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Dirigir ou não dirigir na China. Eis a questão!

Uma das coisas que mais me incomodou quando mudei para a China foi o fato de não poder dirigir, ter minha própria autonomia, ser dona do meu nariz. Ao invés disso a empresa me deu um carro e um motorista. Para mim não, para toda a família.

Aí a gente chega do Brasil, onde cada um tem seu próprio carro, mal acostumada e acha aquilo uma loucura. Só que depois de algumas semanas, loucura mesmo me pareceu dirigir nesse lugar onde para se virar a esquerda, temos que parar na faixa do meio de uma avenida de quatro ou cinco faixas, ou mesmo com o semáforo fechado, virar a direita é sempre permitido. OMG! Isso me convenceu que seria mais prudente continuar do jeito que estava, até porque eu não teria outra opção. Ou era o motorista da empresa ou andar de táxi e metrô.

E essa proibição, dez anos atrás, se dava primeiro porque a empresa do meu marido não permite que funcionário estrangeiro dirija aqui na China. Isso foi colocado como cláusula de contrato com penalidade de demissão por justa causa. Reza a lenda (rs) que houve um expatriado que bateu com o carro, atropelou um chinês, que foi a óbito. O governo entrou com uma ação indenizatória e a empresa pagou uma verdadeira fortuna. Ao fazer as contas, chegou à conclusão que sairia muito mais barato pagar um motorista para cada estrangeiro, 24×7.

Liu, meu fiel escudeiro! =]

Liu, meu fiel escudeiro! =]

O segundo motivo, é que nenhuma carteira de habilitação do mundo vale na China. Nem mesmo a Internacional. Para dirigir na China você precisa apresentar sua habilitação do seu país válida e aplicar para o exame chinês. Se passar, terá sua carteira chinesa.

Bom, mas como essa opção não seria viável para nós, acabamos deixando de lado. E depois, apesar dos pesares, ter motorista tem lá suas facilidades. Às vezes fico meio assim, de ‘saco cheio’ (desculpem, mas não encontrei outra expressão melhor) e ele me deixa em algum lugar, eu pego um metrô e vou descobrir algo, andar com minhas próprias pernas, sem ninguém me controlando. Parem para pensar: o Liu (meu motorista) sabe mais da vida que meu marido! =O

Mas cada dia mais as empresas estão expatriando pessoas com pacotes mais enxutos, e um dos primeiros cortes foi o carro e motorista. Então hoje há muitos estrangeiros que dirigem aqui. Nos últimos cinco anos o número de habilitações concedidas a estrangeiros cresceu demais.

E o que precisa?

Para ter a sua Chinese Driver License, o interessado deve se dirigir ao ‘Public Security Bureau’ da cidade onde vive com seu passaporte original e cópia do mesmo (informações pessoais, visto de residente, página da última entrada no país), cópia da sua habilitação original, 8 fotos coloridas (tamanho passaporte), seu nome chinês (sim, você precisará de um) e sua altura.

Pagar as taxas e fazer um teste de múltipla escolha com 100 questões, das quais tem que acertar no mínimo 90! E por mais que aparentemente seja fácil, as provas que tem opção de serem feitas em inglês, é bem complicada. Até porque a tradução literal das questões e suas respostas esbarram no famoso ‘Chinglish’ e aí você se depara com questões absolutamente sem sentido. Conheço pessoas que precisaram aplicar 2 ou 3 vezes para conseguir a nota mínima.

Em 10 a 20 dias úteis sua habilitação chinesa estará em mãos, e você poderá se aventurar no caótico sistema viário chinês.

Prós e contras:
Sem sombra de dúvidas, a maior vantagem é sua autonomia. Um carro aqui na China não é caro como no Brasil (quase 50% menos em alguns casos).

As desvantagens: (sob meu ponto de vista)

• Uma placa de Shanghai pode custar mais que o valor do carro! Aí as pessoas emplacam o carro em cidades próximas (jeitinho chinês…), só que ficam sujeitas a uma espécie de rodízio, em que carros de fora de Shanghai não podem usar os elevados nos horários de pico.
• Precisa reaprender as regras de trafego, porque aqui elas são completamente sem sentido para nós, como citei alguns exemplos no inicio desse texto.

