só virar a etiqueta ou o fundo da embalagem e estará lá, made in China.
    Alguns ainda dizem que tais produtos são de qualidade inferior, porém mesmo que sejam você compra 50 deles e guarda e ainda sai mais barato que um “original” que não tem assistência ou quando tem o preço é a hora da morte.
    Nesse mundo atual onde o consumo é frenético e você compra um celular hoje que em 3 meses já está ultrapassado, qual a finalidade de pagar caro, vale mais um descartável. 😉

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    • OI Claudio,
      Mas te digo que a questão da qualidade aqui tem mudado muito. O próprio chinês não quer mais o produto ruim. Mesmo assim os ‘produtos nacionais’, muitas vezes cópias dos originais tem seu mercado garantido mesmo. E ne estou falando da cópia discarada, falo sobre a cópia de uma ideia com patente chinesa…rs
      Abraço.

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  5. Legal o post, Christine! Cheguei na China há 4 meses e me vi em tudo que descreveu! Aliás, relendo os textos agora, depois o ue cheguei, percebo que vc descreve muito bem tudo que vivemos por aqui! Grande abraço.

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  6. Gostei muito do texto!Resido há quase 6 anos na China e só o fato de pensar em voltar para “casa” seja ela qualquer destino me assusta, sim, pois Brasil não quero voltar tão cedo, só pelo simples fato SEGURANÇA, e de você poder viver tranquilamente aqui, mesmo que muitas vezes não te entendam, mas ainda há Boa vontade dos chineses em nos ajudar!

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  7. Oi Chris!
    Meu marido (chinês), mora aqui no Brasil a mais ou menos dois anos e meio e ainda não se adaptou com a demora de muitos serviços prestados aqui. Como eu apenas ouço ele falar da celeridade das coisas na China, não consigo imaginar como realmente sejam.
    Em uma das coisas que ele contou o que me chama a atenção é a falta dr humor dos brasileiros no final de expediente. Me corrija se eu estiver errada – mas foi o que ele me contou – que na China, mesmo que falte um minuto para o estabelecimento/comércio fechar eles te atendem com boa vontade (não te tocam da loja ou mandam você voltar no dia seguinte – como acontece aqui), porque segundo ele “chinês gosta de dinheiro” ele disse que isso acontece principalmente em shopping’s.
    Bom, desta forma acabamos sendo conhecidos como o povo que não gosta de trabalhar, já que tudo fecha mais cedo aqui (já que ai funciona quase 24h), e aqui final de semana é “sagrado” e quase nada funciona/abre.
    Eu concordo que mereçamos folga/dia de descanso, mas concordo que se as coisas fossem mais céleres todo mundo ficaria mais feliz! Enfim, questões culturais. Quem sabe possamos um dia aprender que são os consumidores que movem tudo relacionado a produção e serviços.

    Ótimo texto!

    Beijos :*

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    • Olá Joyce!
      Muito obrigada pelo seu comentário. Bem legal… mostra que essa é a realidade. E aquestão das folgas, aqui existe sim, mas como eles não são cristãos , não há essa necessidade do domingo como dia de folga, então as folgas são escaladas pela semana toda, entre os funcionários, e aí sempre funciona tudo.
      haha e imagino o desespero do seu marido.
      Abraço.

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  8. Me identifiquei 100% com o texto! Depois de quase dez anos morando na China, quatro anos atras mudamos para os EUA. Em relação segurança não podemos reclamar, muito pelo contrário! Mas a “instantaniedade” chinesa realmente faz muita falta!!! Mas como foi dito, o ser humano se adapta, ou readapta, mais cedo ou mais tarde. 🙂

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  9. bom dia!
    muito legal o post!
    espero e desejo que vcs fiquem por ai o tempo que quiserem!
    que continuem vivendo e aprendendo cada vez mais!
    amo o meu País, mas infelizmente, as coisas por aqui não estão nada boas!
    beijo grande para vc e familia!

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  10. Meu esposo é chinês, e uma das coisas que mesmo morando aqui no Brasil por 5 anos, continua reclamando é sobre isso. Sempre diz que na China tudo é rápido, que aqui tudo demora, vive reclamando das caixas do supermercado, falando q na China é rápido…. kkkkkkkkkkkkk

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  11. Bom dia
    Sou um ser curioso no que tange a vida, mas quando lido com informacoes diarias do Mundo, tenho como referencial o meu pais ? E sim o meu pais assim como qualquer cidadao. Costumo conversar com muitas pessoas de varias nacionalidades, por costume de atividade profissional pois estou agente de viagens e em assim sendo ouco muitas historias. Acabei de ter noticias sobre a costa oeste da Africa, tendo o Senegal como fulcro,e acompanhando o relato de dois surfistas negros que fizeram um documentario das praias e populacao local, e se compararmo com outros paises e costumes, diremos que sao tribais por opcao e costumes, mas nao barbaros como os ocidentais, tem uma simplicidade sadia e nao neurotica em realcao a ambicoes que na minha visao sao desnecessarias e maleficas, sao um povo alegre e festivo. Ja pelo seu relato de vida na China onde mais de um bilhao de almas procuram por uma urgencia necessaria, talvez pela urgencia da sobrevivencia e a consciencia do tempo que mostra a curta trajetoria vital do ser humano, entao creio que a Inteligencia Superior criou um desafio para estes dois povos, ao se fazerem socios numa parceria sabia, onde serao questionados tempo e o estar feliz por nao ter a consciencia imediata do tempo de vida, porque tudo o que se precisa estar ali celebrando o fenomeno de se estar vivo e sadio. Onde cabera a indagacao. Quem esta certo e quem esta errado, se e que cabe a comparacao, ou se a paciencia ZEN chinesa, sera capaz de transmitir um conhecimento do fazer e construir manufaturas tao necessarias para um mercado de consumo mundial. So o tempo dira.

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  12. Seu post me fez lembrar o dia que cheguei na China para morar era dia 28 de dezembro um domingo a noite e a casa estava sem aquecimento central . Meu marido ligou pro condominio que em alguns minutos enviou 4 chineses que entraram juntos , olharam td juntos e nao resolveram o problema . De madrugada meu marido acordou com uma ideia na cabeça e foi ver o quadro de luz e ual deu certo kkkk.

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