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China na NOSSA vida: E já chegou a hora de ir…

De todas as coisas boas e diferentes que vivemos aqui, a melhor delas, sem dúvida, é conhecer novas pessoas. Muitas estavam tão perto de nós no Brasil, mas se não fosse a China, provavelmente não nos encontraríamos. E, sem falar das pessoas de outros países que hoje fazem parte da nossa vida, mesmo já tendo deixado a China. Resumindo entre brasileiros e estrangeiros, hoje temos amigos nos quatro cantos do mundo.

Mas… (sempre tem o mas, não é?) O mais triste de viver aqui é a rotatividade das pessoas. Poucos vêm para cá para ficar uma década, ou mais… A maioria vem com dia e hora de ir embora. E aí, quem fica, sofre e quem vai também. Geralmente aqui as relações são muito intensas, afinal estamos sozinhos, sem os familiares e amigos de anos. Assim acabamos criando vínculos afetivos enormes com algumas pessoas, famílias. Elegemos nossa ‘familia chinesa’. Aquelas pessoas que podemos contar nas alegrias e nos momentos difíceis.

Escrevi vários textos sobre essa ‘hora de ir’, que podem ser conferidos nesse links:

London Calling #3 by Thomas Leuthard

London Calling #3
by Thomas Leuthard

Mas esse mês, meu artigo inédito no WALL STREET INTERNATIONAL, também é sobre esse tema. Junho e dezembro são os meses mais dificeis, cheios de despedidas. Compensados por agosto e janeiro, que são os meses das chegadas, das novas amizades, para contrabalancear… A diferença é o peso na nossa rotina, pois quem chega é recebido de braços abertos, mas é uma relação se iniciando. E quem vai já tem um laço construído e, muitas vezes, muito forte. O fato é que essa ‘rotina’ dói, muitas vezes nos tira do prumo.

Então não deixem de ler o que escrevi na WSI, nesse link: Encontros e Despedidas.

Mas entre a lista enorme de despedidas desse semestre, dessa estação, li o depoimento da Andréa no facebook e me emocionei. Pedi a ela para publicar aqui, pois ela é uma pessoa que admiro muito, apesar de nosso relacionamento nunca ter sido muito próximo, mas é uma pessoa querida, pela sua serenidade, energia, o ‘santo que bate’, sabem?

E foi assim que ela se despediu de Shanghai, da China, a caminho do Brasil:

“Cheguei . E agora ? Vou fazer o que aqui ? Cadê minha mãe… Quero meu pai, minha família, meus amigos.

Meu guri com um ano já tinha um belo passaporte autorizando sua entrada em terras orientais.

Ásia, China, Shanghai. Serão só alguns anos, sobreviveremos.

Cidade grande, magrelo de cocóras na esquina, o cinto dando mais de duas voltas na sua cintura… A velhinha andando de ré, radinho de pilha pendurado no pulso.

O que eu estou fazendo aqui??? Mandar a roupa pra lavanderia virou a missão do dia, como falar essa língua?? Socorro, apertem a tecla SAP.

Ah, que bom, temos Carrefour! Legal é tentar decifrar os rótulos! E… Meu Deus!!! Tem um aquário no mercado?!? Tartarugas, sapos, e tofú fedido. A coisa é mais diferente do que eu pensava.

Mas o tempo passa, a gente se acostuma. O escarro na calçada agora já virou coisa comum, a massagem nos pés em qualquer esquina, a lojinha de DVD pirata! Ah, a China! Já começo a gostar daqui!

Um amigo australiano que vai, uma colega indiana que chega, os americanos tomando suas canecas de café na calçada enquanto o ‘school bus’ dos filhos não chega…

Luzes, buzinas, bicicletas, tuc tuc, gente, gente e mais gente.

Povo alegre, que adora ver e tocar o ‘laowai’ (estrangeiro). Motorista amigo, fofoqueiro, companheiro. Ayi amiga, mae, avó, futriqueira.

E lá estou eu, barriguda, parindo minha chinoca brazuca….

