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China na NOSSA vida: A relação com os chineses

Como sempre digo por aqui, a vida nos dá presentes de vez em quando que dinheiro nenhum no mundo pode pagar. E hoje foi o dia de receber mais um desses ‘pacotes’ especiais recheados de amor, carinho, alegria e gratidão.

De todas as coisas que a China colocou na minha vida, as pessoas que conheci (e ainda conheço) são as mais preciosas. As experiências vividas, o que cada uma delas me ensinou, as trocas de informações (que às vezes podem parecer banais para quem está fora do contexto China, mas aqui são essenciais para a sobrevivência), os ombros amigos para nos suportar numa fase nem tão boa, num momento de dúvida ou saudade… isso tudo, gente, é impossível de explicar com palavras, da forma que possam captar o tamanho e a importância dessa interação.

E ontem, ao abrir a fanpage no Facebook, me deparei com a mensagem da Daniella Toledo. Juro que me emocionei e pedi a ela se poderia publicar aqui no blog. Afinal, quem não gosta de receber um feedback desses, onde podemos perceber que nosso trabalho fez a diferença na vida de alguém?

E para me deixar mais feliz ainda, a resposta veio assim: – Claro! Seria uma honra pra mim! Te admiro muito e seu blog tem me ajudado demais nesse período de China! Aliás, se não fosse o China na minha vida eu nem teria conhecido o Cedric. Ou seja, podemos dizer que você mudou minha vida!😍

Felicidade e gratidão define minha reação ao ler isso!

Sobre a Danielle

Bom, para ser sincera, eu ainda não conheço a Dani ao vivo e à cores… isso vai ser resolvido logo, logo.

Mas nossa história começou logo que ela chegou aqui em Shanghai, e leu um artigo sobre o trabalho voluntário que as brasileiras fazem em prol da Baobei Foundation. Ela visitou o site da fundação e ficou encantada. Me escreveu para saber como poderia ajudar.

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Coloquei ela em contato com a Cida, uma brasileira que organiza o bazar da comunidade brasileira (veja aqui). Mas a Dani queria mais. Entrou em contato com a diretora da Baobei, Evelin Tai, e se ofereceu para ser uma ‘healing home’, família de cura, literalmente. Resumindo, é cuidar de um bebê órfão assistido pela Baobei enquanto ele está se recuperando de uma cirurgia e/ou aguardando adoção.

E assim foi: ela se tornou ‘mãe’ do bebê, por alguns meses. E conheceu o amor incondicional de se cuidar de uma pessoinha linda, que depende da gente para tudo, e que nos confia sua vida. E ela fez isso muito bem.

O bebê foi adotado o mês passado por uma família americana e, não sem muitos sentimentos confusos, a Dani entregou o bebê ao seu destino, mas com certeza essa carga toda de amor e cumplicidade vão acompanhar essa criança para o resto de sua vida.

Mas vamos ao texto da Dani, que me inspirou a escrever essa crônica.

 Com a palavra, Danielle

“Quase 1 ano e meio da minha relação com os chineses em tópicos didáticos e auto-explicativos (ou não😂):

– Há mais de 1 ano somos ajudados por um chinês que resolveu nos adotar como amigos por um único e exclusivo motivo… Solidariedade! Ele traduz o chinês, faz agendamentos e nos salva dos mais variados perrengues sem ganhar nada em troca.

– Há algum tempo um chinês disse que não gostava de nós porque éramos muito escuros.

– Uma chinesa, ao saber que eu estava cuidando de um bebê órfão chinês, me olhou nos olhos, me deu um presente e me disse “você é uma boa pessoa”.

– Aquele mesmo chinês que não gosta da gente por sermos escuros também disse que achava ridículo estarmos com um bebê chinês.

– Eu tenho vizinhos que sorriem pra mim e seguram a porta pra eu passar.

– Eu tenho vizinhos que me ignoram.