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• Se seu mandarim não for dos bons, que dê para discutir a relação, acho bem complicado. Porque aqui, quando um carro esbarra no outro, eles param no meio da rua, chamam a policia, que vem e escuta as partes e já decide quem é culpado ou inocente (caso não haja vítimas) e define quem vai pagar e o quanto para o outro. Se paga na hora, o policial emite um recibo e deu! Agora imagina numa batidinha com um estrangeiro quem vai pagar a conta? Se o seu mandarim for baseado no ‘nihao’ e ‘zài jiàn’, esqueça.

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• No livro que a Sônia Bridi escreveu quando morou em Beijing, ‘Laowai’, ela conta alguns apertos que passou. E já ouvi algumas histórias de que quando um chinês percebe que é um estrangeiro no volante, eles acabam jogando o carro em cima. Acho que isso já aconteceu bastante, mas hoje em dia a coisa está mais civilizada. Sei lá…
• As placas de trânsito, praticamente todas fora da zona de turismo, estão em mandarim. Aí ou o seu sexto sentido é afiadíssimo ou… Sabe Deus onde você vai parar!
• Fora os milhões de scooters e bicicletas espalhadas pelas ruas da cidade. Tudo bem que no tráfego eles respeitam a faixa exclusiva, mas nos cruzamentos… É um salve-se quem puder!

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Mas no final, nesses 11 anos de China, apesar de ter presenciado situações que se eu contar ninguém vai acreditar, eles se entendem. Digo que é o caos organizado. E, sinceramente, os acidentes que presenciei foram muito poucos frente ao quadro que se descortina a frente dos nossos olhos diariamente.

Para quem tiver interesse em saber mais, indico esse link, em inglês.

Zái Jiàn!

Visite o China na minha vida no IG – @chinanaminhavida e no Facebook.

Este texto foi originalmente publicado no blog Brasileiras pelo Mundo.

16 pensamentos sobre “Dirigir ou não dirigir na China. Eis a questão!

  1. Christine, assim que coloquei os meus pezinhos no 1º cruzamento, eu pensei “será que a Christine dirige aqui? Será, meu Deus?”. Hahahaha
    Esse questionamento se repetiu mais algumas vezes a cada tumulto nas ruas…
    Devo dizer que a decisão da empresa do seu marido foi bastante acertada!

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  2. Também fico com o Edson… meu sonho sempre foi ter um motorista para dirigir o meu carro popular! Mas aqui na China, nós não temos motorista. Temos que contar com táxi, metrô, ônibus, e agora o Uber – melhor opção. Mas o que me fez recuperar a sensação de autonomia perdida foi comprar uma bicicleta. Eu tinha muito medo, mas uma amiga que estava indo embora de Shanghai fez a maior campanha. Agora estou apaixonada por esse meio de transporte.
    Concordo tb que é um caos organizado. Como ninguém respeita as regras as pessoas dirigem para si e para os outros. Mesmo numa via de mão única, tem de olhar para os dois lados. Mesmo no sinal vermelho, tem de ver se alguém vai invadir. Olhar para todos os lados o tempo todo, seja motorista, pedestre ou ciclista.

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  3. Ola Christine
    Bom Dia/Boa Noite
    Texto bastante interessante, além de totalmente verdadeiro.
    De fato, você tem toda razão, pois dirigir na China, seja qual for o local, é bastante complicado e confuso, para os nossos padrões.
    Desde a minha primeira estada na China, após um dia de visitas, cheguei a seguinte conclusão:
    “DIRIGIR NA CHINA É SOMENTE PARA CHINES, NÃO SE ATREVA, VAI MORRER DE INFARTO”
    Tenho diversas experiências no transito chinês, urbanas e rodoviárias, mas sempre dá certo e as coisas se acertam, com isto aprendi outra coisa, que na China:
    “POR MAIS COMPLICADO E CONFUSO A SITUAÇÃO, FIQUE TRANQUILO, TUDO DA CERTO E SE RESOLVE NO FINAL”
    Quanto a dirigir, somente com motorista chinês, será muito mais seguro e a minha vida vale mais que minha liberdade.
    Grande Abraço
    Ramon

