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China na NOSSA vida: Quando o estrangeiro se rende aos hábitos chineses…

Faz muito tempo que tenho dois projetos na gaveta (tem mais… mas vamos falar dos que estão se concretizando – rs), e parece que o ano do cavalo está me ajudando a colocá-los em prática, como por mágica! Mas segundo eu li, o ano do cavalo é o ano de colher, das recompensas. Na realidade parece que esse animal combina com minha filosofia de vida ‘planta e colhe’, nada mais simples e verdadeiro.

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Meu cavalo do IKEA, para manter a energia do ano em alta (vai que, né?) rs

Bom, o primeiro era escrever o que sinto, sobre a minha experiência de vida, os altos e baixos de ser estrangeiro, o que ganhamos e perdemos, o que aprendi nessa caminhada e acho que pode, ao menos, dar uma luz para os que estão no mesmo caminho. E isso começou com um artigo feito por acaso, à pedido do Filipe Teixeira no blog ‘O nome disso é mundo’, com um relato de uma mãe expatriada (rs). Mas esse foi somente uma participação especial, até porque o blog do Filipe é de podcasts e textos são exceções que ele faz em algumas situações. A concretização desse projeto está se dando, de fato, na revista Wall Street International, onde, quando fui convidada pela Stefânia, disse que escrever mais, e especificamente, sobre a China era demais para mim. O ‘China na minha vida’ e o ‘Brasileiras pelo mundo’ já eram suficientes! E aí falei para ela desse meu ‘sonho’, dessa vontade que tinha e não queria fazer em nenhum dos outros locais que já escrevo.

Para minha surpresa e alegria ela aceitou e acho que estamos indo num ótimo caminho. Ao menos são os feedbacks que recebemos que nos dizem: ‘continuem por aí’! E digo à vocês: quando recebo um comentário, uma mensagem ou email inbox, seja com elogios, críticas e/ou sugestões (ou tudo isso junto!) é uma sensação inexplicável. O feedback dos leitores é o que nos diz se o caminho que estamos traçando é o ideal, aonde precisamos parar, repensar ou simplesmente fazer pequenos ajustes.

O segundo projeto, é o de relatar histórias de outras pessoas que vivem ou viveram aqui. Por mais que eu conte as minhas, não vivo tudo que se pode viver. Afinal cada um passa por determinadas situações, baseados na sua realidade. As experiências de quem mora fora de Shanghai são demais, quem vem com filhos pequenos tem outras histórias, quem vai para a faculdade se dedicar integralmente ao mandarim mais outras. E assim vamos construindo nossa realidade chinesa. Sempre uso muitos exemplos de situações que outros me contam, às vezes para ilustrar uma passagem, ou explicar algo quase inexplicável para quem não conhece a China.

Além do mais, sempre percebo aquela interrogação na cabeça dos meus leitores: ‘mas será que ela está falando a verdade? Ou será que já enlouqueceu pela distância…rs? Impossivel não seria, mas tenham certeza que TUDO que escrevo é a mais pura realidade, por mais bizarro, incompreensível ou estranho que possa parecer. Por isso adoro a página do Facebook: como posto fotos diariamente, as pessoas que vivem aqui curtem, comentam, compartilham. E o melhor, ficam tão felizes que tem mais gente vivendo essa realidade (só quem está aqui para entender esse sentimento…hahaha) que me mandam fotos e mais fotos. Hoje uma grande parte das publicações na página do ‘China na minha vida’ no Facebook são de colaboradores que compartilham comigo suas experiências. Por isso sempre digo: AMO meus Colaboradores, e realmente não conseguiria manter a página sem a ajuda de cada um deles.

Aí um belo dia, do nada, encontrei com a Fernanda. Ela me perguntou se eu era eu…rs Isso sempre acontece (e acho o máximo!rs) e me disse: ‘se você soubesse o que tenho de histórias para contar…’ Claro que na hora a ‘campainha’ tocou e pensei: Meu Deus, isso é tudo o que eu preciso para começar o projeto ‘China na NOSSA vida’. E aí contei para ela da minha intenção ainda na gaveta. Claro que ficamos horas falando de tudo e de nada, porque acreditem… são tantas emoções (parodiando Roberto Carlos) em viver na China, que podemos falar sem parar e sem esgotar o tema por dias!

E para começar vou publicar uma histórinha curta, mas super interessante, das tantas que a Fernanda dividiu comigo em alguns encontros casuais e num almoço para lá de gostoso, onde nem lembro se comemos…rs. Depois disso decidi que precisamos organizar as ideias, porque senão vira uma confusão. E muitos outros almoços, cafés ou simples bate-papos ainda virão, pois ela realmente tem história para contar. E espero que muitas outras pessoas queiram dividir comigo alguma experiência interessante, algum fato que marcou sua vida na China.