– Algumas crianças, quando me encontram no metro ou no elevador, abrem o maior sorrisão.

– Algumas crianças, quando me veem, se escondem atrás de seus pais e ficam me olhando meio ressabiadas.

– Por falar em criança, tem umas crianças chinesas que eu acho bemmmm mimadas e sem educação.

– Mas outras já passaram por mais rejeição e dificuldades que muita gente vai viver durante toda a vida, e continuam sorrindo e confiando e sendo felizes.

– Aliás, uma criança em particular entrou na minha vida, me amou e confiou em mim de um jeito que ninguém nunca tinha feito antes e seguiu em frente, me deixando um monte de lições e um amor que nunca vai acabar. Ele chinês, eu brasileira. Mas éramos iguais no que importava. E fomos mãe e filho enquanto nos foi permitido. Só porque a gente precisava um do outro e queria estar junto. Quem se importa se nossos olhos eram mais ou menos puxados??!!

– Moral da história? Chineses não são nada além de seres humanos. Tem gente de todo tipo e cada pessoa tem um mundo dentro de si. Qual a faceta dela você vai conhecer depende de um monte de coisas, inclusive de você mesmo. Chineses não são porcos e sem educação, assim como nós não somos golpistas vulgares. Eles são culturalmente diferentes da gente e isso muitas vezes faz com que não entendamos seus hábitos, motivos, incoerências, assim como boa parte do mundo não nos entende. E aí julga só o que vê e o que se vê é tão superficial e pequeno e vazio. Menosprezar alguém só porque é diferente não tem graça, piada cheia de xenofobia e preconceito não tem graça. Mas morar na China tem! Tem graça, tem beleza, tem alegria e (principalmente) tem aprendizado!”

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Sobre a Baobei e as ‘Healing Homes’

Não poderia terminar esse texto, sem falar um pouco mais sobre as famílias que cuidam de bebês por um período, sem esperar nada em troca, somente o amor que vão receber de um bebê sem lar e, em muitos casos, com poucas esperanças de vida.

Graças à Deus a Baobei Foundation tem mais histórias de sucesso, de cura, de final felizes, do que de perdas. Mas a gente precisa lidar com isso. Cada bebê é sempre um novo desafio, uma nova dose de adrenalina.

Como já escrevi, há um grupo de brasileiras que realizam um bazar anual, onde vendem peças de artesanato (a maioria confeccionada pelo próprio grupo). Esse bazar geralmente custeia uma ou duas cirurgias para os bebês da Baobei. No ano passado (2015), o valor arrecadado foi de RMB 130.000,00 (cerca de R$ 75.000,00) em uma tarde de vendas e colaboração da comunidade expatriada em Shanghai.

A fundação precisa de muito mais para manter todo o aparato e bancar os custos de cirurgias e internações. Mas além de dinheiro, ela precisa de pessoas que  ajudem nas tarefas diárias, no cuidado com os bebês. Coisas do dia a dia mesmo, como emprestar um carro para levar um bebê à fisioterapia, ou buscar no aeroporto quando eles vem dos orfanatos, dar um descanso para as cuidadoras e por aí vai.

Nesse processo todo, as ‘healing homes’ são fundamentais para a engrenagem funcionar. Ao meu ver, essas famílias que ‘adotam’ esses bebês por um mês ou um ano, são mais do que especiais. Estão naquele nivel de desprendimento que não há palavras para expressar. Sempre, desde que me envolvi com a Baobei em 2009, são os voluntários que mais respeito e admiro.

E hoje temos bastante brasileiras fazendo esse trabalho que é puro amor e desprendimento, já que a China e o Brasil não possuem acordo bilateral para adoção. Essas famílias já sabem que vão amar incondicionalmente e depois entregar esse bebê à outra família que o adotou.