Festas, playdates, invernos intermináveis, tosses, poluição… E filtros de ar! Ah, minha Shanghai!!! Nunca imaginei gostar tando de você!

Amizades que ficarão pra sempre no meu coração.

Indonésia, Malásia, Singapura, Tailândia, Hong Kong, Cambodja, Japão…! É muita diversão!

Valeu enquanto durou. A festa, pelo visto, acabou.

Obrigada ‘Dona China’ por essa etapa na minha vida, na vida da minha família. Aqui nos tornamos mais unidos, aqui vi meus filhos conversando em mandarim, inglês e português. Com certeza carregaremos pra onde for tudo que nos foi dado por você.

Que delicia será te reencontrar, ‘Sr. Brasil’, sempre com a esperança de um dia te ver melhorar!

Que Deus nos guie na nossa viagem de volta, e toda nossa gratidão pela experiência vivida por aqui…

Até breve!

Zài Jiàn!

Namastê!” Andrea.

Essa carta foi copiada na íntrega, e acho que resume bem os sentimentos de uma família (a mãe em especial) que viveu aqui por muitos anos.

Andrea, o marido e os filhos: Eric e Bettina (a chinoca brazuca).

Andrea, o marido e os filhos: Eric e Bettina (a chinoca brazuca).

Andrea Ferreira Schumacher, é brasileira, dentista, viveu na China de 2008 a 2014, quando regressou ao Brasil com a família.

Fica aqui e, principalmente, no texto do Wall Street (link acima), meu ‘zái jiàn’ para todas as queridas amigas que deixaram Shanghai nessa temporada.

Ainda bem que hoje sabemos que o mundo é pequeno e que algumas horas de vôo podem ajudar a matar a saudade e a dar aquele abraço apertado em quem dividiu parte da vida conosco.

Todas as famílias que deixaram Shanghai agora, e as que deixaram antes disso também, foram para uma outra etapa, um novo desafio. Mas o que importa é que fizemos a diferença uma na vida das outras.

E digo, são amizades eternas. Para sempre nos nossos corações!

E para onde a vida nos levar… é para lá que vamos.

Sempre com o coração cheio de saudade, mas repleto de amor e amizades de verdade.

Zài Jiàn!

 

16 pensamentos sobre “China na NOSSA vida: E já chegou a hora de ir…

  1. Pingback: China – O aprendizado das despedidas | China na minha vida

  2. Lindo texto! Me emocionei!
    Depois que a gente sai de casa pela primeira vez, parece que passamos a viver com o coração também na bagagem!
    Sempre achei muito difícil me despedir das pessoas, mas agora depois de algumas idas e vindas, tenho ficado mais tranquila, esperando que seja só mais um ” até logo”!
    Beijos

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  3. oi!
    bom dia por aqui! não estranhe não ter comentado, acho que os dois ultimos post, mas com certeza li!
    minha reforma tá me ocupando, e estou cansado, pois ter gente estranha por dois meses já, é complicado! Tudo amontoado num quarto, não é fácil! Parece que esta semana acaba!………..Mas o que voce colocou, experimento aqui, quando me mudei para São Vicente, 1973! Fui para a Facu em Santos, e assim conheci muita gente, e acabei formando uma familia, que até hoje existe! Essa familia, é na verdade mais importante, com exceção de pai e mãe, do que a familia de sangue! São uniões fortes,muito fortes!…………..e muito bom, forte, é a amizade que sinto por voce e familia,que fomos nos conhecer e aproximar, com vcs do outro lado do mundo!
    …………..beijo grande para vc e familia! continue sempre, vc é ótima!

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  4. Nossa Christine, que post mais lindo e emocionante… fiquei com os cabelos do braço em pé! Conheço bem esse sentimento, não o de ter vivido na China, mas o da despedida de lugares que morei por certo tempo. Morar em outro país nos ensina tanto não é? Amadurecemos anos e anos em pouco tempo e conhecemos pessoas maravilhosas que levaremos para sempre no coração. Costumo dizer que depois que moramos fora do nosso país, o nosso coração sempre estará dividido! Um grande beijo para você 🙂

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