Esse livro foi aquele que você pega na mão, abre e pensa: não vai rolar. Uma edição muito antiga, capa dura, letras pequenas demais, páginas amareladas. Me lembrou uma coleção que meu pai tem (ou tinha) das ‘Seleções Readger’s’. E a autora, uma tal de Pearl Buck. Nunca ouvi falar. Mas como o livro foi muito bem indicado pela dona dele, a Liliane, e sei que ela lê muitos livros que eu gosto, vamos lá enfrentar a fera! Além de que tem uma histórinha super interessante: ela ganhou esse livro de uma senhora amiga quando se mudou para a China, que deu o exemplar para ela começar a entender a história e cultura desse lugar. Eu agradeço essa pessoa por tabela! =]
Bom, gente, antes de terminar o primeiro capítulo eu já nem ligava mais para as letras, para a página amarelada, simplesmente não larguei o livro até chegar ao final. interessantíssimo.
Primeiro porque nos situa em que condições politicas e administrativas estava a China na virada do século 20 e mostra como e porque o império foi enfraquecendo até acabar. Na realidade fiquei com a impressão que foi morrendo ao poucos, se esvaindo entre os dedos dos próprios nobres de então. Os bastidores do Império, as ‘puxadas de tapete’ de um ministro para aparecer mais que outro, a atitude dos que estão no poder que acreditam que estão acima de todas as leis, a falta de preocupação com os súditos em nome da ostentação e manutenção de caprichos inimagináveis. Isso te lembrou alguma coisa? Ah, vá? Gente, está ai a história que não nos deixa mentir. A politica não evoluiu! Continuam usando os mesmos artificias, as mesmas desculpas, as mesmas incoerências. Continuam cometendo os mesmos crimes de corrupção e suborno e colocando palhaços para distrair o povo. Isso é uma constatação triste. Estamos falando da história da China, no final do século 19, mas que poderia se encaixar em qualquer parte do mundo moderno, século 21.
Mas… vamos ao que interessa: o livro.
A ultima imperatriz, Cixi, na realidade nunca foi imperatriz de direito, mas era de fato. Ela era uma concubina do Imperador. Mas a Imperatriz só teve uma filha mulher, além de ter uma saúde super debilitada. Em contrapartida ela conseguiu (como só se vocês lerem…) convencer o imperador a deitar com ela, já que ele tinha tantas concubinas que muitas delas ele nem chegava a conhecer. A partir dai ela lutou para ser a preferida e dar ao império o seu sucessor. E conseguiu. E conseguiu muito mais, realmente governou a China por de trás do trono, literalmente.
Como quase toda pessoa com poder, as suas atitudes eram extremamente egocêntricas e cruéis. Na segunda Guerra do Ópio, o Palácio de Verão, seu refugio predileto, foi completamente destruído e saqueado pelos ingleses e franceses ( o que rende até hoje uma repulsa por estrangeiros, porque aquele ataque foi considerado uma humilhação). Quando os nobres chineses deram dinheiro ao Império para construir navios de guerra que pudessem enfrentar o inimigo, já que eles ainda usavam os navios de bambú, ela decidiu que queria um navio de mármore, aportado na entrada do Palácio de verão, para que ela convidasse as amigas para o chá em comemoração ao seu 60° aniversário. E o barco foi construído. Vi com meus próprios olhos! Só que a marinha Chinesa continuou fraca e desarmada. Mas o importante era a manutenção da ostentação do império.
Nessa época as coisas já estavam bem fora de controle, até porque ela já estava idosa e sem todo o ímpeto da juventude que a tornou uma das mulheres mais influentes da China, numa época em que ainda eram consideradas objeto de troca e boas parideiras se tivessem filhos homens.
Outra coisa super interessante são as descrições ricas em detalhes das roupas e das jóias da imperatriz. Ela tinha centenas de gavetas com suas jóias e em cada uma havia um jogo completo de adornos em ouro, prata e pedras: a diadema, brincos, pulseiras, colares, anéis e as unhas. E é dai que vem essa mania das chinesas de aumentarem as unhas e enfeitarem com brilhos, strass, etc etc etc. Só pode ser, né?
Depois de degustar essa história maravilhosa fui buscar quem era essa autora desconhecida. Só para nós (ou para mim, mas ninguém que perguntei a conhecia também). Ela ganhou o prêmio Nobel de Literatura em 1938, pelo seu rico e verdadeiro trabalho sobre a história da China e sua própria biografia. Quase cai da cadeira! E tem mais: possui mais de 100 livros publicados. Americana, filha de missionários, até 1934 ela passou boa parte da sua vida na China, tinha até seu nome em mandarim 賽珍珠Sài Zhēnzhū.