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      • É isso mesmo Joice. Eu estou ensaiando para uma bicicleta… Mas sempre fui tão distraída, mesmo dirigindo no Brasil, que tenho um pouco de receio.
        Mas nunca é tarde para repensar …rs
        Obrigada pelo seu depoimento de quem conhece a realidade chinesa! Beijo

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  4. A bem da verdade Chistine, é prudente sim a atitude da empresa e não por ser na China, mas acredito que deveria ser em qualquer país. Quando somos “estrangeiros” por mais tempo que estejamos naquele país os vícios culturais que carregamos não só ofendem como podem ser prejudiciais a nós mesmos.
    Um caso típico pode ser visto no Youtube onde um brasileiro que domina o inglês e vive nos Estados Unidos a bastante tempo, mas sempre voltando para o Brasil, compra uma moto e faz um vídeo. A princípio ensei que ele estivesse guiando em São Paulo por não ver muros nas casas, mas logo percebi que era na América. Ele como todo motoqueiro do Brasil forçava a passagem em altas velocidades entre os carros, usando o ronco do escape da moto até que um policial o cercou e ele parou.
    Desceu para meu espanto um senhor de uma moto que parecia ser a famosa Harley Davidson, mas era uma BMW, acredite, sem usar arma nas mãos como qualquer PM no Brasil que já enfia a mesma em nossa cara, ele pediu ao jovem a documentação da moto e dele, pois bem, com um inglês perfeito que para os americanos é primordial, disse ao rapaz:
    – Nós aqui na América não forçamos a passagem entre os carros, se alguém abrir espaço ai sim passamos. Também não é permitido trocar o cano de escapamento para um mais barulhento.
    O rapaz tenta se justificar dizendo que trocou com medo de sofrer acidente por não ser visto pelos motoristas.
    O policial ri dele e diz, seu inglês é excelente, mas de longe percebi que era brasileiro, pois somente os brasileiros agem assim aqui nas Américas. Veja meu jovem minha idade, minha moto, trabalho nela a mais de 30 anos em perseguições e situações perigosas, nunca sofri um acidente com ela. Aproveite que está em meu país e esqueça os hábitos ruins que aprendeu no seu, com seu belo inglês e aprendendo o respeito de nossa cultura será melhor visto por todos.
    – Passou-lhe uma multa de $50 e uma data para vistoriar a troca do cano de descarga na delegacia que o autuou.
    O que pensaríamos nós de bom senso?
    Bem o rapaz recebeu uma lição, vai trocar a peça e seguir os conselhos do velho policial, correto? Errado ele disse, vou trocar, pagar a multa e voltar a repor o cano como eu gosto. Depois quando é preso ou pega pena de morte ai até a presidente do Brasil entra para pedir perdão.
    Recado foi bem dado, “respeito as regras e hábitos daqueles que me acolhem” mesmo sendo estes algo estranho a mim.
    Fez bem em não dirigir na China assim como eu jamais dirigiria em países de mão inglesa, acho muito confuso. 😉

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    • Que história,Cláudio! Sinceramente fico muito triste de ouvir essas histórias sobre brasileiros e seu comportamento no exterior. Mas vamos pensar que são exceções…rs que sirva de exemplo, e possa inspirar pessoas a mudar sem precisar sair do país. Acho que isso explica um pouco toda a situação que estamos enfrentando hoje no Brasil. Como uma bola de neve, o jeitinho brasileiro de incentivar esse tipo de comportamento, de ser esperto, de levar vantagem sempre, vai crescendo e tomando proporções assustadoras!
      Abraço.

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  5. oi! bom dia por aqui!
    realmente, te confesso que dirigir não
    é o meu forte, e sempre falo que se ganhar na loteria
    terei um motorista particular! rsrsrsrsrsrrsr
    gostei! vc já publicou outras matérias a respeito e,
    como sempre, gostosas e interessantes!
    beijo grande para vc e familia!

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