Resolvi começar ‘pelo meio’ da história dela, para não matar ninguém com um texto imenso e, principalmente, porque essa passagem mostra exatamente o que venho falando há quase quatro anos de Blog: NUNCA diga nunca. Em especial se você vier morar num país como a China. E da mesma forma que hoje não vivo sem meu copo de água quente (hello??? Não sei como o ocidente ainda não descobriu essa maravilha…hahahaha), a Fernanda também se rendeu à cultura Chinesa, da maneira mais absurda para qualquer ocidental, mas que depois de nos vermos em situações inusitadas, passamos a olhar por um outro prisma.

Vamos lá:

Fernanda, o marido e o filho de 1 ano e sete meses mudaram-se para a China em 2005. Mas não para Shanghai… eles foram morar na China real, como costumo brincar. Ela loira de olhos azuis, com o bebê que puxou a mãe, imaginem o sucesso que fez em Jining, província de Shandong. Mas essa história da mudança vai ficar para depois.

Passado um tempo, ela engravidou novamente e teve seu segundo filho. Apesar de ter ido ao Brasil para o parto, fez todo o pré-natal em hospital chinês, na cidade em que vivia. Só por isso ela já tem meu respeito. Porque por mais chinês que seja o hospital em Shanghai, ele não chega perto do que é um no interior. E isso eu vivi em Chang Chun. Voltou para China quando o bebê tinha um mês e meio!

Tiago, outro menino, nasceu super bem, saudável, sem nenhum problema. Fernanda tinha uma ayi (empregada, babá) que era super de confiança e gostava muito dela e das crianças. Mas teimava em usar os costumes chineses na criação dos meninos e isso era motivo de algumas situações difíceis entre elas. Apesar de tudo, de não se conformar como os laowais (estrangeiros) criavam seus bebês, ela seguia as ordens da Fernanda em relação à comida, hábitos de higiene e outras coisas que envolvem os cuidados com os bebês.

Bom, mas no verão incendiário da China, porque aqui é um pais de extremos em tudo, até no clima, eis que o bebê contrai uma infecção intestinal daquelas. Com assaduras e diárreia constante, sem nenhum estrangeiro quase por perto, e no desespero de toda mãe quando se vê impotente diante de um problema de saúde dos filhos, ela olhou para a Ayi e disse: faça o que quiser!

E adivinhem qual foi a ação imediata da chinesa?

Isso mesmo: arrancou a fralda, abriu o gancho da calça do bebê (na realidade deixou ele sem usar nada no inicio) e em questão de 3 dias ele não tinha mais infecção, nem diarréia, nem assaduras! Imaginem a satisfação dessa pessoa, ao provar para a ‘doída’ da laowai que fralda não é natural para os bebês, principalmente no verão.

E assim foi que a Fernanda, meio anestesiada, teve a experiência de andar com o filho de bundinha de fora, como qualquer bebê chinês. Pedi à ela fotos dele, mas ela não tem. Me disse que talvez por vergonha, pois não se conformava de ter se rendido a um costume tão absurdo para nós ocidentais, e não falava isso para ninguém. Hoje, com mais uma bebê de 1 ano, o segundo (o da fralda) com 6 anos, e o mais velho com 11 anos, mais experiente e segura de suas escolhas, ela não se incomoda de contar e dividir sua experiência com outros laowais.

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Criança fazendo suas necessidades em Beijing (mas essa mãe ao menos colocou o saquinho…rs). a Foto é da Ana Paula Merchan, que me enviou justo quando eu estava escrevendo o post. Completamente providencial! hehehe

Na realidade a vergonha vem do preconceito que temos ao novo, ao que foge do nossa padrão do que é correto ou não. Santa maturidade, experiências bem aproveitadas, que nos fazem utilizar o que vivemos para nosso próprio crescimento.

Mas tudo tem um porque na cultura chinesa…

E esse é o caso das ‘bundinhas de fora’. Assim que os bebês completam 2 meses, dependendo da família e das condições da mesma, as fraldas já são deixadas de lado. No caso do Tiago foi com 5 meses, por questões de sobrevivência (da mãe!rs).

Só que não é bem assim como pensamos: deixa a criança de bumbum de fora e deu! Na realidade depois de cada mamada ou refeição (depende da idade) a criança é colocada em cima de um balde com as pernas levantadas, quase como de cócoras no colo do adulto (que geralmente é a avó). Isso vai criando o hábito. Quem estudou psicologia entende que é um reflexo treinado, como a experiência de Pavlov. Comeu, fez suas necessidades. Assim o organismo e o cérebro do bebê vai se acostumando.

Claro que, como a Fernanda relatou, nada é automático e para adquirir esse hábito os bebês fazem muita sujeira pela casa, pela rua, por onde passam e, como não poderia deixar de ser, nos braços de quem as carrega. Uiiii… Mas é assim que eles crescem, fortes e saudáveis.

Podem falar o que quiser, mas acho que aqui na China as crianças já nascem com uma boa dose extra de anticorpos.

Parabéns Fernanda pela sua coragem, pela sua decisão de enfrentar a China real há 10 anos atrás e obrigada pela disposição de me contar um pedaço da sua vida. Pessoas são presentes e você foi um dos que ganhei na China!

E em breve publicarei mais histórias da adaptação dessa família e de muitas outras que estão se disponibilizando para dividir comigo momentos que jamais imaginaram viver. E viveram, superaram e hoje podem até rir das situações que se encontravam.

