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Livro: Contos Populares Chineses

Faz alguns anos que ganhei esse livro, e nessa semana ao dar uma organizada na estante, o encontrei meio que escondido num canto. Ele é quase um livro de bolso pelo tamanho, mas enorme em poesia e simplicidade.

E assim, folheei o livro, reli alguns contos e resolvi compartilhar com vocês.

O nome do livro é “O Tocador da Flauta Celestial e outros contos” – Contos Populares Chineses”. A seleção foi elaborada por Zhao Yanyi. A editora é a Landy.

É uma coletânea de 21 contos da cultura popular chinesa, cheios de passagens poéticas e linguagem simples. O editorial diz que é um resgate da história oral chinesa. A peculiaridade é que através desses contos pode-se conhecer um pouco de cada etnia chinesa, já que relatam a vida cotidiana, as superstições, crenças, costumes de várias delas.

Todos têm um ‘que’ de histórias da vovó, contos de fadas, e possuem algumas características semelhantes, como o inicio de muitos deles que é mais ou menos assim: ‘dizem que no tempo de antigamente, o céu e a terra não existiam e que também não havia nem plantas, nem homens…” ou “há muitos, muitos anos havia uma moça dongxian chamada Fatuman, cuja mãe morreu quando ela era muito nova…”.

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Um dos que mais gostei e, que na hora que peguei o livro nas mãos, me veio a lembrança imediata foi o conto “Os ossos do arroz”.

Conta à lenda de que há muitos, muitos anos atrás, havia um reino em que seus habitantes se alimentavam de casca de arroz. Isso porque eles achavam que a parte ‘dura’ do arroz, o grão, não era para se comer e chamavam essa parte de ‘osso’ do arroz, jogando sempre todos fora, depois que tiravam a casca, conhecida como a ‘carne’. E assim foi, até que um dia a rainha, que era muito má, discutiu com uma criada e a proibiu para sempre de comer. Os dias foram passando e a moça não suportava mais enfrentar as horas de trabalho sem nenhum alimento e decidiu lutar contra a morte anunciada pela fome. Catou os ‘ossos’ que eram jogados no lixo, cozinhou com um pouco de água e, para sua surpresa, encantou-se com o sabor e a textura do ‘osso’ amolecido.

E cada dia a criada estava mais bem disposta e corada, e acabou revelando aos demais criados, que durante à noite iam dividir os ‘ossos’ com ela. Até que a rainha começou a sentir inveja da moça, pela sua beleza e queria saber seu segredo. Bom, tanto ela pediu e a moça não contou, que um dia ameaçou mandar matar todos os outros criados se ela não revelasse o segredo da sua beleza. Desesperada, ela já estava quase contando para salvar seus amigos e teve uma ideia. Primeiro pediu à rainha que libertasse todos os servos do reino e assim ela contaria tudo. A rainha desesperada pela fonte de juventude, atendeu na hora e a criada contou-lhe que depois que ela iniciou o jejum absoluto por ordem da própria rainha, cada dia ela ficava mais bonita.

Tamanha a vontade da rainha de ficar ainda mais bela que a criada, que ela levou a sério o falso segredo e semanas depois faleceu. O rei por sua vez, como não tinha servos para cuidar dele, também faleceu.

A partir dai o povo Hani passou a cultivar e se alimentar do ‘osso’ do arroz, descartando a casca.  E, ainda hoje, quando se cozinha uma panela de arroz na China, essa lenda é lembrada.

Esse é um conto Han, e mostra bem a simplicidade e inocência de um povo com suas histórias orais, suas lendas e seus costumes que vão de geração a geração sendo contados, ensinando valores morais e eternizando a historia local.

Fiquei pensando se algum fundo de verdade havia nessa lenda sobre o arroz e o povo chinês… Será?

Para quem gosta de literatura, de conhecer um pouco mais as lendas populares, esse livro é um deleite.

Zài Jiàn!

10 pensamentos sobre “Livro: Contos Populares Chineses

  1. Boa Noite, li (só nao lembro a fonte me perdoe) que as crianças tem esse costume desde a dinastia qing. Utilizam essas calças, além de ser mais sustentável que as fraldas, elas tendem a fazer “suas necessidades” sob um comando e não a qualquer momento, como acontece com as que usam fraldas. Mas caiu em desuso em 1998 com a grande variedade de fraldas. Mas mesmo assim ainda tem gente que utiliza esse meio.

    Penso que seria parecido como no caso de antigamente usarmos fralda de pano que eram lavadas e reutilizadas antes do surgimento das fraldas.

    Ps. Estou estudando a indumentaria chinesa, obrigada pelo belíssimo blog.

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    • Olá Bianca,
      Obrigada pelo seu comentário.
      E realmente os hábitos que os chineses tem, e tanto nos espantam, em boa parte, vem de milênios… muitas coisas estão arraigadas ao inconsciente coletivo e não vão se instiguir tão cedo.
      Só discordo que elas cairam em desuso. Ainda são usadas (e muito) em toda a China. Talvez eles não usem mais em bebês pequenos, mas à partir de que começam a andar, junto com a fase de desfralde, usam essas roupas abertas. Facilimo de encontrar em qualquer loja de departamentos.
      E quanto mais ao interior formos, mais vemos as crianças usando isso, em 2018.
      Uma outra coisa que acontece muito, é a criança fazendo suas necessidades em livre demanda (rs) em suoermercados, shoppings, calçadas. Não há esse ‘comando’, na maioria das vezes.
      Definitivamente, não está em desuso esse tipo de roupa de bebes. Infelizmente.
      Abraço.

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  2. Caríssima,

    realmente essas pequenas histórias chinesas são fabulosas. Em minhas pesquisas para escrever o livro sobre Sun Tzu tenho me deparado com histórias realmente fantásticas, muitas das quais deverão ser aproveitadas de alguma forma.

    Quanto a este post seu, é mais um que vou guardar para futura referência. Mais uma vez, parabéns pelo blog e continue o belo trabalho.

    Abs!

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  3. oi!
    bom dia aqui! Calor, calor, calor…….adorei o livro, pois gosto muito de contos, populares e lendas! Tem coisas muito bonitas e, com certeza é uma maneira de conhecer as origens dos povos!
    ……………………beijo grande para vc e familia!

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