Ela foi exilada da China e até morrer em 1973 não recebeu autorização do governo da época para voltar, por ser considerada espiã imperialista. Morreu 3 anos antes de Mao. Hoje o governo está trabalhando para transformar a casa em que morou em Zhengjiang, próximo a Shanghai, num museu em sua homenagem. Seu livro de maior destaque foi ‘A Boa Terra’ que citarei em breve.
Hoje, com a China voltando ao cenário mundial, seus livros foram resgatados do anonimato, mas mesmo assim são poucos os títulos disponíveis no mercado, ainda!
Zài Jian!
Pingback: Livros interessantes sobre a China (parte 1) | China na minha vida
Li os livros da Pearl Buck na minha adolescência. Em Portugal fez imenso sucesso nos anos 60. Lembro-me de pormenores de vários livros: comparação das mãos fechadas dos bebés ocidentais e as mãos abertas dos bebés orientais, de sobrinhos a colocar ópio no chá do tio para ficar com a sua fortuna..mas já não recordo os títulos. Sei que fiquei fascinada até porque os meus primeiros amigos de infância eram netos de emigrantes chineses que viviam no prédio ao lado da minha casa na Baixa lisboeta, entre 1955 e 1959. Depois afastámo-nos.
CurtirCurtir
Olá Lourdes!
Eu adoro a Pearl Buck. Um dos livros dela que mais me marcou foi A Boa Terra. Tem resenha dele aqui no blog também.
É fascinante como ela narra a vida chinesa do final do sec 19.
Abraço
CurtirCurtir
Lindo esse livro há mais de 10 anos e até hje lembro de como era bom! Deu dó qdo acabei de lê -lo. Recomendo,realmente é ótimo!
CurtirCurtir
Obrigada pelo comentário Elisa. Realmente um livro que não queremos acabar…rs. Abraço.
CurtirCurtir
Pingback: Livro – A Imperatriz de Ferro – A concubina que criou a China moderna. | China na minha vida
Pingback: Beijing – Capital da China – roteiro de 4 dias | China na minha vida
Tenho quase todos livros da Pearl S Buck comprados na década de 60. Sempre fui fascinada pela China e agora vou ter oportunidade de ver de perto tudo que li. Estou com viagem marcada para Pequim no próximo mês e estou adorando seu blog. Parabéns!
CurtirCurtir
Obrigada Hiranita! Espero que goste e aproveite muito o passeio! Abraço.
CurtirCurtir
Pingback: A Cidade Proibida ou A Imperatriz Orquídea – livro. |
Pingback: As unhas das Imperatrizes Chinesas | China na minha vida
Gostei de seu blog! Quanto a Pearl Buck, foi febre na década de 60 aqui no Brasil qdo.eu fiz o ginásio.Todo mundo lia a autora. Só por curiosidade:Vc. é parente de um professor que tive na PUC cujo nome é João Theodoro d’Olim Marote? abraços
CurtirCurtir
Olá Carlos,
Obrigada pela visita!
Não, não sou… apesar de nos tempos de escola, todos acharem que teríamos algo em comum…rs… Afinal não é um sobrenome tão comum assim. =]
Abraço.
CurtirCurtir
Olá, tudo bem?
Caramba, eu comprei esse livro!
Só falta chegar HAHAHAHAHA
Olha como são as coisas da vida?
Estou ansioso, pois quero muito lê-lo.
China e Japão são minhas paixões.
Até mais =D
CurtirCurtir
Ah, tomara que chegue logo… eu adorei. Tem outras dicas legais de livros aqui no blog!
Um Feliz 2014!
Abraço.
CurtirCurtir
Olá Christine, adoro seu blog e seus comentários sobre esse lendário e antiquíssimo pais. Foi muito bom receber seu email pois apesar de gostar do blog nunca vou lá, seja por falta de tempo ou esquecimento mesmo. Hoje, último dia de trabalho do ano, resolvi dar uma passada e ao ler sobre Pearl S. Buck, enchi-me de saudades… Li vários livros dela. Minha mãe me recomendava e eu devorava com interesse seus romances que contavam histórias e mais histórias sobre a China. Não me lembro de mais nada, mas de uma coisa não esqueci… do nomes das chinesas que sempre queriam dizer algo mais, ou seja, tinham um significado. Eu achava lindo!
Obrigada por nos presentear com esse rico blog!
Feliz ano novo!
bjs da regin@
CurtirCurtir
Obrigada vc pela visita, Regina! E essa questão da intereção foi um dos principais motivos que me fez mudar de local o blog. Realmente a UOL é muito limitada em recursos para quem não domina os programas de web. Mas foi uma boa fase e me fez aprender bastante. Agora as pessoas podem assinar e receber o post na integra no email. Eu sei que isso vai facilitar a vida de um monte de gente…rs Eu, no final, também sou um pouco assim: tem blogs que amo, mas no corre, corre diário acabo não visitando tanto como gostaria. Espero que agora vc receba as atualizações e assim ficamos mais em contato. Abraço e um excelente 2013!
CurtirCurtir