Anteriormente já escrevi aqui sobre as 56 etnias que formam o povo chinês, e entre elas existem algumas que são de origem mulçumana, já que a China tem fronteira com vários países mulçumanos.
De acordo com relatos sobre os chineses muçulmanos, a relação existe há aproximadamente 1.400 anos, através das rotas da seda e por meio do comércio e intercâmbios diplomáticos. Acredita-se que 2% da população da China sejam mulçumanas.
História
Durante as Dinastias Tang e Song, os contatos intensivos com a Ásia Central e Ocidental, trouxeram os primeiros grandes assentamentos muçulmanos na China, formados por comerciantes árabes e persas. Durante essa época a comunidade mulçumana estava bem estabelecida nas cidades portuárias de Guangzhou, Hangzhou, Chang’an, Kaifeng, e Yangzhou. A religião mulçumana era denominada ‘Dashi fa’ (lei dos árabes). Depois mudou para ‘Huihui Jiao’ (a religião dos Huihui).
Mas foi durante a Dinastia Yuan (Mongol), que um grande número de muçulmanos se estabeleceu na China. Os mongóis, por ser minoria na China, deram aos imigrantes estrangeiros (muçulmanos, cristãos e judeus da Ásia ocidental) um status elevado como parte de sua estratégia de governo, dando assim os muçulmanos uma grande influência e diminuindo a força da etnia Han (principal etnia da China).
Durante a Dinastia Ming, os muçulmanos continuaram influentes em torno de círculos governamentais. Nessa época foram autorizadas as construções de mesquitas em Xijing e Nanjing, e no sul de Yunnan , Fujian e Guangdong.
Mas nesse mesmo período, foi restringida a entrada de novos imigrantes mulçumanos. Os que já estavam na China assimilaram a cultura, falando dialetos e adotando nomes chineses. A arquitetura das mesquitas começou a seguir a arquitetura tradicional chinesa. E Nanjing se tornou um importante centro de estudos islâmicos. Eles receberam relativa liberdade por parte dos chineses, sem restrições colocadas sobre as suas práticas religiosas ou a liberdade de culto, o que não era permitido a outras religiões como a Budista e Católica, por exemplo.
A Dinastia Qing, por sua vez, lutou para exterminar os rebeldes muçulmanos, com a ajuda de generais mulçumanos que abandonaram sua religião e juntaram-se ao exercito Qing .
Na curta época da República da China, depois da queda da dinastia Qing, foi proclamado que o país pertencia igualmente aos povos Han, Man (Manchu), Meng (Mongol), Hui (Muçulmano), Tsang (tibetano) e Miao.
República Popular da China – Durante a Revolução Cultural cópias do Alcorão foram destruídas junto com templos, igrejas, mosteiros budistas e taoístas e cemitérios.
O governo começou a relaxar suas políticas em relação aos muçulmanos em 1978. Hoje, a comunidade mulçumana está experimentando uma recuperação modesta e já existem muitas mesquitas ativas na China.
Em abril de 2001, o governo criou a Associação Islâmica da China, que foi descrito como o objetivo de “ajudar a propagação do Alcorão na China e se opor ao extremismo religioso”.
Alguns exemplos das concessões religiosas concedidos aos muçulmanos são:
- Comunidades muçulmanas podem ter seus próprios cemitérios.
- Casais muçulmanos podem ter sua união consagrada por um ‘Imam’.
- Trabalhadores muçulmanos têm seus festivais religiosos (feriados) respeitados.
- Muçulmanos chineses também estão autorizados a fazer o ‘Hajj’ a Meca.
- Em áreas onde os muçulmanos são maioria, a criação de porcos não é permitida, em deferência às crenças muçulmanas.
Cultura e patrimônio
A interação é evidente no legado de ambas as tradições. Na China, o Islã influenciou a tecnologia, ciências, filosofia e artes. Em termos de cultura material, a arquitetura islâmica da Ásia Central e a caligrafia, bem como a cozinha chinesa do norte. Esta herança cultural multifacetado continua até os dias atuais.
Em chinês, a mesquita é chamado Qingzhen Si (清真寺) ou “templo pura verdade”. A Grande Mesquita de Xi’an ( estabelecido pela primeira vez durante a era Tang ) e a Grande Mesquita do Sul, em Jinan, cujos edifícios datam da dinastia Ming, seguem a arquitetura tradicional chinesa. Mesquitas no oeste da China possuem mais elementos tradicionais vistos em mesquitas de outras partes do mundo.
Alimentação
A cozinha muçulmana-chinesa adere estritamente às regras alimentares islâmicas, com carne de carneiro e cordeiro sendo o ingrediente predominante, mas herdou os diversos métodos de cozimento da cozinha chinesa.
Devido à grande população muçulmana no oeste da China, em todo o país existem pequenos restaurantes islâmicos ou barracas de comida típica, administradas por imigrantes do oeste da China (por exemplo, os uigures), que oferecem sopa de macarrão, cordeiro e carneiro (cozidos ou não). Alimentos preparados comercialmente pode ser certificado ‘Halal’ por agências autorizadas. Em chinês, ‘halal’ é chamado Qingzhen Cai (清真 菜) ou “comida pura”. Carne de cordeiro abatido de acordo com os rituais islâmicos também é comumente disponível em mercados públicos, especialmente no norte da China.
Shanghai
Há 20 dias fui visitar um reduto mulçumano em Shanghai. É uma feira de rua, que acontece todas as sextas feiras, ao lado de uma mesquita. Os produtos vendidos são carne de carneiro e cordeiro in natura, doces e massas (dumplings) com recheios que seguem a tradição islâmica.