Como sempre escrevo aqui: depois que passa, a gente ri! As vezes chora, outras ri e chora ao mesmo tempo, mas poucos se arrependem.

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Essa é a Fernanda com o Tiago (ainda bebê) no colo.

Sobre a Fernanda:

Fernanda de Lacerda Bregantim, é brasileira, dentista, morou na China de 2005 a 2009 na cidade de Jining, província de Shandong. Foi para a itália por 3 anos e já está novamente na China desde 2013, mas agora em Shanghai.

ZàiJiàn!

21 pensamentos sobre “China na NOSSA vida: Quando o estrangeiro se rende aos hábitos chineses…

  1. Pingback: A casa engraçada na China! | China na minha vida

  2. Olha só muito bom seu blog. Gostei de tudo eu gostaria de saber se era possível ter uma vida boa fora do país de origem.. E a china eu acho bem legal e um dia quem sabe não farei uma viajem a china e também poder compartilhar com todos aqui)

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  3. Oi Christine, tudo bem? Venho acompanhando o seu blog desde que recebi a notícia que irei morar em Shanghais em meados de Janeiro/2015. Meu marido recebeu uma proposta de emprego irrecusável e estamos indo eu, meu marido e minha bebê de 01 ano e 08 meses.
    Uma das minhas preocupações é em relação a saúde, se encontrarei bons médicos/pediatras, vacinas… Enfim, toda a assistência de qualidade que um bebê necessita.
    E também, tenho planos de engravidar em 2015 ou 2016… mas sobre o comentario abaixo: “Passado um tempo, ela engravidou novamente e teve seu segundo filho. Apesar de ter ido ao Brasil para o parto, fez todo o pré-natal em hospital chinês, na cidade em que vivia. Só por isso ela já tem meu respeito. Porque por mais chinês que seja o hospital em Shanghai, ele não chega perto do que é um no interior. E isso eu vivi em Chang Chun. Voltou para China quando o bebê tinha um mês e meio! ” ….me deixou preocupada….
    Se no Brasil, já somos muito exigentes com os cuidados do pré-natal e do recém nascido! Imagina em um país e cultura totalmente diferente do nosso.

    Bom, gostaria de conversar com você por e-mail 🙂

    Abraços e parabéns pelo Blog.

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    • Oi Elaine,
      Não se preocupe. Esse fato aconteceu há alguns anos atrás e, como disse: numa cidade de interior. Vc não pode imaginar como a China mudou nos ultimos 5 anos… E Shanghai é outra história. Procura no Google ‘United Family Hospital Shanghai’. Você vai ver que o que não falata é estrutura e equipamentos. Tem muita brasileira tendo filhos aqui. Vou te enviar um email e acalme seu coração. =]
      Abraço.

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  4. Oi Christine,
    Conheci a Fernanda em Jining no ano de 2009. Admiro a Fê, ela encarou e encara tudo com crianças pequenas lembro bem do Thiaguinho sem fraldas…Rs Ela tem muita coisa pra contar mesmo e adora uma conversa. Acredito que ela esteja aqui no Brasil em férias. Muito bacana esse projeto.Sucesso! Beijos e até!

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  5. Adoro suas postagens e fico imaginando como deve ser complicado encarar essas diferenças, principalmente com filhos pequenos.

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  6. Como sempre mais um post Interessantissimo,sem dúvidas que a Fernanda é uma guerreira,,com certeza eu também me renderia aos costumes chineses se necessário,,ou melhor já rendi-me,pois logo que cheguei na China me estressei muito com a escola da minha filha ,por não aceitarem que ela usasse brincos ,pra mim era um absurdo ,um grande preconceito ,,hoje tento entender melhor os costumes chineses.e é assim temos que levar a vida..nada é impossível.Parabéns Christine,,abraço.

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  7. Parabéns Cris pelo ótimo post!!
    Desejo mt sorte nesse novo projeto, tenho certeza que vai ser um sucesso haha.
    Ansioso pelas próximas histórias

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  8. …..fantástico! realmente o lance das fraldas no calor, tão simples! não se coloca nada e , estando tudo ventilado e seco, sem problemas!…..Incrivel o seu projeto, e acho que vai ser sucesso! Sabe que eu não sei mais como te elogiar, te cutucar e, assim sendo, agradeço poder te seguir e testemunhar esse crescimento!……….beijo grande para vc e familia!

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  9. Adorei a história dela!!! Cara, que louco quando somos forçados a “nos render” a hábitos que considerávamos surreais… Bom, Chris, você, que conhece parte da minha história, sabe que eu também me rendi a situações que considerava inimagináveis! Acho que é a vida! Cada dia, aprendemos algo novo!!! =)

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    • Obrigada pela visita Mariel…
      É… Mas a situação dela foi se render ao costume chinês. De não usar as fraldas e treinar a criança. Não acredito que ela deixaria o bebê fazer suas necessidades na rua, pois temos nossa cultura que sempre fala mais alto.
      Abraço

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