Então, encerro esse artigo, expressando meu respeito à todas as brasileiras que cuidam ou vão cuidar desses bebês, vão dar amor e receber em troca um sorriso de alegria e gratidão. Que vão, com certeza, receber mais que dar, pois é assim que a gente se sente no final. Celma, Alcione, Veridiana, Cida, Simone, Dani vocês são realmente pessoas especiais!

Dani, me orgulho de ter mudado sua vida!

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E não canso de agradecer a Deus por essas oportunidades que a vida (e a China) me dá!

Zái Jiàn!

23 pensamentos sobre “China na NOSSA vida: A relação com os chineses

  1. Oieeee…
    Q emocionante…amei o desprendimento da Danielle.
    Pq deve ser terrivelmente difícil, vc se dedicar a uma criança numa fase complicada p ambos e depois deixa-la ir para outro Pais, outra família, mas com certeza de dever cumprido, e q dever!
    Parabéns!
    Bjs

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  2. realmente precisa de muito amor e desprendimento!
    isso é viver a plenitude do que chamo de “UNIVERSO!
    beijo grande a todas ela e para vc e familia!

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  3. Obrigada por todos os comentários generosos. Eles me encheram de alegria! Obrigada mesmo! Sou muito grata por ser leitora desse blog! Acho que um dos grandes méritos do China na minha vida é usar a internet (tão usada pra disseminar coisas ruins) pra espalhar o bem, pra mostrar um olhar positivo e otimista, pra incentivar as pessoas a não se aterem às aparências iniciais e olharem além. A Chris não esconde as dificuldades de se viver aqui na China, não floreia a realidade. Viver aqui não é fácil. Viver no Brasil também não é. Aliás, VIVER não é fácil. Assim como conviver também não é. Lidar com as diferenças, fazer concessões, pensar fora da caixinha. Nada disso é fácil. Mas é isso que faz a vida ser tão incrível, é isso (e muito mais) que faz a vida na China ser tão incrível, é isso que faz o China na minha vida ser tão incrível. Parabéns, Chris! Mil vezes obrigada pelo bem que você fez na minha vida e na de tantas outras pessoas! Te admiro profundamente!

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  4. Linda história, exemplos como esses deveriam estampar nossos noticiários, o ser humano é tão generoso e bom, as vezes esquecemos disso. Eu acredito que são essas tarefas que dão sentido a nossas vidas, doação é um ato de amor e o retorno é mais amor, abç

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    • Obrigada pelo comentário Ana Carolina. Eu tenho uma teoria, que vai contra as regras básicas da matemática, mas é perfeita nesses casos que envolvem pessoas: a gente divide para somar/multiplicar. Grande abraço.

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  5. Chris!
    Que fantástico!!!
    E Dani, caso venha a ler os comentários: parabéns!

    Grande beijo, com muita admiração e vontade crescente de conhecer a China! 🙂

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  6. Trabalho maravilhoso . Espero que mais brasileiros se unam nesta causa seja trabalhando no bazar ou para o bazar , seja recebendo estas crianças ou fazendo o reike para ajudar na recuperação . Parabens a tds que ajudam a melhorar este mundo doando amor e trabalho

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  7. Querida amantes da China…. Parabéns pelos dois textos e pela
    generosidade ativa de vocês duas Dani e Cristina…..Além de dar os parabéns quero ter o prazer de conhece-las ao vivo e a cores ( se é que tem cores na poluição de Shangai . Acabo de chegar do Tibet, onde fui a convite do Governo Chinês ( 12 dias entre Lhasa e Beijing) . E estou quase pronta para ir passar mais 90 dias na China e escrever o livro quando eu chegar. Quero colocar vocês duas, no meu roteiro para a gente conversar sobre esses trabalhos sociais. Peço uma gentileza, preciso um lugar para ficar. Na peregrinaçào eu tenho de tudo: Albergue da Juventude, casa de amigas, mosteiros, couche surfing, quartos em universidade onde ensinam o portugues.
    Se possível, peço os e-mails pessoais para a gente conversar.

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