Também há as barracas que vendem a comida pronta, para levar para casa ou comer no local. Além de produtos industrializados que atende as necessidades dos mulçumanos. Lá encontrei o tal ‘pão assado na lata’ que escrevi sobre ele nesse post, e que é tradicionalmente da região mulçumana.
Também visitamos a mesquita, e pudemos subir na parte destinada às mulheres. O que achei esquisito é que não nos pediram para usar o véu, que entendo com um ato de respeito aquela crença, apesar de não pertencermos a ela.
Mas o que mais me chamou a atenção foram o comportamento e as características desse grupo étnico. Muitos não têm os olhos tão puxados como chineses, pois devem ter a influência genética mais forte mulçumana, mas falam mandarim. Já os que são chineses característicos, mas usando as roupas mulçumanas, também soa estranho aos nossos olhos.
As embalagens, as placas dentro das mesquitas, estão escritas em árabe e mandarim. E entre eles, usam o dialeto que é uma mistura de árabe, com chinês e um ritmo que lembra o espanhol. Muito interessante.
As mulheres usam os véus mais fechados ou nem tanto, as roupas longas e largas. Não cheguei a ver nenhuma de burca. Mas o que chamou minha atenção foi uma que usava um gorro de lã embaixo do lenço, com a palavra ‘Jesus’ bordada. Claro que as letras do alfabeto romano não tem significado nenhum para ela (e nem para as centenas de outros que estavam a sua volta), mas foi algo que me fez parar e pensar no que aconteceria se ela soubesse que carregava o nome de Jesus sob os lenços mulçumanos.
Seguem mais fotos!
Zài Jiàn!
Curta a nossa página no Facebook! Só clicar aqui!
Pingback: Páscoa na China? | China na minha vida
Pingback: Curiosidades da mesa chinesa | China na minha vida
Pingback: Xi’an no feriado do Dia do Trabalho. | China na minha vida
Pingback: (Algumas) Crenças Chinesas. | China na minha vida
Pingback: China – A Celebração da Páscoa
Pingback: Óculos chineses. | China na minha vida
Oi Chirstine
A Grande Mesquita de Xian é fantástica. A visitei em 2011 e a mistura de culturas tão diferentes (chinesa e muçulmana) para mim foi muito marcante. A primeira mesquita que eu visitei foi na… China!
Recomendo a todos conhecer este lugar e todo o bairro muçulmano que a rodeia. Pura história.
Abraço
CurtirCurtir
Boa dica Arnóbio. Pretendo visitar Xi’an no próximo feriado, vou colocar no roteiro! =]
Abraço.
CurtirCurtir
Oi Christine
Eu escrevi dois posts sobre Xian. Dá uma olhada:
http://meusplanosdeviagem.wordpress.com/2011/07/02/tambores-e-sinos-xian/
http://meusplanosdeviagem.wordpress.com/2011/07/09/um-exercito-resgatado-e-os-muros-da-cidade/
Eu achei a cidade muito interessante e com muita coisa para ver, muita mesmo. Voltarei lá e para passar mais tempo na minha próxima vez na China.
Abraço
CurtirCurtir
Vou conferir… abraço!
CurtirCurtir
Que texto legal Chris! Cheguei a visitar umas cidades de maioria mulçulmana em Quinghai, mas nao conheci a area mulçulmana em Shanghai. Obrigada pelo tour virtual! Saudades de você! Bjos
CurtirCurtir
OI Camila,
Eu morro de vontade de conhecer aquela região!
Beijo e saudades também! =]
CurtirCurtir
Ótimo texto. Fiquei com vontade de comer o pãozinho.Rs
CurtirCurtir
Obrigada Rosana.
Em frente ao Fabric Market tem uns carrinhos que da para encarara, na boa! Hehehe
Recomendo. Rs
CurtirCurtir
Christine, como essa postagem é imbatível e eu só aprendi com tudo isso só posso dizer que essa sua REPORTAGEM foi espetacular.
Um abraço grande para vocês aí,
Manoel
CurtirCurtir
Manoel, assim não vale… vc me deixa muito mal acostumada! =]
Obrigada pelo carinho!
Abraço.
CurtirCurtir
Christine, parabéns! É maravilhoso o seu trabalho. Mas aquelas carnes ao ar livre… nãããooo!
CurtirCurtir
hahaha, Maria…
Vc já foi à Belém do Pará? Tam bém tem, igualzinho…rs
Mas realmente assusta!!!rs
Beijo
CurtirCurtir
Adorei o post, Christine! Chineses muçulmanos é uma coisa que realmente não passava pela minha cabeça. Bom conhecer esse lado da China.
Bjs,
Lu
CurtirCurtir
A China tem muitas facetas Lu, que ainda me surpreendem! =]
Beijo
CurtirCurtir
adorei o post! muito interessante essa mistura! me chamou a atenção uma foto da mesquita, pena que só dá para ver uma torre, mas parece ser algo bem moderno!
As comidas dever ser deliciosas! …………………um dia ainda vou ai!
beijo grande para vc e familia!
CurtirCurtir
Estou te esperando!!! rs
Beijo
CurtirCurtir
Adorei o texto, fui lá uns 3 meses atrás. Não deu para entrar na mesquita. Fiquei surpresa com as peles de animais expostas na rua e as carnes sem cuidado nenhum de refrigeração. Agora, o pãozinho lógico que não resistí, aliás comi na hora. Já comi também em restaurante “Uigur”, muito boa comida!.
Beijo!
CurtirCurtir
Oi Paola,
Eu fui com um grupo do Community Center Shnaghai. Talvez por isso tenha conseguido entrar.
E o paozinho realmente é delicioso! =]
Beijo
CurtirCurtir